— Cássio, deveríamos regressar. — sugeriu Romero, com insistência, ao sentir o bosque se fechando ao seu entorno.
O comandante balançou a cabeça negativamente. Já faziam três dias desde que o exército de Montemor se lançara à floresta, em busca do príncipe herdeiro.
— Nós não podemos, Romero. — disse Cássio após virar-se em direção do amigo — O trono de Montemor não deve permanecer vazio, logo agora que a rainha Crisélia se foi.
— Humanos são inúteis em um bosque com o cair da noite. — insinuou o homem calvo a frente do comandante, os dois em meio a tantos galhos que pareciam tomar formas irreconhecíveis ao entardecer.
— Está com medo das criaturas, Romero? — Cássio continuou a caminhar por uma das estradas de terra do lugar.
— Sabe o que dizem, um morto é sempre um morto. — ele o seguiu — Até que se levante e comece a perambular por aí.
O comandante, cujo o cabelo se aninhava em perfeitas ondas cacheadas, sorriu.
— Avise aos homens que retornem para Montemor. — Cássio prosseguiu — Irei ficar mais um pouco, talvez Afonso esteja mais próximo do que eu e você pensamos, Romero.
O outro cerrou um dos punhos, o batendo contra o lado esquerdo do peito, após uma reverência cordial, dispersando-se pelas matas a procura de seu cavalo.
Alguma intuição descabida em Cássio, o fez insistir, resistente em abdicar das buscas. Ele sabia da tragédia que estaria por vir, caso não encontrassem o príncipe.
Ao redor, o ambiente silencioso e crepuscular era afetado por apenas um som distinto, o crocitar de uma coruja. Cássio caminhou pela penumbra com uma das pernas lesionadas, acelerando os passos, os olhos atentos, a respiração mais agitada que o normal, o corpo quase vencido pelo casaço. Próximo a um tronco, avistou um pano, apanhando o tecido feito a lã, seguiu seu instinto, o rastro de terra diante de seus pés, pulou por cima de um dos troncos. A teimosia o levou até um homem abatido, caído de bruços sobre o caminho quase encoberto pela vegetação, o qual despertou sua aflição; não haveria de ser Afonso, seu amigo, quis acreditar. Um pé, após o outro, com passos hesitantes e falhos, o comandante o puxou pelos trajes. O aspecto do corpo, um pouco maior do que o esperado, os fios claros que restavam em sua cabeça, lhe deram a certeza definitiva de que não era o príncipe. O pareceu intuitivo, sem discussões: morto, ele detectou.
A pele pálida, os olhos leitosos, os lábios secos e as extremidades azuladas. Gelado, sem sangue algum. Já havia visto isso, algm dia, em torno dos seis anos de idade, soube como era aquela epidemia, mas não parecia se originar naquela região. A cor da roupa, Cássio logo constatou: soldado de outras terras. Pobre homem, não havia nada a ser feito.
— Algum problema?
O som do galope e a voz autoritária fizeram o comandante retirar a espada da bainha em sua cintura e voltar-se astutamente para o lugar de onde o ruído vinha.
No entanto, ao avistar a capa vermelha indicando a prevalência de Montemor, Cássio logo percebeu que era um do seus, e ao aproximar-se um pouco mais, guardando a arma, notou ser seu amigo, o qual retornara a seu favor.
— É apenas um homem morto. — tentou convencer a si próprio — não ousaria se levantar.
Ele recuou do corpo.
N O T A S
Primeira revisão do capítulo executada com sucesso. Amanhã darei mais atenção a essa primeira revisão, talvez acrescente alguns detalhes a mais. Não se preocupem, ficarão a par te tudo.A segunda ou demais revisões apenas serão feitas ao final da história.
Não esqueçam que todos os capítulos que possuírem esse símbolo "✔" já foram atualizados.
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O TRONO DE SANGUE - Afonsarina [REVISANDO / INCOMPLETO]
RomanceQuando o herdeiro de Montemor é atacado na floresta, ele faz um pacto para retornar a vida, assumindo a forma de um demônio. Tendo a princesa Catarina insistido em sua busca incansável pelo noivo, enfim, ela o acaba encontrando em uma cabana...