Antes de Mestre... Aprendiz

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A deusa olhava atentamente para o soldado. Os olhos do homem brilhavam ao contemplar a grandiosidade da deusa.

── Mérlin – disse ela com a voz suave – Você sabe quem você é?

── Como assim minha senhora? – perguntou ele confuso.

── Sua essência. Seu poder. Você é filho de uma feiticeira da linhagem de um clã cujo poder é tão antigo quanto este mundo. Você é uma das sete profecias. Tem um papel de grande importância para executar. Mas para isto precisará ser treinado.

── Irá me treinar?

── Não, não meu jovem mago. Eu tenho alguns assuntos para tratar. Mas conheço alguém ideal para ensiná-lo. E que tratará melhor dos seus ferimentos.

A deusa conduziu o homem por uma mata fechada. Um silêncio inquietante assolava aquela região. Não se ouvia barulho de animais, ou do vento soprando e muito menos dos espíritos da natureza assobiando. O ar era frio, mas o local não era assustador. A magia que existia ali era quente e acolhedora.

── Lá está – disse a deusa apontando para uma simples casa no topo de uma colina – A casa do grande mago Aodh! Ele será o seu mestre. E o preparará para a grande guerra contra Atena.

Mérlin olhou para a deusa. Sentia uma mistura de sentimentos. Não entendia se seria uma máquina de guerra, como sempre fora nas mãos dos romanos, ou se seria um de seus servos. Eles subiram pelo caminho estreito até chegarem ao topo da colina. Em cima de um tronco de carvalho um homem baixinho com a barba e cabelo ruivo estava sentado fumando sálvia com flor de bétula.

── Minha senhora! – exclamou ele fincando de pé – A que devo esta honra?

── Tenho um aprendiz para você – respondeu ela empurrando discretamente o homem para perto de Aodh.

── Sim, vejo – disse ele se aproximando com os olhos semicerrados, como se forçasse a visão – Um homem de oitocentos anos não enxerga tão bem, mas vejo e sinto um poder admirável vindo deste jovem.

Aodh se aproximou e tocou nas mãos do homem. O vento acordou e assobiou com preguiça. As mãos de Mérlin tremeram e uma fonte de luz surgiu entre as mãos dos dois. Um calor percorreu o corpo do jovem mago que começou a suar e transparecer um semblante de preocupação. Suas memórias estavam nítidas e vivas. Não só na sua mente, mas à sua frente. Era como se um filme passasse diante dos seus olhos. Aodh se conectou com Mérlin e absorveu toda a informação necessária que precisava. O poder de Mérlin era tão grande que ao ser tão explorado arremessou o antigo Aodh para longe.

── Perdão meu senhor – disse Mérlin se aproximando.

── Tudo bem, tudo bem – disse ele tirando a poeira de suas vestes – Eu estou bem.

Aodh olhou para os olhos azuis de Mérlin e sorriu. O sorriso logo virou uma risada, que cresceu, cresceu e se tornou uma grande gargalhada. O jovem ficou sem reação ao ver o ataque de risos. Ficou imóvel. Estava discretamente espantado. A gargalhada cessou.

── Ora, ora – disse Aodh retomando o ar – Vejam se não é o jovem Mérlin. O meu sucessor. Meu jovem... É uma honra estar aqui com você.

Os Contos Celtas: Morrigan (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora