| Capítulo V |

1.4K 105 179
                                    

"Quando me afasto é porque quero que você se aproxime."

Desconhecido


Aquele amanhecer foi diferente de todos os outros, até mesmo o sol nasceu tímido. A dor envolveu o vento frio durante toda a madrugada e as lágrimas inundaram sutilmente as ruas estreitas de Montemor.

- Afonso está em uma reunião com o coselho da Cália. - Catarina acompanhava o pai pelos corredores externos do palácio, eles estavam se dirigindo para os portões - O rei de Alfambres não se pronunciou ontem, mas creio que ele tenha uma solução objetiva. Somente Artena não conseguirá reerguer Montemor em tão pouco tempo, ainda assim, Afonso tem os campos de cevada à sua disposição.

A princesa parou, olhando de canto para o pai, percebendo que dialogava sozinha. Augusto estava distraído com os pensamentos e não tinha ouvido nenhuma palavra que sua filha dissera.

- Meu pai? - Catarina tocou no ombro do rei - O Senhor está bem?

O monarca de Artena sobressaltou-se com o toque, seguido pela pergunta.

- Estou, Catarina. - ele balançou a cabeça, como se estivesse afastando qualquer lembrança - Desculpe, não dei a devida atenção para o que você disse.

- Não tem importância. - assentiu de forma generosa - Temos de pensar agora em como vamos receber o rei de Sonsiera. Por um acaso, vocês não eram amigos no passado?

- Sim. - Augusto levou as mãos para trás, as entrelaçando - Mas hoje prefiro dizer que somos apenas velhos conhecidos.

A princesa observou um inevidente sorriso no canto dos lábios do rei.

- Como a futura rainha de Montemor, me comprometi a estudar as tradições daquele lugar, apesar de todo o cansaço. - disse Catarina orgulhosa de si mesmo - Lá em Sonsiera, o rei César é conhecido como um exímio caçador e respeitado pelo povo.

- É verdade. - ele emplementou o argumento da filha - Ao contrário dos outros reis, ele não perde tempo caçando cervos, César costuma lançar-se em florestas inabitáveis.

- Isso é corajoso da parte dele. - Catarina começava a prestar cada vez mais atenção, era como se estivesse em uma nova aula - Além disso, ele alega ter visto seres que nunca ninguém viu. E apesar de muitas pessoas acharem que tudo isso é pura lenda, a igreja o apoia de forma imprescindível.

- Estou impressionado! - disse Augusto surpreso, ambos parados acima dos degraus da entrada de Montemor - Estudou isso tudo pela manhã? Catarina, você tem uma ótima memória!

- Obrigada, meu pai. - agradeceu, lisonjeada, erguendo a barra de seu vestido lilás, descendo a escada cuidadosamente - Afinal, o senhor também participava das caçadas? É realmente verdade o que ele diz?

Curiosidade era o sentimento que definia a princesa, ela estava ansiosa pelas respostas.

- Não poderei afirmar com exatidão. - disse o rei rindo do jeito entusiasmado da filha - Mas eu sempre fui o mais covarde dos três...

- Dos três? - Catarina lançou a pergunta, sem esperar Augusto terminar.

- Sim. - confirmou - César, Otávio e eu. Éramos inseparáveis.

A princesa estava boquiaberta, imaginara que pela idade o rei da Lastrilha já havia encontrado-se muitas vezes com seu pai, mas não imaginava que eles eram tão próximos no passado.

- O rei Otávio? Sério? - perguntou a morena, incrédula.

- Eu nunca entrei em nenhuma daquelas florestas que César costumava entrar, mas sempre ouvi sons muitos estranhos vindo delas. - Catarina estava ainda mais interessada, seu pai havia conseguido prender sua atenção - Quase sempre Otávio o acompanhava em sua missão. Era como ele encarava cada uma de suas caçadas. - ele esclareceu - Deve imaginar que por isso, Montemor mantém uma ótima relação com Sonsiera. Aquele reino sempre esteve interessado nos minérios de ferro, porque rei César fábrica armas "curiosas", não podem ser comparadas com nenhuma espada ou lança. São armamentos específicos e não há outro jeito de exterminar tais criaturas.

O TRONO DE SANGUE - Afonsarina [REVISANDO / INCOMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora