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Brunna

Eu sempre acreditei que a vida era feita para que conhecêssemos uma pessoa, nos apaixonássemos por ela e estas seriam capazes de balançar a nossa vida por inteiro.  

Acreditava que nos tornaríamos uma só até o fim de nossas vidas.

Sempre tive o grave defeito de me apaixonar de cara por alguém e já jurei amores pensando que seriam eternos.
Grande idiotice.
E foram com esses amores mal sucedidos que duravam menos de um mês, que acabei desistindo complemente de amar uma única pessoa. 

Nunca entendi porque não dava certo com ninguém.

Todo amor que fui capaz de demonstrar há alguém um dia, fora esmagado sem nenhuma consideração por pessoas sem coração. 

Mas reaprendi na dança o sentido de amar. 

Desde a infância sou apaixonada pela dança, e ela me ensinou a forma de amar a tudo e a todos, além de aprender a me amar. Em cima dos palcos eu libertava todos sentimentos presos dentro de mim e me tornava outra mulher. Uma mais confiante e segura de mim mesma, além de amar a reação que causava em quem me assistia. Os olhos brilhando em admiração fazia com que eu me sentisse completa.

Sou filha de um casal incrível porém muito rigoroso, eles acreditavam que a dança nunca me daria um futuro e isso me deixava desconfortável dentro da minha própria casa. Por isso sonhava com o dia em que conseguiria minha independência financeira com a dança. Sempre respeitei a opinião dos meus pais sobre o meu futuro e quando diziam que eu devia tentar uma faculdade, mas não sentia que aquilo era para mim.
Minha mãe me obrigava sempre a procurar cursos ou alguma profissão decente, e demonizava a dança dizendo que isso não era profissão.

Mas ao contrario dela, sempre me arrepiei ao som dos diversos ritmos musicais e a forma como as pessoas dançavam. Mais do que isso, a forma como elas se comunicavam com o corpo. O som dos tambores da bateria da beija-flor pela ladeira do bairro de Nilópolis me faziam dançar pelas ruas com o espírito livre e feliz.

Minha família nunca desconfiou das diversas vezes em que dizia que ia estudar na casa de amigos em outros bairros e sempre desviava o caminho até a quadra de escolas de samba para ver a bateria tocar ou algum baile funk que sempre acontecia.
O som dos tambores, a alegria daquele povo que me contagiará sempre e me fazia feliz como nunca.
Foi em uma dessas fugas que conheci a minha salvação.

Uma coreógrafa e dona de um estúdio de dança acompanhava a apresentação das passistas que dançavam pela quadra, em busca de novos talentos.
Fiquei completamente encantada pela forma como ela se vestia e a forma como todos a cumprimentavam, além dos inúmeros conselhos que a via dando as pessoas, ela dançava de maneira impecável.
Passei a admira-la por sua postura e o amor que ela demonstrava ter com tudo e todos.

Quando tomei coragem depois de dias a admirando, fui até ela e para minha total surpresa ela me recebeu de braços abertos dizendo que já me esperava a dias e que me observava dançar nas laterais do barracão. A partir deste momento minha vida mudou completamente. Passei a acompanhá-la todos os fins de semana nas suas apresentações de dança em seu estúdio aprendendo a cada dia mais sobre a dança e cultura que por ela eram repassados. Mesmo redescobrindo o amor dentro desta minha nova realidade eu ainda não conseguia amar alguém de maneira íntima. E isso me frustrava intensamente.

Observava os casais ao meu redor imensamente felizes, os pedidos de casamento ou namoro que aconteciam dentro do estúdio de dança ou em alguma apresentação, ou quando íamos ao barracão, e isso me causava um dos piores sentimentos que pode ser sentido, a inveja.

Sim, eu os invejava.

Invejava o amor em sua forma mais pura entre o encontro de almas que ali acontecia. Sabia que era errado e buscava sempre conselhos com minha mentora que me orientava da melhor forma para não deixar isso me consumir. Aos poucos fui me acostumando e concluindo que aquilo não era para mim. O melhor que eu poderia fazer era aprimorar meu amor pela dança e torcer para que isso preenchesse o vazio que sentia vindo da minha alma.

The Morning After - Brumilla Onde histórias criam vida. Descubra agora