Capítulo 6

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Gardênia

— Boa tarde, Dona Zilda! — eu a saudei, enquanto entrava na cozinha.

— Boa tarde, minha filha.

— O que a senhora está fazendo de bom?

— Estou preparando o almoço.

— Nossa, que delícia! — eu disse, ao olhá-la preparando um frango à parmegiana.

— Acho que não vai dar tempo de eu comer. Vou dar uma saída.

— E o seu namorado?

— O que tem ele?

— Eu soube que ele arrumou a maior confusão esses dias por causa de um amigo seu.

— É. foi bobeira dele — disse, suspirando. — Tem café?

Ela fez um gesto coma a cabeça, apontando para a garrafa térmica em cima da mesa. Peguei o copo na pia e me servi. Ainda estava quente e fresquinho. Mas preferia o café de Seu Manoel.

— Gardênia, ele é muito ciumento. Você é muito paciente... — Dona Zilda dizia aquilo enquanto fritava os empanados. Ela era uma ótima cozinheira.

— Não é paciência, é amor, Dona Zilda.

— Meu Deus! Peça a Deus que ele mude.

— Eu vou pedir — concordei, bebendo meu café. Eu havia pedido muitas vezes, mas já estava cansada disso. Talvez ele me amasse muito. Era bom me sentir amada, ainda mais quando me sustento sendo uma boneca de carne quase todos os dias.

— Filha, você não tem medo de ele descobrir?

— Tenho, mas vou levando. Ele não iria me perdoar. Falta pouco pra eu sair dessa vida.

— Que Deus te ajude! Você é uma boa menina.

— Eu vou indo. Acho que vou ver meu pai.

— Seu pai mora aonde?

— Na Praça Mauá. Vou pegar minha bolsa. Até mais tarde — me despedi, colocando o copo na pia.

— Vai com Deus.

Meu pai era uma pessoa muito amável, sempre pronto a me compreender. Apesar de sua irresponsabilidade e ingenuidade por conta do empréstimo com o agiota, eu nunca tive nenhuma mágoa. Fiz o que fiz para salvar a ele e a minha família. Deus sabe o quanto tentei ir pelo caminho honesto, porém, esse caminho é muito difícil. Procurei emprego e fui a bancos com minha mãe, pois, na época, por ser menor de idade, não podia fazer empréstimos, mas sugeri a ideia a ela. Como garantia, pediam a casa de meus pais. Na época, ambos não eram separados. Eu cansei de vê-los sendo ameaçados, cansei de precisar comprar uma bolsa e não poder... São lembranças que não gosto de me recordar.

Ele morava em um quarto para solteiros na esquina com a Rua do Livramento.

Apertei a campainha. Logo ouvi passos descendo as escadas.

— Pai!

— Oi, minha filha. Entra.

Subi as escadas e ele me levou até seu quarto. Haviam outros no local. Senti um cheiro de comida, parecia feijão, vindo do corredor, e logo me descobri com fome.

— Gardênia, você sumiu. Pensei que tivesse esquecido o seu pai — ele disse em tom queixoso ao abrir a porta.

— São as ocupações, pai. Mas não faz tanto tempo assim — falei ao me sentar em seu pequeno sofá.

A Flor do PecadoWhere stories live. Discover now