Morrigan andava silenciosamente pelo bosque. As árvores pareciam temer a deusa. Um silêncio perturbador envolvia a noite. A neve caía vagarosamente e repousava nos galhos secos e gélidos das árvores que pareciam estar adormecidas. O único barulho era do vento que assobiava um ruído tenebroso. Atrás dela o homem romano andava devagar. Seu queixo tremia com o frio. Seus olhos azuis estavam com um contraste mais vívido.
── Minha senhora – disse o homem com a voz trepidante – Sinto que meu corpo não aguentará mais este frio.
── Muito bem – disse ela ainda andando – Mais a frente tem uma gruta. Dormiremos lá esta noite.
O homem deixou um sorriso tímido escapar e em seguida agradeceu. Eles andaram por mais uns quinze minutos até chegarem à gruta. O local era pequeno, parecia ser uma antiga ou não, moradia de um animal como um lobo. Esta ideia fazia a perna do romano doer. Ainda não havia se recuperado totalmente do ataque da loba. O local era quente o suficiente para o romano esfregar as mãos, como se demostrasse felicidade. Seu queixo parou de tremer. E uma cor quente apareceu em seu rosto, antes pálido e frio.
── Faça uma fogueira – ordenou a deusa – Procurarei algo que sirva como alimento.
── Eu posso sair para caçar – disse o homem se apoiando na parede.
── Sim, claro – disse a deusa com sarcasmo – Neste estado é mais fácil um lobo trazer o seu corpo e ele e eu comermos a sua carne – o homem olhou espantando – E além do mais, acredite, eu tenho mais habilidade para matar – e com um sorriso deixou a gruta.
A neve estava mais forte quando a deusa retornou com dois coelhos grandes pendurados pelas pernas. O fogo de uma pequena fogueira crepitava. O som que estalava com frequência formava uma melodia nostálgica e confortante.
── Vejo que ambos cumprimos com nossas tarefas – disse a deusa jogando os dois corpos perto da fogueira.
── Consegui alguns temperos perto da entrada da gruta – disse ele empolgado – Sálvia e alecrim.
── Ótimo! – disse ela – teremos uma bela refeição.
Os dois corpos dos pequenos animais já estavam espetados em uma vareta e o fogo já lambia a carne, deixando-a dourada e brilhante. O cheiro que a carne exalava era maravilhoso. Tão maravilhoso que atraiu uma raposa da neve. A deusa olhou por cima do ombro e convidou o animal para se juntar a eles. O animal felpudo de forma discreta se aproximou e se assentou entre a deusa e o homem.
── Como se chama romano? – perguntou olhando fixamente para o homem.
── Quintus minha senhora.
── Este foi o nome que lhe deram quando foi capturado para ser escravo?
── Sim.
── E qual nome sua mãe lhe deu para apresentá-lo aos deuses?
── Mérlin – respondeu o homem.
── Mérlin – repetiu a deusa – Quanto tempo eu esperei conhecer você jovem Mérlin.
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Os Contos Celtas: Morrigan (REVISÃO)
FantasyAs árvores são tão antigas quanto às lendas deste mundo. E são nas árvores dos bosques da Irlanda que estão guardados os contos mais belos. Houve uma época em que os seres humanos viviam como as árvores. 800 anos de vida ou mais... E este conto é so...