Capítulo 13

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Padre Marcos

Nos dias em que se seguiram, voltei a minha esperada rotina de celebrar missas. Fundei um bazar beneficente, o qual incentivava as pessoas a doarem roupas e sapatos em bom estado. Com duas semanas que havia tido essa ideia, já havia conseguido muitas doações. Meus novos fiéis me receberam calorosamente e com empatia e aos poucos fui me habituando ao novo ambiente. Mas, mesmo com a receptividade, às vezes me perguntava se realmente estavam gostando da maneira como eu evangelizava. Afinal, o evangelho é capaz de nos mostrar uma luz interior e reacender nas pessoas o que às vezes estava apagado. Porém, apesar de minha insegurança, estava gostando do novo desafio.

Há uns cinco anos, já tinha ministrado na Praça Mauá, mas não era naquela paróquia. Foi assim que fui nomeado padre. Era uma pequena paróquia, situada próxima à Praça dos Estivadores. Foi uma experiência boa, mas com desafios como qualquer missão eclesiástica. Certa vez, quando ainda estava no seminário, um padre havia me dito que, quando nasce um novo sacerdote, nascem junto com ele muitas inquietudes e dúvidas de como irá ensinar o evangelho aos fiéis. Ele me orientou a pedir sempre inspiração a Deus, e que não bastava ensiná-los o que eu havia aprendido no seminário, eu teria que ir muito além ao pregar o evangelho de Jesus, como fizeram muitos de seus discípulos. Seria um aprendizado diário para toda a vida.

Após iniciar a hóstia, os fiéis começaram a se levantar e dei início à consagração. Era um domingo, e a igreja estava com um número considerável de pessoas. Fiquei feliz em poder constatar que desde que eu havia chegado, o número de fiéis havia aumentado. Agradeci a Deus em silêncio, enquanto distribuía o pão consagrado.

Ao terminar, dei início à liturgia e todos se sentaram. Ao ler a primeira linha e, em seguida, os fiéis lerem outra, minha visão foi rápida e precisa ao perceber no final da igreja a namorada de meu primo. Ela sorriu e sorri discretamente, enquanto o coro de música lia a segunda linha. Estava com um vestido elegante que ia até os joelhos. Seus cabelos estavam presos de forma displicente. Fiquei observando-a e surpreso comigo por ter ficado de repente muito tenso com sua presença. Na verdade, não sabia se era tensão, mas era algo estranho, além do que podia entender.

Meu corpo se encontrava em uma espécie de carga emotiva inesperada. Um sentimento misterioso tomou conta de mim. O que era aquilo? Respirei fundo e cheguei à conclusão de que eu não queria ser perturbado. Mas estava sendo.

Após o término da missa, como era de costume, os fiéis vinham falar comigo, me cumprimentar e pedir que eu fizesse batizados, ou apenas se despedir. Me sentia feliz por perceber a receptividade a um padre recém chegado. Acho que estava agradando. Notava que o ofício de padre permitia certa adoração das pessoas a um homem encarregado de direcionar de alguma maneira suas vidas, um tratamento como se fosse um semideus, que para mim era uma faca de dois gumes: por um lado, meu ego se envaidecia e por outro, não sabia se merecia. Dois "eus" disputavam dentro de mim.

Notei Gardênia sentada ao fundo, olhando-me, provavelmente preferindo aguardar boa parte dos fiéis falar comigo. Naquele instante, como a maioria já havia ido embora, quatro senhoras me rodeavam, uma delas querendo saber quando podia fazer o batizado de um dos seus netos, e enquanto os orientava, não perdia Gardênia de vista, então acenei para que ela se aproximasse. Ao me despedir das senhoras, esperei ela vir até mim. Pobre coração! Parecia apressado e rebelde, fazendo meu corpo sentir uma adrenalina muito perigosa.

— Padre Marcos! — ela disse, ao me cumprimentar, beijando minha mão.

— Como vai a senhorita? Como soube onde me encontrar? —perguntei, surpreso em vê-la.

Ela sorriu, e novamente me senti com aquela sensação do momento em que a vi chegar.

— É, foi um pouco difícil encontrar o senhor, mas uma menina que trabalha na padaria da sua tia me informou que o senhor podia estar celebrando missas no mesmo lugar de antigamente. Porém, depois outra moça me deu o nome da paróquia que o senhor estava, porque disse que não era a mesma de antes. Como eu conheço bem a Praça Mauá, não foi difícil.

A Flor do PecadoWhere stories live. Discover now