Epílogo

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Londres, julho de 1857

Juliet estava bastante empolgada. Seus pais, Thomas e Anne haviam dito que viriam uns parentes de fora para visitá-la. Eles eram da França e, pelo que soubera, passariam duas semanas ali. Seria uma ótima oportunidade para jantares e festas!

Seu pai, o conde de Hollster, era um entusiasta da ciência, embora não soubesse sequer a diferença entre uma lontra e um leão-marinho. Contudo, ele gostava de se vangloriar de seus amigos cientistas e ficara felicíssimo quando seu primo francês, Charlie Benoit, médico e naturalista, aceitara seu convite para passar uns dias na propriedade Hollster em Londres, com a esposa e o filho de dezessete anos. Ele tinha a sua idade e, com sorte, se tornariam bons amigos.

Assim que o mordomo anunciou a chegada das visitas, por volta de dezoito horas, Juliet sentiu o estômago se agitar de ansiedade e esperou, ao lados dos pais, a entrada dos convidados.

Charlie, o primo de seu pai, foi o primeiro, seguido por sua esposa, Camille e seu filho, Olivier. E um terceiro integrante, que Juliet não sabia que viria, foi o último a entrar. Diferente de Charlie e Olivier, que possuíam cabelos castanho claros e olhos verdes e Camille, que era loira e tinha belos olhos azuis como safiras, este último tinha olhos e cabelos bem escuros, além de ser bem mais alto. E usava uma roupa de militar.

- Juliet, esse é nosso primo Charlie e sua esposa, Camille. A última vez que estiveram aqui foi em nosso casamento, antes de você nascer.

- Muito prazer – Juliet se inclinou para ambos em uma graciosa reverência.

- É uma bela jovem – Charlie respondeu, amável. – E lhes apresento nosso filho Olivier.

O rapaz cumprimentou os parentes com um aceno de cabeça.

- E o amigo de quem lhe falei, Thomas, o tenente Gerard Moreau. Ele também tem grande interesse pela ciência.

- É um prazer recebê-lo em minha casa, tenente.

- Obrigado.

O jantar daquela noite foi bem tranquilo. Após se banharem e descansarem da viagem, os convidados estavam bastante animados e sociáveis. Aos olhos de Juliet, apenas Gerard parecera um pouco sério demais. E o mais engraçado é que aquilo parecia exercer uma estranha atração sobre ela. Aqueles belos olhos negros.

- A condessa de Harbinger me respondeu que ficará muito feliz em estender o convite para a festa de amanhã à noite aos nossos convidados – anunciou lady Anne.

- Que notícia agradável – respondeu a senhora Camille. – Será um prazer acompanhá-los.

- Ela é uma anfitriã adorável, tenho certeza que vão apreciar bastante a noite.

Enquanto as duas senhoras trocavam amabilidades, Juliet observou os outros ocupantes da mesa. Seu pai e o senhor Benoit ignoravam a conversa com civilizada indiferença, enquanto degustavam a carne assada. Por outro lado, Olivier e Gerard, sentados bem a sua frente,conversavam entre si sobre algum assunto que ela não conseguiu identificar. Gerard usava um cordão bem diferente, reparou. Era algo que ela não conseguiu identificar e, no momento em que franzia o cenho, sem perceber, analisando o estranho objeto, o militar olhou diretamente para ela. Ruborizada pela própria falta de educação, Juliet desviou o olhar para a mãe a seu lado, comentando qualquer coisa sobre a festa do dia seguinte para disfarçar seu embaraço.

Na noite seguinte, a família do conde de Hollster e seus convidados foram uma das sensações da noite, principalmente pela presença dos dois belos jovens solteiros desconhecidos.

E foi mais ou menos na metade do evento que Juliet, fugindo de um admirador, pelo qual não sentia a menor inclinação de aceitar seu pedido de casamento – o único tópico de suas conversas era a quantidade de raposas que conseguia abater em uma caçada – decidiu escapar por uma das portas que levava à varanda.

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