Elisa parou na frente da porta de madeira, agitada. A manhã mal havia começado, mas ela sabia que Konstantinos já estava de pé, cuidando de seus pacientes.
Havia um burburinho lá dentro e, no momento em que Elisa entrou, fez-se um pesado silêncio. O número de pacientes havia diminuído um pouco, mas o local ainda continuava bem cheio. Como que por ironia do destino, a pessoa mais próxima dela era justamente a que ela menos queria ver.
- Melina – ele a cumprimentou e, por sua expressão, ele já sabia que ela havia voltado.
- Petros. – ela respondeu com frieza e seu olhar desviou para o médico. – Konstantinos.
- Então, está mesmo de volta – o médico se aproximou e estendeu a mão. – Elisa.
- Não sei se vai me querer de volta – ela respondeu com altivez. – Mas eu vim visitar Dédalo.
- Claro que vou – ele franziu o cenho. – Você é uma ótima ajudante – sua expressão suavizou um pouco. – As ervas sentiram sua falta.
Ouvir aquilo fez Elisa abrir um belo sorriso. Melina ainda não havia chegado e Elisa seguiu Konstantinos até a cozinha, onde não havia mais ninguém naquele momento.
- Que confusão você se meteu, senhorita Elisa – ele encostou em uma das velhas bancadas de madeira.
- O senhor já sabe de tudo? – ela perguntou.
- O senhor Sísifo me chamou para conversar antes de você partir – ele parecia bastante tranquilo. – Ele me contou sobre seu envolvimento com o espectro e que era por isso que estava indo para Rodorio. Eu disse a ele que não tinha motivos para desconfiar da senhorita e que sempre me ajudou a cuidar de todos os pacientes. Inclusive, com seu acesso a ervas venenosas como beladona e dedaleira, seria fácil causar um grande estrago se estivesse do lado de Hades.
- Obrigada – ela não tinha palavras para agradecer.
- Ontem ficamos sabendo que você havia retornado, graças a Melina, é claro – ele deu um raro meio-sorriso. – E eu disse a todos que você seria bem-vinda caso quisesse voltar. A maioria aceitou muito bem.
- Eu gostaria muito de voltar – ela hesitou. – Mas não queria causar um clima ruim.
- Não vai. – ele se dirigiu até a porta da cozinha e, para finalizar, completou. – Agora, por favor, vá logo ver Dédalo e depois faça sua mágica com as ervas.
O jovem aprendiz estava deitado em uma cama no mesmo quarto onde Cibele, que finalmente conseguira sua alta, estivera anteriormente. O garoto, por sua vez, parecia ainda longe de se recuperar. O ferimento que Kazuaki causara em seu abdome era bem feio e ele respirava com dificuldade. Pesarosa, ela segurou uma das mãos do menino, que não esboçou nenhuma reação.
- Ele ainda não acordou – Konstantinos falou da porta. – Mas estou otimista.
- Fiquei tão surpresa que ele estava vivo. – ela olhou para o médico com admiração.
- Dédalo é um rapaz valente. Ainda tem muito para crescer.
- Tenho certeza que sim – ela voltou sua atenção para o paciente desacordado. – Espero que ele acorde logo.
- Quando a febre dele aumenta, ele começa a delirar e fala muito sobre você – Konstantinos a encarou. – Ele se preocupa muito com você e com sua missão de protegê-la. Talvez ouvir sua voz o acalme, mesmo desacordado.
Seguindo o conselho de Konstantinos, Elisa passou cerca de uma hora ali com o jovem aprendiz, conversando coisas triviais, como quando seu pai a levara até o horto da Universidade Católica de Leuven, onde um conhecido seu fazia pesquisas interessantíssimas sobre a diversidade da flora do país. Na época com treze anos, Elisa descobriu que fazer pesquisa era um sonho que precisava seguir.
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Chamas negras
Fanfiction1° lugar na categoria "Fanfic" do concurso Órion - 2° edição "Há uma simpatia quase inevitável entre os bons entre si, que é o princípio da amizade instaurado pela natureza." Uma amizade inesperada. As chamas do espectro de Benu serão capazes de o...