Capítulo 1 - BRIN

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APENAS ALGUNS CAPÍTULOS PARA DEGUSTAÇÃO.

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Apesar dos vários clientes a quem já atendi, um frio na barriga antes de encontrar um deles, é algo que simplesmente não consigo evitar. Trabalho com diversos tipos de pessoas, e pessoas são sempre imprevisíveis. Aprendi há muito tempo que não se conhece alguém de maneira alguma pela aparência, pelo que ela diz ser e nem mesmo pelo que falam dela. Você conhece alguém através das suas escolhas. E nesta parte, bem, eu sou sempre surpreendida. Como o cara que apareceu com uma cobra e me pediu para deixá-la à espreita, nos observando. Tínhamos que fazer devagar porque um movimento brusco, e ela nos picaria. Claro que isso não funcionou para mim, sou medrosa mesmo, admito. Eu fui a responsável pelo movimento brusco: gritei e pulei da cama em desespero. E isso acabou com o estranho cliente sendo a vítima da cobra, que só depois descobri não ser venenosa, graças a Deus.

Adicionei esse cliente à minha lista de não atender nunca mais.

Por pessoas como ele, que estou aqui nervosa e contando até vinte antes de entrar no famoso café mais caro de Nova York. Que espécie de homem chama uma garota de programa para um café onde todos poderiam vê-los? Mesmo assim, me rendo à sua mensagem enigmática e promissora e adentro o café caríssimo. Observo os clientes do local em busca do meu futuro cliente, torcendo que não seja um velho asqueroso, nem um assassino, um sequestrador, nem assaltante. Deus sabe como foi difícil comprar as coisas do pequeno apartamento onde realizo meus serviços. Se eu for roubada, jamais conseguirei repor tudo o que tem lá. Mas as pessoas neste lugar são distintas, elegantes, com porte altivo e falam muito baixo. Seus olhares caem sobre mim e se desviam com total indiferença. Pessoas ricas.

Olho mais uma vez a mensagem do misterioso cliente em busca de alguma informação de quem ele é.

Querida Brin,

Preciso dos seus serviços com o máximo de urgência e sigilo. Isso exigirá de você que se concentre em apenas um cliente, mas prometo pagar em dobro pelo dinheiro que perderá com os clientes que deixará de atender.

Caso esteja interessada, encontre-me no endereço abaixo às onze horas desta terça.

Prometo que valerá à pena.

É isso. Nenhuma dica de quem é o homem sigiloso. Observo mais uma vez os clientes e sento-me em uma mesa, pego o cardápio oferecido por um garçom extremamente bonito e quase engasgo com o ar ao ver o preço das coisas ali. Não me atreveria a pedir sequer uma água num lugar como este. Vejo os olhos do garçom pousarem por tempo demais no decote que estou usando, e deixo o cardápio sobre a mesa para ser sincera.

— Não vou pedir nada, estou esperando um cliente.

Sua expressão passa de assustada e surpresa para empolgada. Um sorriso surge em seus belos lábios quando se afasta. Pouco depois, retorna com um cappuccino coberto de creme e o coloca diante de mim.

— Por conta da casa para a moça tão bonita.

Sorrio em agradecimento. Se eu fosse boa no meu trabalho, sairia de graça com esse cara. Mas bem, não preciso perder mais uma foda porque sou ruim de cama.

Da maneira mais sexy que consigo, passeio a língua nos lábios e provo o belo cappuccino ciente do olhar atento do garçom gato, e merda! Está quente! Pelando! Disfarço minha careta e um sorriso quadrado cobre o xingamento que quase escapole da minha boca. Engasgo um pouco, sinto que nunca mais terei paladar na vida, mas fico orgulhosa de mim mesma pelo belo teatro. Estou fingindo há tanto tempo que me tornei mestre em nunca mostrar o que estou sentindo.

DEGUSTAÇÃO - Test driveOnde histórias criam vida. Descubra agora