Capítulo 9

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Padre Marcos

No último dia de missas, ao me despedir dos fiéis, me emocionei ao dizer que sentiria falta daquela paróquia da qual ministrava missas desde que tinha começado.

— Irmãos e irmãs. Quero que saibam que vou levar todos vocês juntos comigo onde quer que eu esteja e nunca vou esquecer de vocês, minhas ovelhas, meus amados e queridos. Dona Almerinda — disse, olhando para a senhora que me viu crescer e me tornar padre. — Que Deus a ilumine. A senhora tem um lugar cativo no meu coração e, claro, como disse, todos vocês. Eu vou ministrar missas em outro lugar, mais precisamente no Rio, para quem ainda não sabe, porque a missão de um sacerdote é difundir o evangelho e multiplicar as pessoas que creem no nosso salvador Jesus. É ensinar a terem fé, esperança e, mesmo aqueles que relutam em serem ateus, sei que no fundo creem em alguma coisa. Como eu sempre digo a vocês, sem fé não há esperança e sem o evangelho não há conforto interno e nem pão diário, nosso pão espiritual. Assim como disse nosso senhor e salvador, nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus. Eu vou com meu coração apertado, mas muito feliz, em mais essa missão eclesiástica. Muito obrigado a todos vocês que vieram se despedir de mim, obrigado pela confiança e admiração que eu sei que depositam em mim nesse tempo em que permaneci aqui, auxiliando-os a direcionar a vida de cada um. Que Deus abençoe a todos vocês.

Eu estava emocionado, e bateram palmas quando minha emoção não me permitiu mais falar.

— Foi um discurso lindo, meu filho.

Minha mãe disse depois que finalizei minha última missa. Estávamos na sacristia, e Padre Pedro entrou, abrindo os braços para me abraçar.

— Vai com Deus, meu filho. Que Deus te guie cada vez mais nessa nova missão.

— Obrigado, Padre Pedro — falei ao beijar sua mão.

— Vê se não vai se esquecer de nós, rapaz.

Ele estava prestes a irromper em lágrimas.

— Claro que não. Como vou esquecer do principal influente de minha vocação?! — Eu pus a mão em seu ombro, e completei: — Tudo que aprendi, eu devo ao senhor.

— Essas despedidas acabam com a gente — minha mãe disse.

— É, a senhora tem razão.

Assim que acabei de dizer aquela frase, Carmen surgiu na porta.

— Com licença, posso entrar?

— Entra, filha — eu disse.

Após ela entrar, ao se aproximar, beijou minha mão, e disse:

— Quero que o senhor tenha uma boa viagem. E vim pedir desculpas por qualquer coisa.

Minha mãe e Padre Pedro se entreolharam, e olharam para mim.

— Imagine, senhorita. Não precisa pedir desculpas por nada — disse sem jeito.

— Nós sempre precisamos pedir desculpas, padre. Boa sorte na sua missão e me perdoe por qualquer mal entendido. Bom, é só isso que vim falar. Tenham um boa dia.

— Bom dia, minha filha. Que Deus a abençoe — eu disse.

Após ela sair, minha mãe logo perguntou: — O que essa moça fez pra pedir desculpa assim?

Padre Pedro me olhou divertido.

— As pessoas cometem equívocos. Ela só veio se desculpar por um grande mal entendido, Dona Lilian, nada demais.

— Ela parecia tão triste, coitada! O que houve de tão grave, Marcos?

— Nada demais, mãe.

— Já percebi. Vocês não querem me contar, mas talvez eu já saiba o que seja.

Franzi o cenho.

— Deve ter ficado encantada com você. Não é por que você é meu filho, mas é um rapaz bonito, e claro que algumas criaturas doidas como essa não sabem diferenciar as coisas. Não é por que estou ficando velha, que sou burra.

Eu ri.

— Tudo bem, a senhora venceu. Não é certo se eu disser que a senhora não está falando a verdade. Mas já passou.

Ela fez um gesto negativo com a cabeça.

— Existem mulheres que não têm noção das coisas mesmo.

— É assim mesmo, mãe. A carência afetiva, principalmente a feminina, faz as pessoas tomarem atitudes precipitadas. Temos que tentar compreender.

— Tentar compreender o assanhamento de certas mulheres?! Você que é padre, pode ser mais compreensível, mas acho que isso tem outro nome, e chama-se vergonha na cara! — ela afirmou com humor. Padre Pedro e eu rimos, e ele disse:

— Mas, o importante é que nosso menino está preparado para esse tipo de situação — ele falou, ao bater de leve no meu ombro.

Minha mãe fez uma expressão divertida, levantou as mãos para o céu e disse: Só Jesus para ter misericórdia dessas criaturas. 

A Flor do PecadoWhere stories live. Discover now