Mérlin e o seu exército de homens e anciões da floresta seguiram em direção as tropas romanas. A lua brilhava radiante em cima deles, como se os abençoassem. A floresta era bem fechada, o que facilitava, pois os ruídos eram abafados pelas grandes árvores.
Caminharam cerca de uma hora até avistarem o acampamento dos romanos. Mérlin e os celtas deixaram as sombras da floresta e se posicionaram. Para a surpresa deles, os romanos já os esperavam. Um grande exército estava parado. Homens com lanças, espadas e escudos. Em seus olhos uma sede de sangue insaciável. Assim eram os romanos. Sempre sedentos por sangue, e mais sangue. Não tinham medo da morte. Morrer no campo de batalha era o maior prêmio que poderiam alcançar em vida.
Uma águia parou perto do exército romano. Era Atena. Cuidando e abençoando de seus homens. Um silêncio. Romanos e Celtas se entreolhavam. Apenas o assovio do vento repousava sobre aquele campo de batalha. A águia crocitou um grito agudo que encheu a alma dos romanos de coragem.
──ATACAR! – gritou o general romano.
── POR MORRIGAN! – gritou Mérlin
── POR MORRIGAN! – responderam os celtas.
As tropas avançaram uma contra a outra. Flechas cruzavam o céu, enquanto espadas se chocavam provocando um barulho agressivo e uma adrenalina nos homens e mulheres. Os romanos tinham muito mais treinamento de guerra do que os celtas, mas os povos das florestas possuíam mais conhecimento mágico das ervas que a Mãe Terras os oferecia de bom grado. Eles extraiam o veneno das plantas e umedeciam as pontas das flechas que usavam para derrubar seus inimigos e os matarem rápido. Mérlin não aprendeu apenas controlar seus poderes mágicos, mas também a como usar uma espada em combate. O mago avançava com destreza sobre os romanos encravando a sua espada em suas costelas e se protegendo com a sua magia. Mérlin estava golpeando um homem quando uma espada passou perto de seu rosto. Ele se voltou e deu de cara com um homem branco, barba abaixo do queixo, olhos azuis como o mar e cabelo bagunçado que lhe cobria metade de sua testa.
── Traidor! – bradou o homem com fúria nos olhos.
── Otaviano! – disse Mérlin reconhecendo o homem.
── Como pôde trair os seus, depois de tudo?
── Tudo?
── Poupamos sua vida seu ingrato.
── Vocês mataram minha mãe e me fizeram de escravo por anos! Eu deveria agradecer ainda?
── Seu insolente!
Mérlin e Otaviano chocaram suas espadas. Mas o romano era bem mais treinado e acertou a perna direita do mago que cambaleou e caiu prostrado.
── Muita ingenuidade achar que poderia nos vencer com este exército de selvagens e uns truques de magia – disse Otaviano se aproximando e levantando o queixo de Mérlin com sua espada – Veja. Veja ao seu redor. Somos muito melhores em números e estratégia.
Mérlin começou a rir o que fez incomodar Otaviano.
── O que há de engraçado em tudo isso?
── Romanos... Como sempre achando que são deuses. Quando na verdade são apenas fantoches nas mãos deles. ANCESTRAIS, AGORA!
Neste instante um tremor ocorreu e as árvores acordadas saíram por de dentro da floresta e avançaram contra os romanos.
── Por Atena! O que é isso? – disse Otaviano assustado.
── Um truque de magia meu antigo general – disse Mérlin pegando sua espada e lançando a de Otaviano para longe – Desista!
── Arqueiros! – gritou o general – Flechas de fogo! Não deixarei que estes selvagens e esses demônios de madeira vençam.
── Não tão rápido – disse Mérlin erguendo as mãos para conjurar um feitiço - Enex Voux et mar...
Antes que terminasse a primeira linha do encantamento Mérlin foi atingido. Uma adaga dourada transpassou sua barriga. O mago se virou e se deparou com uma mulher de cabelos longos que usava um elmo dourado em sua cabeça.
── A-Atena?
── Que a sua deusa da morte cuide de você... Mérlin!
O mago caiu com a face voltada para o céu. Avistou a lua brilhando, como se o chamasse de volta pra casa.
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Os Contos Celtas: Morrigan (REVISÃO)
FantasyAs árvores são tão antigas quanto às lendas deste mundo. E são nas árvores dos bosques da Irlanda que estão guardados os contos mais belos. Houve uma época em que os seres humanos viviam como as árvores. 800 anos de vida ou mais... E este conto é so...