O início de uma grande lenda

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Quatro semanas haviam se passado desde o confronto na floresta. Mérlin estava na varanda de sua simples cabana quando soldados reais chegaram montados em seus cavalos.

── Procuramos por aquele se chama "Mérlin, o mago" – disse um dos homens.

── Então vieram ao local certo – respondeu Mérlin tragando um pouco de sálvia em seu cachimbo longo – Sou eu.

── O rei solicita sua presença no castelo real – continuou o soldado.

── E o que eu fiz? – perguntou ele soltando um pouco de fumaça no ar – Sou apenas um mago solitário, que vive longe da cidade e do palácio do rei.

── A rainha está com dificuldades em seu parto e há boatos sobre sua fama de curandeiro.

── Boatos – disse Mérlin com tom de ironia – Achei que levassem mais a sério os meus feitos.

── O rei lhe recompensará com ouro – disse o soldado numa tentativa de persuasão.

── Não me interessa o ouro real – respondeu Mérlin – Apenas que me deixem em paz quando tudo isto terminar.

── Certo – consentiu o soldado – Suba no cavalo.

── Não, não – disse o mago apagando o seu cachimbo – Eu tenho o meu próprio amigo. Reign! – gritou  e deu um assobio alto. Um cavalo branco surgiu entre a mata e parou perto de seu dono – Vamos, meu amigo. Temos um encontro real!

Mérlin chegou ao palácio e foi conduzido às pressas até os aposentos reais. Um dos soldados abriu a porta. O rei estava aflito segurando a mão de sua esposa que se contorcia de dores. Os lençóis estavam mais vermelhos do que brancos pela grande quantidade de sangue que a rainha perdera. Duas damas reais ajudavam a parteira que a cada minuto ficava mais desesperada. A rainha não podia perder o filho.

── Meu senhor, aqui está o curandeiro da floresta que Vossa Excelência pediu que trouxéssemos.

── Graças a Deusa! – exclamou o rei – Mas não esperava que fosse alguém tão jovem assim.

── Se Vossa Alteza preferir, eu posso voltar aqui depois que tiver envelhecido uns vinte anos a mais – respondeu Mérlin sem hesitar.

── Insolente! – disse o soldado empurrando Mérlin com o seu escudo.

── Deixe-o – disse o rei – Não deveria ter questionado sua idade. Agora por favor, ajude minha esposa e o meu filho. Salve-os.

── Deixem-me passar – pediu o mago se aproximando – Minha senhora.

── Por favor, Mérlin, não deixe que minha criança morra! Não deixe! Eu imploro.

── Ninguém morrerá hoje neste castelo minha senhora – disse ele segurando a mão dela – Agora se acalme. Logo terminará.

Mérlin retirou da sua bolsa uma erva de tom marrom e pediu que a rainha mastigasse enquanto ele entoava um encantamento. O mago tocou na barriga da rainha e erguendo os olhos pra cima conjurou um feitiço de proteção para a rainha e para a criança. A erva agiu dentro do corpo da rainha e fez com que ela empurrasse a criança para fora. Não demorou muito para que os gritos de dor da rainha sumissem e dessem lugar para um choro agudo.

── Tudo bem minha senhora. Acabou – disse Mérlin segurando a criança – Parabéns! É um menino. Forte e saudável.

── Graças aos deuses – disse o rei feliz olhando para seu primogênito.

── E qual será o nome dele? – perguntou Mérlin olhando para o menino que continuava a chorar.

── Arthur – respondeu a rainha cansada – O nome dele é Arthur.

Ao ouvir o nome do menino, Mérlin ficou paralisado. Seus olhos ficaram imóveis. Em sua mente imagens passaram de forma muito rápida, mas não eram lembranças, pois elas nunca aconteceram. Eram imagens de um futuro próximo. E tudo estava mais claro para Mérlin agora.

── O que houve Mérlin? – perguntou a rainha preocupada.

── Nada – respondeu ele voltando de seu transe – Nada minha senhora. Arthur é um nome lindo. Combina com o cargo que ele virá ocupar um dia. Tornar-se-á um grande rei. O maior que estas terras já viram. Sem querer ofendê-lo majestade.

── Tudo bem – consentiu o rei – Sendo o meu filho não há problema algum.

── Vossa majestade – disse Mérlin segurando o menino que agora não chorava mais, mas descansava no colo do mago – Seu servo havia falado sobre uma recompensa em...

── Sim, sim – interrompeu o rei – O seu ouro está guardado ali.

── Não majestade. O ouro não me interessa. Mas gostaria de pedir outra coisa como forma de pagamento.

── E o que seria? – perguntou o rei desconfiado.

── Gostaria de ser tutor do seu filho – respondeu Mérlin de imediato.

── Tutor? – indagou o rei.

── Sim majestade – continuou ele – Gostaria de ficar responsável pela educação, estudos e treinamentos de guerra do jovem Arthur.

── Não vejo mal algum nisso – disse o rei olhando para seu filho dormindo como um anjo nos braços do mago – Mas terá que viver no castelo. Arrumaremos um quarto para você.

── Estou de acordo.

── Tudo bem por você meu amor?

── Veja como ele gosta de estar perto do Mérlin – consentiu a rainha sorrindo.

── Mas por que o cargo de tutor ao invés do ouro? – questionou o rei curioso.

── Digamos que... – Mérlin olhou para a janela e viu um corvo pousado. Ele sorriu para o animal e voltou o seu olhar para o menino indefeso em seus braços – Seja meu destino!


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