Ao abrir dos portões foi possível ver que alguém arrastava uma moça que se debatia a fim de livrar-se das mãos do asqueroso homem.
O rei encarava bem o Caçador, em sua boca havia um fio de palha que ele mordia enquanto no canto de seus lábios havia um meio sorriso.
-Aqui está o que me pediu Majestade! – disse ele para o rei.
-De fato faz jus a sua reputação Caçador! – respondeu ele.
-Eu disse ao senhor, nunca perco uma boa caça! – Rannard deu uma piscadela um tanto ousada. O rei o ignorou e voltou sua atenção para a moça que o outro agora arremessava aos seus pés. Ailuj ergueu o rosto encarando-o, notou que o aspecto velho que durante meses havia criado em sua mente sobre ele era de fato real, os cabelos grisalhos, a barba por fazer, não muito alto, ao perceber sua altura notou também que o rei adquirira o dom de crescer para os lados. Ele por outro lado não pôde deixar de notar que a moça era dona de uma beleza inigualável, mal podia crer que era ela quem lhe causara tantos problemas há meses atrás, aos seus olhos não passava de uma menina. Observou a cor peculiar que ela tinha nos olhos e como o vestido lhe caia bem valorizando as curvas de seu corpo, de fato era bela!
-Margrim! – chamou o rei. – Entregue a esse homem a recompensa combinada e tragam essa moça para dentro. O mordomo que outro dia havia acompanhado Rannard ao castelo obedeceu às ordens de seu senhor, assim que lhe foi entregue o saco com moedas de ouro o Caçador fez uma breve reverência e se retirou, porém antes que as portas do castelo fossem fechadas o olhar dele com o de Ailuj se cruzaram.
Ao adentrar a enorme estrutura a jovem notou as cores frias que predominavam todo o ambiente, iam do branco até o preto em todo o decorrer do local, provavelmente todo o resto do castelo deve ser assim, pensou.
Poucos passos à frente o rei falava com Margrim, Ailuj sabia que era sobre ela, mas não conseguia ouvi-los. Depois que terminou de falar o mordomo assentiu e ele prosseguiu seu caminho sem olhar para trás.
-Soltem-na! – disse Margrim. – As ordens do rei são que levem esta moça para seus aposentos e lhe preparem um banho e a sirvam com comida em seus aposentos! – ele voltou seu olhar para ela. – É da preferência de vosso senhorio que a senhorita descanse antes de se juntar a ele! – sem dizer mais nada ele saiu andando deixando Ailuj na companhia dos criados que a guiaram pelo castelo.
Ailuj encarou a banheira com água quente e pétalas de rosa, ela não entendeu o porquê das pétalas, mas achou intrigante a mistura dos dois. Logo entraram duas jovens moças e a lavaram dos pés a cabeça, em certos momentos sua vontade foi de queimar ambas pela falta de delicadeza em pentear seus negros fios de cabelo e insistirem em esfregá-la tanto, não era possível que estivesse tão suja!
Depois do banho fora direcionada para um lindo quarto Ailuj olhou ao seu redor observando cada detalhe das paredes brancas com detalhes em vermelho e dourado, achou estranho que ali houvesse cores além de preto no branco. Olhou para a cama de casal com um cortinado vermelho a sua volta e seu corpo suplicou por ela, notando seu cansaço as aias saíram dali depois de enfatizar que caso ela precisasse de algo não precisaria hesitar em chamá-las, Ailuj apenas assentiu, quando ambas fecharam a porta, sem pensar duas vezes ela seguiu para a cama e deitou-se ignorando qualquer pensamento dos planos que tinha decidindo que qualquer plano que tivesse a intenção de colocar em prática poderia esperar!
Horas depois ela acordou, notou que estava vestida com o roupão que lhe foi entregue após o banho, alguns minutos depois as aias retornaram avisando-a que o rei estava a sua espera para o jantar, ao ouvir tal pronunciamento o estômago de Ailuj roncou implorando por comida, foi quando notou que não havia se alimentado ainda.
O rei aguardava sua nova convidada no salão de maior privacidade do castelo, era menor que os demais e assim ele preferia. Quando as portas foram abertas Ailuj apareceu vestida em um belo vestido rose, os cabelos estavam em parte presos por um objeto dourado em formato de folhas e o restante lhe caia como uma cascata negra pelas costas, levemente maquiada dando aos olhos violeta um especial destaque, em seu pulso uma pulseira também dourada que ia até um pouco mais acima no antebraço. Ao vê-la o rei pôs-se de pé e ela o reverenciou graciosamente como uma verdadeira dama, era surpresa para ele ver que a jovem tinha modos, deu-lhe um breve maneio de cabeça e estendeu o braço em direção a cadeira do outro lado da mesa para que ela se acomodasse.
Por alguns minutos ficaram em silêncio, apenas saboreando a comida, Ailuj não tinha vontade alguma de conversar, mas sabia que uma hora ou outra teria que se pronunciar, por sorte o rei fora o primeiro a fazer isso.
-Espero que esteja bem acomodada em seus aposentos senhorita!
-De fato estou Majestade! Agradeço por sua gentileza! – respondeu ela, ao ouvir sua voz pela primeira vez notou que assim como sua beleza ela soava serena, porém firme.
-Fico feliz! – alguns segundos se passaram até que ele voltasse a falar: - Quero me desculpar com a senhorita por tê-la tratado de forma tão selvagem para que pudesse tê-la aqui em meu castelo, mas devo dizer que não me deu outra escolha! – seu olhar era sugestivo, Ailuj achou melhor apenas assentir fingindo sentir-se envergonhada.
-Por esse motivo achei que minhas primeiras boas vindas seriam na cela de uma de suas masmorras! – ela riu e o rei a acompanhou.
- Não teria por que tratar uma jovem tão bela dessa forma quando se há a possibilidade de fazer alianças! – um brilho passou pelos olhos dela e a satisfação dentro de si era indecifrável.
-É claro! – sorriu e voltou a comer. Pelo resto do jantar, uma vez ou outra conversavam sobre algo e no fim o rei lhe disse que era muito bem vinda e que poderia sentir-se a vontade e caso precisasse de algo não hesitar em chamar seus empregados, "todos que dentro deste castelo estão aqui para servi-la, caso precise, até mesmo eu!", foram as palavras dele e Ailuj teve vontade de vomitar aos seus pés diante de tanta simpatia forçada por alguém que claramente a deseja nua em sua cama, contudo era necessário controle e inteligência, pois esta poderia se tornar sua maior arma!
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Filha das Sombras
HorrorNum mundo sombrio, um lugar cheio de dor, aflição e guerras... Uma era antiga, domada por trevas que nunca antes foram vistas, onde a escuridão e o mal existiam. Uma era antiga, manchada pelo sangue inocente de muitos homens, mulheres e crianças. Um...