»Violada«

• Ressaca •

Acordo assustada com o som alto saindo do meu celular. Uma chamada me faz apalpar o lençol a procura do aparelho. Sem saber de quem, deslizo com o dedo para atender à ligação.

—Huh? - é o máximo que eu consigo dizer.

—Senhorita Sori? Aqui quem fala é Sheng. - a voz responde.

Surpresa, eu me sento na cama rapidamente, tentando ignorar a leve dor que vem na minha cabeça logo em seguida.

Sheng, o motorista chinês minha família. Posso dizer que estive mais tempo com ele na minha vida do que com meu próprio pai então é bom ouvir a sua voz e ao mesmo tempo preocupante. Será que ele teria descoberto a mentira que usei para ficar fora daquela casa vazia por um tempo?

—Sheng, oi! Está tudo bem por aí? Aconteceu alguma coisa? - meus próprios pensamentos culpados me fazem imaginar milhares de coisas.

—Sim, está tudo bem por aqui. Como está indo por aí? - Sheng parece ser o único que se preocupa. —Seus pais ficaram preocupados por você não dar nenhum sinal de vida.

Sheng é um anjo mas posso dizer muito bem quando ele mente.

—Eles ficaram? - eu rio leve enquanto esfrego os olhos pela visão ainda embasada. —Poderiam ter me ligado assim como você fez.

—Você sabe como eles são ocupados, Sori... - até mesmo ele parece ter dó de mim às vezes mas ainda vai tentar melhorar o lado de quem paga o salário dele.

—Claro, eu sei. - por isso não corro para os braços dos meus pais quando a pior coisa da minha vida aconteceu. —Não duvido nada que eles estejam fora da cidade agora. - espero uma resposta negando mas ela não vem, apenas tornando isso verdade. — Ou do país...?

Nenhuma negação vem do outro lado novamente. Sheng apenas ligou por ele estava preocupado. Ele é mesmo um anjo.

—Me desculpe, Sori. - ele lamenta por não saber como me confortar com apenas uma ligação.

Antes que eu continue a falar posso ouvir alguns gritos vindo da cozinha, me fazendo olhas atenta em direção a porta:

—Sai de perto de mim! - uma das vozes grita desesperada. —Eu não estou brincando!

—E você acha que eu estou?! - a outra voz grita irritada.

Eu volto minha atenção pra a ligação novamente.

—Olha Sheng, se estiver preocupada pode me mandar uma mensagem e me ligar diretamente, não precisa usar aqueles... aqueles dois como desculpa. - eu digo sinceramente. —Até por que eu sei que você se preocupa muito mais do que eles. - ouço alguns barulhos de potes de plástico e panela sendo arrastados. —Olha, estão servindo o café, então preciso ir agora. Eu te aviso quando estiver voltando e você pode me dar uma carona até em casa.

—Okay... - ele não parece muito animada. —Me avise quando estiver vindo.

—Claro! Eu farei isso. Obrigada por ligar. - eu me despeço para voltar minha atenção para o que acontece na casa.

Desajeitada eu enrolo uma coberta pequena em  meus ombros pelo frio da manhã e me dirijo até a copa da cozinha.

Paro para ver Taehyung sendo encurralado no canto da cozinha cobrindo a boca com as duas mãos enquanto Yoongi carrega uma colher cheia de alguma coisa em uma das mãos enquanto outra segura o garoto.

—O que é isso? - pergunto parada antes de entrar completamente no cômodo.

—Haejangguk ¹. - Yoongi me informa.