A menina crescia e junto com ela seu poder se aperfeiçoava. A ajuda de sua avó também não se jogava fora, pois a velha havia sido uma das feiticeiras mais habilidosas do reino em sua juventude e agora tinha a chance de passar seus conhecimentos para a neta adotiva.
O nascimento de Ailuj era o que muitos ao saberem ficariam surpresos e talvez até horrorizados, pois a menina havia sido gerada pelas próprias sombras, sua natureza vinha do poder mais profundo das trevas, destinada a trazer destruição e caos ao mundo, levantando o Reino das Sombras o qual vivia para o grande poder destruindo o Reino da Luz que atualmente encontrava-se no auge do poder entre todos os reinos fosse do Norte ao Sul, de Leste a Oeste, a prática do poder da Luz era o que fazia do reino o superior entre todos, acreditava-se que seu senso de justiça era o que lhe dava maior honra sobre todos os outros, pois o poder em que todo o reino se baseava era a fonte mais pura de toda a existência. Por esse motivo o Reino das Sombras era temido pelos reinos inferiores, as trevas foram geradas nada menos do que da própria luz, não há sombra se não tiver uma luz para fazê-la surgir e esse era o motivo pelo qual tal nome fora dado ao reino praticante de magia negra.
Uma profecia há muito tempo surgiu e todos a conheciam bem, falava sobre a Filha das Sombras, aquela a quem o trono pertencia legitimamente e o tempo do caos havia chegado, Ailuj nascida anos depois, porém no mesmo dia em que o primeiro rei do Reino da Luz morrera a fim de impedir seu irmão de ter acesso a um poder inigualável e também incontrolável vindo das trevas, fora feito assim exatamente para se cumprir o que se dizia a profecia "onde vitória havia sido cantada, socorro e misericórdia também seriam suplicadas", isto é no mesmo dia, porém séculos depois para a palavra ser cumprida. No mesmo dia em que a Herdeira nascera uma mãe perdeu seu filho e com tanto sangue derramado foi cantado brados de guerra entre os seres místicos das trevas. O poder liberado por causa da menina havia afetado a própria lei da natureza a qual levou muitos a morte sem que entendessem o motivo.
Anos depois...
Certa vez estava Ailuj na floresta, já ia escurecer e ela estava longe da cabana juntamente com Notyelc praticando alguns feitiços que aprendera lendo o livro de sua avó, quando o céu começou a dar indícios mais nítidos de que logo anoiteceria ela decidiu voltar, perdera a noção do tempo entretida com os novos ensinamentos que o livro estava lhe proporcionando. A Velha também havia advertido ela para tomar cuidado ao praticar a magia por ali, embora muitos conhecessem sua essência poderiam sentir-se ameaçados por ela, pois tal tamanho de poder nunca fora visto pelos habitantes de qualquer outro reino e isso poderia fazer com que se sentissem ameaçados, após tal aviso alguns dos jovens com a mesma idade de Ailuj ou talvez um pouco mais a viram conversar sozinha e praticar magia, assustaram-se porque o que a menina fazia como havia sido advertida, ninguém jamais vira, seu poder vinha da fonte mais antiga. Há quem acredite que as trevas já existiam antes da própria luz, porém ninguém jamais confirmou tal informação, nem mesmo poderiam...
Logo toda a aldeia ficou sabendo do ocorrido e ela decidiu não mais ficar tão próxima de lugares onde poderiam vê-la.
Voltando para casa Ailuj cantava baixinho uma canção que sua avó costumava entoar para colocá-la para dormir quando esta ainda era criança quando escutou vozes não muito longe, ela parou de cantar e apressou os passos em direção ao som que aparentemente vinha da mesma direção do chalé. Ao chegar mais perto viu uma luz brilhante, logo percebera que era fogo e que seu lar estava em chamas, ouviu gritos e percebeu que vinha de dentro da cabana, sua avó ainda estava lá dentro, precisava ajudá-la, quando foi correr em sua direção Notyelc surgiu para impedi-la.
-Pare! Não pode ajudá-la! – disse parado em sua frente com ambos os braços ossudos e negros aberto embaixo de sua veste negra.
-Mas é claro que posso ajudá-la, saia da minha frente! – Ailuj respondeu nervosa, quase rosnando como um animal raivoso, nem mesmo ele sendo uma entidade gostaria de vê-la furiosa, mas neste momento era necessário, mesmo sendo a Herdeira do trono, Ailuj ainda era apenas uma adolescente, não pensaria com prudência em uma situação como aquela.
-Não pode princesa! Vão matá-la também! – onde ambos estavam não era possível que fossem vistos, pois as arvores os cobriam e a escuridão da noite lhes dava uma chance a mais de se manterem escondidos.
-Eu os matarei primeiro! – Os olhos violeta dela enfurecidos brilharam Notyelc não deixou de achar graça, ela seria uma grande Rainha, certamente piedade não seria seu ponto forte para com aqueles que entrassem em seu caminho. Sem esperar que tomasse uma nova atitude para impedi-la ela passou por ele, mas quando ia sair do meio dos arbustos escutou um alto grito, todos ali escutaram e saíram correndo com medo, mas Ailuj tampou os ouvidos e pôs-se de joelhos e em meio ao grito pode ouvir um sussurro que dizia: "Não venha! Apenas vingue-me! Não permita que nenhum deles viva, banhe a terra com o sangue e inicie o tempo de se cumprir a profecia", Ailuj colocou-se de pé e olhou para o chalé, sabia que era sua avó que se comunicava com ela, utilizava suas ultimas forças apenas para lhe pedir aquilo: "Vingue-me" ouviu novamente.
-Eu prometo que o farei! – Respondeu ela torcendo para que a Velha pudesse ouvi-la.
No resto da noite ela ficou ali, sentada na grama enquanto observava seu lar em chamas, ela não dormiu e muito menos proferiu alguma palavra, apenas manteve seu olhar fixo na cabana até não mais pegar fogo, tinha apenas algumas de suas partes ainda de pé enquanto todo o resto estava banhado em cinzas.
O sol nascia e em seu rosto uma feição que transmitiria medo a qualquer um. Ailuj se levantou e Notyelc a acompanhou com o olhar observando o que a menina pretendia fazer e então ela gritou, mas não era um grito agudo ou de quem carregava dor, mas um grito de ódio e sede de vingança soava mais como um rugido, não como de um Leão, mas sim de um monstro, capaz de fazer o homem mais corajoso urinar de medo, quando se calou apenas olhou para frente e continuou andando...
Andando em direção a aldeia.
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Filha das Sombras
HorrorNum mundo sombrio, um lugar cheio de dor, aflição e guerras... Uma era antiga, domada por trevas que nunca antes foram vistas, onde a escuridão e o mal existiam. Uma era antiga, manchada pelo sangue inocente de muitos homens, mulheres e crianças. Um...