»Violada«

• No fim do corredor •

Kyung está bem na minha frente ainda sem perceber minha presença, se arrumando depois de ter usado o banheiro do terceiro andar que agora sinto a desventura de ter encontrado. Eu diria que a chance disso acontecer em um cômodo tão escondido era quase zero se essa não fosse a casa dele.

Eu não tenho pra onde ir então só congelo no meio da sala desejando ter uma capa de invisibilidade assim como no filme de bruxos.

O garoto que estava distraído com a certeza de que não teria ninguém nesse andar, passa o olhar rápido pela sala até se estranhar com um corpo estranho, eu. Congelada, eu só consigo olhar para seu rosto enquanto ele me observa com os olhos apertados tentando enxergar melhor.

—Quem é voce? - ele fala com a voz atrapalhada, claramente bêbado.

Engulo o seco pois não há sequer saliva na minha boca.

—Ninguém. - é tudo que eu consigo.

—O que está fazendo aqui? - Kyung pergunta de novo pronto.

—Nada. Eu já estou de saída. - não sei dizer se ele percebe minha voz trêmula ou minhas mãos nervosas mas provavelmente sente o cheiro do meu medo no ar.

—Já? - ele se coloca entre mim e a porta da saída que leva ao corredor de antes. —Fique. - ele encosta seu ombro na parede tranquilamente com um sorriso calmo.

Apenas isso é necessário para me dar pânico. Meu coração aumenta a frequência repentinamente e minhas mãos parecem ter acabado de sair de um freezer.

—Eu realmente preciso- um som e vibração vindo da minha bolsa pequena me interrompe.

E olho para a bolsa e para minha própria mão parada, confiro o rosto de Kyung que também encara o lugar de onde o som vem. Com uma distância de mais ou menos 20 passos curtos entre mim e o outro na sala, eu presumo desesperadamente que é possível eu atender essa ligação.

Abro minha bolsa e paro de perceber quem está na minha frente pois vejo o contato de Jungkook brilhando na tela como uma luz de salvação. Deslizo o dedo para atender e encaro o chão esperando uma voz sair do aparelho.

—Onde você está, inferno?! - Jungkook fala alto devido a música alta no fundo e a raiva.

—Terceiro- eu não consigo responder graças a uma mão que puxa meu próprio celular da minha mão.

Kyung segura meu celular to alto, olhando para a tela.

—"Nerd"? - ele lê. —Você tirou sua atenção de mim pra falar com um nerd?

Sua voz irritante e calma me faz querer me vingar de outro jeito que não deixe ele capaz de falar mais. A distância entre nós agora é de menos de um passo.

Kyung aperta o botão lateral do celular, que faz a ligação finalmente desligar.

—Guarde isso. - ele abaixa sua mão e me entrega o celular de voltar.

Quando minha mão estica para pegar meu aparelho, ele o leva para longe de novo como provocação, para seu divertimento. Eu apenas suspiro decepcionada sem esboçar qualquer felicidade.

—Era brincadeira. Pega. - ele estica de novo e dessa vez eu consigo pegar. —O que veio fazer aqui?  Está me seguindo?

Seu tom ainda é calmo e ele sorri levemente enquanto fala.

—Não! - ele não parece estar falando sério mas eu me apavoro só de saber que estamos sozinhos nesse andar. — Eu só estava procurando um banheiro!