Kian

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Ao chegarmos ao acampamento, olhares raivosos se direcionaram a nós como se estivessem nos esperando. Notei que todos estavam com as asas atadas. Sem comida, sem roupa. O rito de sangue deve levar o nome pelo tanto de sangue derramado, o que não deve ser pouco.

Vitani era a única mulher entre eles. Os guerreiros a observavam com desprezo, mesmo sendo filha de quem era. Talvez, somente fosse desprezada por acharem que ela tirava vantagem sobre isso.

Os Illyrianos se preparavam para partir, corri até Vitani que já se posicionará no meio deles.

- Boa Sorte. - Seus olhos vagaram até os meus e ela sorriu.

- Não vou precisar, mas obrigada mesmo assim. - seus olhos brilhavam em um azul cristalino, tão bonito.

A multidão caminhava em direção às montanhas cobertas de neve. A temperatura cairá pelo menos uns cinco graus. Mas a paisagem era bonita, mesmo que as estalagens dos guerreiros fossem simples, sem nenhum toque de amor nem decorações.

Enquanto eles caminhavam meus olhos seguiram Vitani até quando foi possível. Fechei os olhos e pedi que ela ficasse bem.

Virei-me e encontrei Cassian me encarando, olhei pela paisagem de montanhas irregulares cobertas pela neve. Os ringues ficavam bem próximos à moradia dos Illyrianos. Acho que eles se importam muito com o treino.

- Eu queria me desculpar. - As palavras saíram antes que eu me desse conta de que as proferirá. - Eu não quis... É só que às vezes perco o controle. - O olhar de Cassian segurava os meu, e ele apenas balançou a cabeça.

- Não pode temer seu poder, ou você o domina ou ele te domina. É assim que funciona não ha mais opções. E para o bem daqueles que te rodeiam, você precisará domina-lo. Estou aqui para ajudar a fazer isso.

Durante disputa com Cassian, ele não deixará a arma escorregar. Eu estava segurando a espada com minhas duas mãos ele era forte demais, veloz demais... não estava conseguindo acompanhar seus passos, foi então que minha outra mão se transformou em garras e sem que eu pensasse muito feriram bem o local onde os tendões de suas mãos estavam e ele rugiu. Ferindo cinco de oito tendões, sua mão perdeu o movimento por instantes, mas não antes de ele usar a outra mão livre para acertar um soco em meu estômago que me fez dar passos atrás. Achei que se ele soltasse à espada a luta acabaria, mas olhos de Cassian me mostravam que não então joguei minha espada na grama.

- Rhysand me contou sobre as circunstâncias que você passou na Corte Primaveril. Mas você só conseguirá se defender e proteger aqueles que ama se dominar todas as técnicas. - Eu sabia disso, mas nunca quis treinar. Quanto mais a raiva me consumia e o cansaço pairava sobre meu corpo. Mas o meu corpo implorava pela libertação da besta que habita em mim.

- Eu vou te ensinar, vamos treinar por quanto tempo for necessário. Mas não antes de um bom café da manhã. Caminhamos em silêncio até uma cabana, a mesa já estava coberta por vários tipos de alimentos.

- Você precisa aprender a manter seus pés plantados no chão, e manter os olhos em seu oponente não nas mãos dele, pelos olhos você descobrirá a decisão que ele tomar. Assim vai conseguir se prepara para o ataque. Lembre-se que um segundo de distração pode custar a sua vida. - Eu sabia que ele estava pegando leve comigo, mas do jeito que ele falou era quase como lutar com uma criança.

Comemos em silêncio, Cassian jogava várias porções dos alimentos em sua boca. Minha cabeça repassava tudo o que ele me disse. Mesmo sabendo que poderia ter lutado melhor, eu tinha medo. Um momento de descuido foi o suficiente para quebrar tantos móveis em nossa mansão na Corte Primaveril. Em alguns momentos eu não poderia me permitir ter esse alívio.

Cassian levantou da mesa, limpando sua boca com a manga do agasalho. Olhou para mim por cima de seu ombro sinalizando para que eu o seguisse. E assim o fiz.

Ao chegarmos a um dos muitos ringues que o acampamento possuía. Ele olhou para mim e começou a explicar.

- Primeiro, os seus pés tem que saber onde pisam para ter segurança nos movimentos. Seus pés são à base do seu corpo, então cuidado com eles. - Ele fez algumas manobras com os braços movimentando os pés, cada passo deixava clara a sua segurança

Pude perceber como movimentos eram elaborados em seus olhos antes de serem colocados em prática.

Quando o sol deixou o acampamento, Cassian me permitiu descansar o treino foi árduo. Ele sem duvidas era o melhor guerreiro que eu já tinha visto na vida. Não era atoa que Rhysand o colocara em sua linha de frente.

Caminhamos ate a pequena cabana em que passaríamos a noite. Ao entrarmos, encontramos duas figuras rolando pelo chão, distribuindo socos e xingamentos, alguns que eu nunca nem se quer tinha conhecimento.

Foi então que uma fêmea de cabelos castanho-dourados, olhos azuis acinzentados e pele pálida, caminharam ate as duas figuras que rolavam e segurou ambos pelo colarinho. Duas crianças de aproximadamente seis anos.

Uma fêmea de cabelos escuros olhos azuis iguais ao de sua mãe suas feições pareciam ser desenhadas a mão, ela parecia feroz. A menina lançou ao que acreditei ser seu irmão um olhar penetrante bem ameaçador para uma criança daquela idade e tamanho.

O macho tinha cabelos castanho-dourados e olhos castanhos com rajadas douradas em volta da íris. Suas feições assim como de sua irmã pareciam serem feitas com paciência para atingir a perfeição. Mas diferente do brilho gélido no olhar da irmã, o menino era puro fogo.

- Vou amarra-los a cadeira se não se comportarem. – foi então que percebi as asas atrás de cada criança, eles só podem ser filhos de Cassian. – Essa maldita ideia de treinar crianças, agora eles não podem discordar de nada que se atacam, como dois animais. – A mulher gritou para Cassin, que sorria.

- É necessário para aliviar a tensão Nestha, deixe os pequenos em paz, a propósito, esse é Kian. – Anotando seu nome rapidamente em meu cérebro, forcei um sorriso enquanto estendi minha mão para cumprimenta-la. A mulher apena acenou e então recolhi minha mão, pois ela não a aceitaria.

- Soube sobre o desaparecimento do filho de Tamlin, mas pensei que não estivéssemos envolvidos. Estava enganada. – Tinha algo nela, que me fez os pelos de minha nuca se erriçarem.

- Não estamos, alias, ele fugiu por sua conta e risco. – Quando percebi que Cassian olhava para Nestha, baixei os olhos para o chão. Alguns momentos não devem ser compartilhados. Nestha soltou as crianças que logo voltaram a correr pelos moveis da casa. Não se importando com a minha presença ali.

- Venha comer alguma coisa. – A cozinha bem simples, mas bem organizada. A mesa estava repleta de alimentos. Quando Cassian se sentou, copiei o movimento e me sentei em uma cadeira ao seu lado. A fêmea não tirava os olhos de mim.

- Você se parece muito com ele. – Foi à única palavra que ela proferiu antes de se voltar para seu prato já feito. Um tipo de sopa com pedaços de uma carne vermelha. Estava comum cheiro incrível.

Em silêncio me servi. Cassian e Nestha trocavam algumas palavras, mas minha atenção estava em outro lugar. Será que Vitani encontrou algo para comer, algum abrigo? – Não tive muitos amigos, somente Owen e Apolo. E sempre me preocupei com eles, não seria diferente com a pessoa que me resgatou, devo muito a ela. Sei que posso partir quando quiser, mas não tenho para onde ir, nem uma família pra quem voltar. Sem querer atrapalhar, perguntei a Cassian onde poderia descansar ele me indicou o terceiro quarto.

O quarto assim como o restante da cabana era bem simples, alguns cobertores repousavam sob a cama. Sentei-me em silêncio fitando a janela.

Eu não sei bem pelo que, mas eu esperava por algo. Por uma luz. Qualquer coisa, que me colocasse em movimento.

Repousei minha cabeça sob o travesseiro, a lua estava linda. Minhas pálpebras se fecharam lentamente enquanto um rosto conhecido tomava forma em meus sonhos.

Corte de Liberdade e RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora