Capítulo 5 - BRIN

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As luzes, a sirene, um monte de policiais, o corpo coberto de sangue. Tudo me vem à mente de novo. É sempre assim. Sempre volto a ser a garotinha fugindo, com medo da polícia, tentando me esconder. Sempre me transformo na mulher sem alma quando ouço as malditas sirenes.

— Brin! Fale comigo! Ei, responda! — a voz de alguém chamando meu nome me tira aos poucos do meu transe, e é como se meus olhos estivessem fechados e eu os abrisse devagar. Começo a ver aos poucos as coisas à minha volta. Percebo que não faço a mínima ideia de onde estou. A última coisa que me lembro é o idiota paranoico do Bruce tentando me arrastar até seu carro. — Ei, você está bem?

A voz doce de Stephen me faz levantar em um pulo. Observo bem onde estou e o local grande demais para um quarto, muito bem equipado, uma coleção de câmeras e vários livros indica que estou em seu quarto.

— Estou no seu quarto? Na sua casa? — pergunto em pânico e ele assente como se não fosse nada demais. — Por que você me trouxe para cá?

Ao invés de responder, ele se aproxima devagar e com as mãos nos meus ombros, me guia de volta a cama, onde me faz sentar. Me serve um copo de água, e embora eu não sinta sede, pego de sua mão. Ele se senta ao meu lado e enfim responde:

— Um cara a estava ameaçando, aproximei-me para ajudá-la, então a polícia apareceu e você travou completamente. Você entrou em transe, Brin, era como se nem estivesse ali.

— Não foi bem assim.

— Foi exatamente assim. Você sequer se deu conta de quando a peguei nos braços e a coloquei no meu carro, acho que nem se viu entrando na minha casa. O que aconteceu com você?

— Eu apenas me assustei. Não foi nada demais. Obrigada pela ajuda, mas preciso ir embora.

Levanto-me e ele faz o mesmo, segura minha mão e vejo a preocupação na maneira como me olha.

— Fica mais um pouco — pede. — Vamos conversar. Você não parecia com medo do cara maluco, Brin, você teve medo da polícia. Mas foi muito além de um medo qualquer, por que você não divide isso comigo? O que aconteceu para que você reagisse assim? É algo no seu passado?

Até acho fofo a maneira com que ele se preocupa comigo, mas não vou mesmo falar do meu passado com ele. Principalmente dessa parte. Na verdade, não poderia falar sobre isso nem se quisesse, e realmente não quero! E ainda há o pânico de o pai dele ver-me aqui, ele está me ligando há três dias e estou ignorando-o no melhor estilo "não quero atender". Vai ficar furioso se me vir aqui e pode estragar tudo.

— Eu não deveria estar na sua casa, Stephen e realmente não quero falar sobre isso. Agradeço sua ajuda, de verdade, você é legal. Mas eu já disse, meu interesse em você é outro. Não quero e não vou ser sua amiga. Eu preciso ir agora.

Ele assente cabisbaixo e me pergunto por um segundo o que estou fazendo. Tenho um serviço para cumprir e será muito mais fácil realizá-lo se eu ficar aqui com ele, no quarto dele, tão perto dele. Eu poderia inventar uma história qualquer que justificasse minha crise de pânico, e fazê-lo aproximar-se de mim. Sim, eu poderia. Mas olhando seus olhos verdes preocupados, e a confiança que depositou em mim ao trazer-me para dentro do seu quarto, percebo que não irei fazê-lo.

— Ai, Brin, se continuar sendo certinha nunca vai transar com esse cara — ralho comigo mesma.

Ele sorri da minha divagação.

— Você está bem longe de ser certinha, na verdade. Está mais para mentirosa e sedutora.

— Você quase me ofende desse jeito.

— Por que você não conversa comigo? Não precisa dizer o que não sentir vontade. Pode falar do seu cliente agressivo e maluco, da sua dança engraçada pelas ruas de Nova York. Pode falar do que quiser.

— Ei, você estava me seguindo?

— Apenas observando.

— Por que você quer tanto que eu fique?

— Porque não quero deixá-la sozinha hoje. Vamos ser amigos só esta noite, tudo bem? Você fica, se acalma, conversamos um pouco e a hora em que quiser ir embora, eu a levo até sua casa.

— Nada de sexo? — pergunto desanimada e ele abre um enorme sorriso ao confirmar.

— Nada de sexo.

Agora eu deveria ir embora, afinal de contas colocar-me na posição de sua amiga de confidências não vai me ajudar em nada a levá-lo para a cama, pelo contrário. Ele começa a me enxergar como amiga e jamais vai me enxergar como outra coisa. Se é que ele enxerga alguma mulher como outra coisa. Ele quer que eu fique para conversarmos e garantiu que não vai ter sexo. Que tipo de homem quer passar a noite com uma garota de programa sem transar com ela? Tirando quase todos os meus clientes, claro. Mas isso porque eles fazem o teste primeiro e percebem que sou péssima nisso e muito boa de lábia.

Aqueles olhos tão verdes me pedem silenciosamente que eu fique, sua mão grande e quente segura a minha e brinca com meus dedos. Seu perfume está por todo quarto, e eu não sei porque estou reparando nisso, mas mesmo sabendo que ficar vai atrapalhar meus planos de seduzi-lo, me pego assentindo. Querendo apenas por esta noite ter alguém com quem conversar apenas, alguém que vá se preocupar comigo e me mimar um pouco. Alguém que não quer me ver nua e que não vai me pagar pela conversa depois.

— Eu fico, se você me trouxer um chocolate quente e prometer que ninguém da sua família vai saber que estou aqui.

— Um segundo e vou providenciar isso — promete e abre a porta, mas volta para atrás e pede: — Por favor, não fuja.

— Eu não vou. Prometo.

Ele assente e vai buscar o chocolate e meu coração dá um salto no peito assustando-me.

DEGUSTAÇÃO - Test driveOnde histórias criam vida. Descubra agora