Capítulo 3 - BRIN

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Um filme romântico bobo passa pela décima vez e mesmo assim sou incapaz de mudar de canal. Gosto de rever filmes que já assisti muitas vezes, testo minha memória assim, o quanto decorei das falas. Há filmes em que já sei de cor todas as falas, e os adoro por isso. Somos amigos íntimos. Mas desta vez não estou prestando atenção às falas, não saberia nem mesmo dizer qual é o nome do filme. Meus pensamentos, geralmente livres, se encontram todos aprisionados ao mesmo tema: Stephen Ryan.

Ele foi legal comigo. Ele é legal. E tão bonito! E me parece errado não contar a ele porque comecei a segui-lo de verdade. Quando foi que me tornei uma dessas garotas que se preocupa em fazer o certo, nem eu mesma sei dizer.

A pipoca no balde no meio das minhas pernas esfriou há muito tempo, e seu cheiro começa a enjoar meu estômago. Sentindo-me uma farsante solitária, choro com ela, contando os segundos para Tyler chegar e eu ter alguém com quem dividir minha ladainha.

— Cinco, quatro, três, dois... Tyler! — grito empolgada tão logo a porta é aberta. — Eu conheci Stephen Ryan, ele me pegou vigiando-o, você estava certo, não sou boa com essa coisa de espiã. E ele foi gentil comigo! Um homem bonito foi gentil comigo! Você consegue acreditar nisso?

Ele joga sua bolsa no chão, em seu gesto automático de toda noite, bagunça seu cabelo descolorido e estende as mãos para frear meu falatório.

— Querida, vá devagar com isso, meu cérebro não está em sua melhor performance esta noite. É perfeitamente normal que ele tenha sido gentil com você se ele for gay. Os gays são as melhores pessoas do mundo, vivo dizendo isso, mas vou repetir. Gays são vida! Essa pipoca está no meio das suas pernas há quanto tempo?

— Você não entende! — choramingo. — Por que não tenho uma melhor amiga mulher?

— Sabrine Vega! Assim você me ofende! Sou mais mulher do que você, querida!

— Eu não quero mentir para ele. Ele foi legal comigo, quis me defender, não me julgou, não me repudiou, foi gentil e amável. E eu não pude ser sincera quando ele me perguntou porque eu o estava seguindo. Isso é um saco!

Pego o balde de pipoca e o viro sobre a cabeça na vã tentativa de me esconder da vida, e o banho de sal e pipoca que recebo não serve de nada para melhorar meu estado de espírito.

— Brin! Este era o último pacote de pipoca? — Tyler pergunta horrorizado, em seguida, ouço seus passos afastando-se e com a mesma rapidez, aproximando-se de novo. — Sabrine! Você desperdiçou o último pacote de pipoca, sua quenga desnaturada!

Ele se ajoelha no sofá diante de mim e começa a catar as pipocas frias, tira o balde da minha cabeça, dá umas batidinhas nele e as joga ali dentro, comendo algumas no processo.

— Desde quando você é do time das garotas boas? — pergunta de repente quando eu já começava a pensar que ele sequer havia me ouvido.

— Eu não sou.

— Então minta para o gato, leve-o para a cama e faça o test drive. Depois, pegue o dinheiro e pague a internet, vão cortar na semana que vem.

— Essa conta é sua! Você é quem deveria não deixá-la atrasar!

— Eu sei, mas não ando por aí vendendo meu corpo, logo, você paga.

— Você tem um trabalho de carteira assinada, sua bicha exploradora!

— Ah, meu Deus! Em que mundo você vive? Desde quando quem trabalha tem dinheiro, Brin? Ou você faz o seu serviço e paga a conta, ou me responde uma pergunta com toda sua sinceridade e eu pago a conta — propõe arqueando apenas uma sobrancelha.

— Escolho o desafio.

Ele larga o balde de pipoca no chão e fixa seus olhos puxados nos meus, o brilho neles é o indício de que eu deveria ter aceitado pagar a conta sem reclamar.

— Qual é o seu nome verdadeiro?

Sorrio. Não desvio meus olhos dos seus e sou firme na resposta. Minto há tanto tempo que tudo o que repito se tornou uma verdade.

— Sabrine Vega. A conta é sua.

— Este não é seu nome! Sua quenga trapaceira!

— É o meu nome, Tyler, olha a minha identidade. Olhe a minha certidão. Você perdeu!

Ele se levanta irritado com o dedo em riste na minha cara enquanto o presenteio com minha risada diabólica da vitória.

— A conta é sua!

A distração foi muito bem-vinda, porém, quando ele se afasta irritado, volto a me questionar. Eu sei que vou seguir com isso, mesmo porque estou curiosa sobre a masculinidade de Stephen Ryan, mas será que tenho mesmo que mentir para ele?

DEGUSTAÇÃO - Test driveOnde histórias criam vida. Descubra agora