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Kairos é uma palavra grega que significa o acerto fugaz entre tempo e espaço que cria uma atmosfera propícia para a ação. Emma sabia que os Argonautas levavam aquela tradução ao pé da letra e que estavam apenas aguardando o momento certo para agirem contra os heróis. Ela também sabia que aquele momento estava próximo, muito mais próximo do que qualquer um podia imaginar, e o fato de estar cara a cara com Aaron reforçava isso.

Emma havia ficado surpresa quando o viu parado no meio do córtex lhe sorrindo como um perfeito idiota, então Barry o prendeu na pipeline e tentou interrogá-lo, mas Aaron parecia um budista em seu voto de silêncio. Isso irritou profundamente o velocista, Emma sabia que seu pai já estava com pouca paciência devido a sua recente descoberta sobre a paternidade dupla, ou seria tripla, ela não fazia idéia, porém sabia que Barry estava nervoso e preocupado em colocar Iris e Caitlin em perigo, as mães dos seus filhos teriam toda a atenção e cuidado possível por parte dele.

-Quem é ele? - Oliver indagou a Tommy, era óbvio que ele seria o primeiro a perceber os olhares inquietantes que seu filho lançava para a tela onde a câmera da pipeline mostrava Aaron em tempo real.

-Seu nome é Aaron Winner e Deus, eu o odeio.

Tommy estava irritado e não era apenas ele. Tanto Lydia como Camille pareciam evitar olhar para a filmagem, como se apenas o ato de encarar o rosto sádico de Aaron fosse uma traição a Dawn.

Emma já não sabia mais o que sentir, por muito tempo teve raiva dele, então teve nojo e ódio, mas também teve pena e dó. Aaron havia sido criado por sádicos psicopatas, ele poderia sim ter tido uma vida diferente, mas o destino sempre brinca com as peças de lados opostos do tabuleiro.

-Winner. - Caitlin repetiu o sobrenome, Emma sentiu um certo calafrio percorrer seu corpo. - Como Charlie Winner?

Tommy abaixou o olhar, enquanto Camille e Lydia olhavam para lados opostos da sala. Nenhum dos três parecia realmente querer responder aquele questionamento.

-Como o meu irmão?

-Sinto muito, tia Cait. - foi a única coisa que Camille conseguiu falar, não havia uma explicação para aquilo naquele momento.

-Eu me lembro da primeira vez que ela apareceu. - Aaron falou, ele não olhava para a câmera instalada na cela, ele focava apenas a sua frente. - Lembro que fiquei fascinado por sua beleza, seus olhos principalmente, eles eram lindos.

-Do que ele está falando? - Sara questionou dando voz ao pensamento compartilhado por todos ali.

-E ela tinha aquele sorriso doce, como quem quer trazer paz ao mundo. Ela pediu um milk shake de chocolate com menta para viagem, disse que era para sua irmãzinha que havia feito uma cirurgia para retirar as amígdalas. Lembro que ela sorriu ao dizer que aquele sabor era seu favorito, gosto que as duas compartilhavam. Lembro que ela voltou pelo menos três vezes até eu convidá-la para sair ou para pelo menos tomar um sundae comigo em uma das mesas perto da janela. Na sétima vez que ela voltou, trouxesse consigo sua irmã mais nova, ela também tinha um sorriso que era capaz de trazer a paz mundial, mas tinha um olhar capaz de causar uma guerra. Era tolo pensar que elas não eram irmãs, a diferença podia ser gritante na aparência, mas já na personalidade, aí era outra história. - Aaron riu consigo mesmo, enquanto todos na sala permaneciam em silêncio ouvindo o relato dele, mas Emma sabia perfeitamente onde aquilo iria acabar. - Eu nunca cheguei a conhecer os pais dela, não tive tempo para tal formalidade, nossa relação acabou antes disso, embora tenha quase certeza que os pais dela ainda me odeiam. Aquela noite foi mágica sabia, uma das melhoras da minha vida. - Emma engoliu seco sentindo os olhos arderem pelas lágrimas contidas, não acreditava que Aaron estava mesmo fazendo aquilo, não conseguia entender como alguém podia ser tão baixo a aquele ponto, tão ridículo e desumano. - Ela gritou. Gritou alto, mas ninguém escutou. Ela podia ter fugido, corrido, mas não fez. Ela ficou lá, parada, me olhando assustada. Aqueles olhos lindos me implorando para que eu parasse, mas eu não podia. Eu era tão poderoso naquela noite. Eu me sentia tão vivo. Eu era um deus. Eu era...

TroublemakerOnde histórias criam vida. Descubra agora