A conversa com Kagaho ficou girando em sua cabeça durante o caminho da volta. Confraternizar com o inimigo, no meio de uma guerra dificilmente seria visto com bons olhos em qualquer lugar. O que significava que ela provavelmente deveria parar de correr atrás daquele espectro mal humorado e que lutava por um deus do submundo disposto a acabar com toda a vida na Terra.
Olhando em volta, ela viu ao longe a montanha das doze casas. Kagaho, apesar da vontade gritante de acertar as contas com Dohko, dissera que não tinha planos de lutar contra os cavaleiros por enquanto. Aquilo a fez lembrar do dia em que ele aparecera ferido pela luta contra Aldebaran. Será que, naquela ocasião, ele invadira o Santuário atrás de Dohko? Aquilo fazia bastante sentido, do jeito que ele era esquentado. "Esquentado?!" Ela riu ao pensar em como aquilo era irônico, considerando que seu poder era justamente controlar as chamas.
Mas... para ele se refrear e aguardar pacientemente na floresta ao redor do santuário, alguma coisa muito importante deveria estar em jogo. Uma nova preocupação a envolveu. Ele tinha algum plano em mente e isso definitivamente não era uma coisa boa. Ela deveria falar aquilo com Regulus, entretanto, se dissesse, certamente iriam atrás dele. Confusa, ela sacudiu a cabeça, fazendo balançar trança que havia feito naquela manhã. Ela nem imaginava que Petros, desconfiado, a observava.
Na manhã seguinte, Elisa deu de cara com o Cavaleiro de Leão assim que abriu a janela do quarto. Ele trazia comida para dois e perguntou se ela se importaria de fazer seu desjejum com ele, convite que Elisa aceitou com prazer.
- Então essas armaduras de ouro representam os doze signos solares do zodíaco – ela conversava com o jovem cavaleiro, fascinada.
- Isso mesmo. Os outros cavaleiros de prata ou bronze são ligados a outras constelações.
- E quantos são no total? - indagou ela.
- Somos 88 ao todo.
- E como você conseguiu a sua armadura? Foi muito difícil?
- Um pouco... – ele fez uma pausa e então continuou. - Eu não te falei antes, mas o meu pai foi o Cavaleiro de Leão antes de mim.
- Então você herdou a armadura dele?
- Não do jeito que você provavelmente está pensando. – ele comeu uma generosa fatia de pão enquanto falava – Não é um tipo de herança, eu tive que treinar muito e fazer por merecer a armadura de Leão.
- Entendi. – ela hesitou – O seu pai...
- O meu pai morreu lutando contra um espectro – ele respondeu. – Ele foi um grande guerreiro.
- Tenho certeza que ele era um guerreiro formidável – ela segurou a mão do garoto – Tendo um filho tão poderoso quanto você.
- Um dia eu quero ser tão forte como ele – seu olhar agora brilhava com determinação.
- Você vai. – ela apertou a mão dele mais uma vez antes de trocar de assunto – Nossa, mas esse pão está mesmo uma delícia hoje!
- É mesmo. – ele pareceu feliz com a oportunidade de mudar o rumo da conversa – Acho que eu poderia comer mais um cinco desses.
Quando ele foi embora, Elisa recriminou a si mesma enquanto se preparava para sair também. Mais uma vez ela não conseguiu falar sobre seu encontro Kagaho e aquilo a fez sentir-se péssima. Além disso, a conversa com Regulus sobre a morte de seu pai a deixara bem abatida, ainda mais sabendo da situação em que o tio dele estava.
Quando chegou na ala médica, a primeira pessoa a recebê-la foi Petros. Ele lançou a ela um olhar estranho antes de falar, num tom de cordialidade bem pouco usual:
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Chamas negras
Fanfiction1° lugar na categoria "Fanfic" do concurso Órion - 2° edição "Há uma simpatia quase inevitável entre os bons entre si, que é o princípio da amizade instaurado pela natureza." Uma amizade inesperada. As chamas do espectro de Benu serão capazes de o...