Viver sabendo que seus passos são monitorados, e que há pelo menos uma dúzia de olhos te observando, esperando seu fracasso. É uma grande merda.
Ser filho de um Grão senhor para muitos seria uma honra, para mim é um fardo. Ainda mais de um Grão senhor que destruiu toda sua corte por amar uma fêmea a qual não o pertencia. Perdi a conta de quantas vezes ouvi falar sobre meu pai, o Grão-Senhor da corte Primaveril, e a Grã-Senhora da corte Noturna, a primeira Grã- Senhora que já existiu.
Não uma consorte, não uma esposa. Igual.
Conforme crescia comecei a entender muitas coisas. Uma delas o fato de não ter uma mãe. Tamlin nunca se apaixonou novamente, não depois de ter perdido sua noiva estimada. Aquela que ele trancafiou em sua casa. Minha mãe a qual eu não sei ao menos o nome, apenas 15 minutos após meu nascimento me embrulhou e me deu aos cuidados de uma serva. Há quem diga que o amor de uma mãe ultrapassa qualquer barreira. Não sei se isso é verdade. Mas duvido.
Não ter mãe, e ser reconhecido pelo seu pai somente como um herdeiro, aquele que conseguiria uma aliança com outra corte para estabilizar suas terras, é deprimente. Mas os planos mudaram, pelo menos para mim. O Grão Senhor nem imagina, mas esta noite minha vida esta prestes a mudar e não por um casamento arranjado, fugirei da Corte Primaveril com a ajuda do general de guerra de meu pai. Owen sempre amou seu cargo dentro da corte, se esforçou tanto para consegui-lo que me entristece saber pelos mau bocados que ele passará quando meu pai se der conta de que fugi na calada da noite.
Três batidas na porta, e eu reconheço minha deixa, meu momento. Já tentei fugir algumas vezes quando criança e em todas fui pego e castigado. Os arranhões em minhas costas e as marcas de corda em meus pulsos e tornozelos são provas disso. Mas nunca perdi a esperança de ser livre. Liberdade foi tudo o que sempre quis. Eu não me importo com títulos, não me importo se a corte primaveril não vai ter um governante depois de meu pai, mesmo sabendo que seu poder passara para mim. Eu não posso, simplesmente não consigo governar como ele tem feito durante todos esses anos. E eu certamente não vou me casar somente para agradá-lo.
- Kian, você tem 15 minutos para chegar à fronteira da Corte Outonal. - Sussurrou Sra. Lyly, mãe de Owen através da porta. - Apolo estará esperando por você, mas não demore menino essa é sua última chance.
Apolo Vanserra minha chance de sair daqui respirando.
No encosto da cadeira repousava uma bolsa somente com itens de extrema necessidade, não pensei muito. Só precisava sair com vida e depois tudo se resolveria mesmo com Tamlin me caçando pelos quatro confins da terra. Não posso desistir não agora. Jogo a bolsa por cima dos ombros, abro a janela de meu quarto e salto caindo direto em minha árvore favorita, aquela que tanto me amparou quando criança. Talvez, somente talvez, eu sinta saudade de casa.
Olhei somente uma vez para trás e pude ver a sombra de Lyly secando as lagrimas dos olhos, mesmo nos dias sombrios ela esteve lá para mim, quando cai ela me levantou. Eu não nasci de seu ventre, mas senti seu amor por mim todos os dias. E sou grato, sempre serei.
Deslizo pelo tronco da arvore e corro em disparada ate a fronteira, meu cérebro não conseguia pensar em nada a não ser a liberdade que me esperava. Se parasse um minuto poderia senti-la me abraçando. Corri tanto que algumas vezes cheguei a tropeçar nas raízes das arvores, mesmo conhecendo aquela floresta tão bem, ela parecia realmente assustadora ao anoitecer. Árvores e mais árvores a minha frente, quando finalmente avistei a caverna na qual Apolo me esperava, soltei lentamente o ar que prendia. Assim como sua mãe, seus olhos azuis quase cinza me encaravam, os cabelos vermelhos herança de seu pai caem em cascatas sobre seus ombros. Rapidamente ele tirou um elástico e sem muito esforço prendeu seus cabelos em um rabo de cavalo apertado. Logo me culpei por não ter pensado sobre isso, seria facilmente reconhecido com meus cabelos loiros soltos voando com o vento. Como se ele lesse meus pensamentos me jogou uma túnica preta como o anoitecer.
- Vamos tentar passar despercebidos Kian - Sua voz estava quase animada, Apolo não era um lutador. Ele era calmo, sempre foi o cérebro de sua família. Uma raposa inteligente.
- Aonde iremos após deixarmos a Corte Outonal? - Algo me dizia que eu deveria ter pensado melhor nos meus planos pôs fuga.
- Kian, só existe um lugar ao qual seu pai não entrara para te procurar, e eu duvido que o Grão Senhor da Corte Noturna te dará passe livre para andar sob suas terras, o filho do inimigo. - Não acredito que Rhysand me veja como inimigo, o vi somente algumas vezes em vinte e cincos anos, o que não e muito para nós feéricos.
- Eu posso implorar. - sussurrei mesmo não gostando de implorar abrigo ao Grão-senhor da Corte Noturna eu o faria sem pensar duas vezes, eu não posso voltar. Os olhos de Apolo brilharam e eu sabia que ele sentia pena, mas não me importei.
- Rhysand é um grão senhor correto, ele vai saber o que fazer Kian, e mesmo que ele não te ofereça abrigo quem sabe ele nos aponte outra saída. Mas lembre-se que ele acolheu meu pai, e desde então Lucien está com eles em Velaris. - Só de ouvir o nome daquela cidade me causava arrepios, Velaris a cidade da luz estelar. Uma cidade livre. Um povo feliz.
- Não me custara nada tentar, e é isso que vou fazer. Caso não me aceite, depois penso em algo. Agora vamos que logo Owen estará fazendo a patrulha não posso envolvê-lo nisso mais do que já fiz, custara muito a ele e a Lyly. - Apolo se abaixou para pegar sua bolsa quando ouvimos o primeiro rugido, poderia ser um animal, mas conhecendo minha sorte. Não era.
- Kian, corre. - Apolo rugiu, e saímos em disparada. A contar pelo ódio que Tamlin deve estar sentindo nesse momento não vai demorar muito para nos alcançar. E eu pedi a quem pudesse me ouvir por um milagre. Ele me mataria se colocasse as mãos em mim. Talvez a morte não fosse assim tão ruim. Entre galhos, folhas e raízes Apolo e eu nos enfiávamos cada vez mais dentro da escuridão e se eu não estivesse alucinando poderia jurar que uma sombra se mexeu bem na minha frente. Tropecei e quase cai de cara no chão. Mas logo me equilibrei e segui Apolo para dentro de outra caverna.
- O que faremos agora? Ele passará a noite toda nos procurando se for preciso, uma hora vai nos encontrar. Uma caverna é obvio demais.
Uma risada sombria e baixa rasgou a escuridão, e uma sombra tomou forma bem a minha frente. Dez centímetros mais baixa do que eu, uma fêmea vestida com algumas peças de couro preto me encarava com olhos azuis penetrantes, cabelos negros como a noite, longos quase alcançando a linha da sua cintura. Gloriosas asas Illyrianas se abriram atrás de suas costas. E por um minuto perdi a fala, ela era linda. Mesmo com todo aquele couro Illyriano e uma espada na bainha que faria qualquer um correr para o lado oposto, seus olhos eram como lagos de águas cristalinas e eu me permiti um minuto de distração.
- Cuidado para a baba não escorrer. - Ela me disse com um sorriso repuxando o canto de seus lábios e se virou para Apolo. - Acho que alguém apareceu para salvar o dia não é mesmo? - Fiquei ereto esperando Apolo responder. E mesmo sem nunca ter á visto antes, todos a conheciam. Vitani, a próxima general de guerra da Corte Noturna. Filha de Rhysand e Feyre.
Como Apolo não respondeu, ela levantou um dedo antes que ele pudesse responder. - Não a necessidade de explicações meu amigo, você saiu na calada da noite para resgatar o filho do Grão senhor da corte Primaveril, eu poderia aplaudi-lo pela audácia, mas se não fosse por mim, daqui a quinze minutos no máximo você estaria morto. - Mantive a compostura e a olhei diretamente nos olhos quando ela se virou e em seus olhos haviam chamas, ela com certeza estava se divertindo.
- Vamos embora - Ela disse sorrindo segurando nossas mãos enquanto sombra nos envolvia.
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Corte de Liberdade e Redenção
Fanfiction[ Concluído ] Kian é filho do Grão Senhor da Corte Primaveril. Vitani é filha do Grão senhor da Corte Noturna. Quando Kian finalmente consegue escapar da Corte Primaveril e do casamento arranjado que seu pai forjou se vê buscando abrigo nas mãos do...