A Menina Coberta de Sangue

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 Ailuj adentrou na floresta, estava descalça, ela sentia cada planta abaixo dos seus pés assim como galhos também, alguns até espetavam-na, mas não estava preocupada com isso. Seu olhar agora era frio, maxilar cerrado assim como as mãos mostrava a qualquer um seu ódio e fúria.

Ouviu vozes misturadas, barulho de ferro sendo fundido, nada que não fosse normal na aldeia, parecia um dia comum, Ailuj então saiu de dentro da floresta ficando a vista para todos, as pessoas foram notando sua presença aos poucos, um cutucava o outro até que um deles disse:

-Era para ela estar morta! – ao escutar tal comentário Ailuj virou-se para o quem proferira tais palavras e deu a ele um leve sorriso diabólico, nada doce, abriu os braços e fechou-os batendo uma palma da mão com a outra, dali saiu algo preto parecido com correntes que entrou pelo estomago do homem e saíram tão rápido quanto, algumas pessoas começaram a gritar e correr, mas Ailuj era mais rápida em seus movimentos do que elas, ficou a chicotear muitos que tentavam fugir dela e para que nenhum deles ficasse de fora da brincadeira com um grito raivoso colocou barreiras mais parecidas com fumaça ao redor de todo o vilarejo e os que se arriscaram em passar morreram intoxicados com o veneno contido no feitiço.

Ela fechou os olhos concentrando-se e quando voltou a abri-los seus olhos brilhavam em sua cor natural porém intenso, parecia que sugaria a alma de qualquer um que ousasse encará-la, ergueu se no ar e ao redor de seu corpo a fumaça negra fez-se presente, do céu começou a cair chuva de sangue e então ela proferiu as palavras que aprendera quando criança invocando seus cães infernais para terminar o trabalho.

Ailuj viu um rosto conhecido, era Nila, Ailuj lembrou-se de todas às vezes depois do primeiro encontro das duas em que ela a chamou de aberração e as outras inúmeras vezes em que ela juntamente com seu grupo de idiotas a maltrataram e falaram mal tanto dela como de sua avó. A expressão "sangue nos olhos" nunca seria tão perfeitamente colocada como naquele momento, ser criança e não ter amigos poderia ser difícil, porém ser zombada e caçoada por todos era uma infância cruel até mesmo para ela, mas agora nada disso importava, ela não era mais aquela garotinha embora ainda fosse apenas uma adolescente, porque algo havia mudado nela na noite anterior e jamais voltaria a ser como antes!

Observou o pavor de Nila e aproximou-se dela dispensando o cão do inferno, estava mais velha, quase uma adulta agora, mas não deixava de ser a mesma pessoa desprezível e egoísta que sempre foi e utilizando as mais sinceras palavras, um pedido de desculpas jamais poderia ser o suficiente para que Ailuj se esquecesse de quem Nila fora durante toda sua vida, ela colocou a garota de pé e ousou sufocá-la um pouco, a menina não a tocava apenas movimentava a sua mão fechando-a lentamente.

-"Aberração"... Você me definiu assim por muito tempo Nila, mas jamais viu a verdadeira aberração em mim! – ao terminar essa frase Ailuj afastou-se dela alguns passos e permitiu que ela voltasse a respirar, mas Nila ao olhar debaixo do vestido bege da menina percebeu que algo se movia ali, viu uma mão com garras e um ser estranho saindo de lá, ele não tinha rosto e nem membros masculino ou feminino, sua pele era branca e enrugada e tudo que havia no rosto era a boca, sem olhos e sem nariz ele rastejava no chão até ela, quando tentou gritar ele se pôs de pé e aproximou-se dela sugando sua alma, energia e tudo de vida que havia nela. Ailuj fez questão de assistir, pois para ela era isso que Nila havia feito consigo na infância. Nila caiu no chão com uma aparência velha, com a pele enrugada e colada no osso, morreu com os olhos abertos... Há quem diga que nas histórias antigas quem morria por um sugador de almas na verdade não deixava a terra, mas ficava preso no seu corpo para sempre, observando tudo que acontecia ao seu redor sem poder fazer nada, como se estivesse em coma, Ailuj torcia para que aquilo fosse verdade, ela sorriu e deu as costas ao corpo inerte de Nila.


O Céu ainda mantinha-se um pouco cinzento, mas o sol dava indícios de aparecer, seus fracos feixes de luz apareciam por detrás das nuvens, era como se o próprio céu tivesse se mantido de luto por saber o que acontecera durante toda aquela manhã e agora reaparecia para tentar acender um fogo de esperança no coração daqueles que teriam seu destino traçado pelas mãos da herdeira, o tempo agora não mais era de paz e prosperidade, dias difíceis haveriam de vir e certamente nenhum reino estava preparado para a tormenta que era a Filha das Sombras. Poderia até ser considerado o dia do juízo final, pois agora a humanidade toda pagaria por cada erro e maldade cometida. Ailuj nem de longe seguira o termo "não pagar na mesma moeda", para ela funcionava mais o tipo "pagarei em dobro pela desgraça que causaste".

Ailuj caminhava pelo vilarejo, os cães haviam sumido voltaram para as trevas do qual nasceram, havia só ela e os corpos no chão, seus pés banhados de sangue assim como todo seu corpo, a chuva de sangue também havia cessado e ela passava por entre os corpos tranquilamente, como se estivesse caminhando pelo bosque, ouvindo o som dos pássaros a cantar e a água a correr no riacho, mas na realidade tudo estava em silêncio, nem mesmo a própria natureza atrevia-se a fazer um murmúrio sequer, tudo ali parecia sentir a tensão do horror que acontecera, menos ela, Ailuj estava bem, não seria certo dizer que estava em paz, pois não havia como ela sentir isso, mas em seus lábios havia um sorriso, quase poderia ser confundido por alegria, quase...

 Ainda coberta de sangue Ailuj viu o riacho e achou melhor se lavar, sem cerimônia ela despiu-se do vestido bege que usava e da roupa intima ficando assim completamente nua, Notyelc observou aquilo com um revirar de olhos, ela realmente não sabia nada de etiqueta, precisaria ensinar a ela como comportar-se diante do rei futuramente.

 As águas adquiriram a cor escarlate do sangue, Ailuj lavava seu cabelo e mergulhou por diversas vezes, demorou um pouco até que ele ficasse inteiramente limpo. Quando saiu Notyelc a esperava com suas roupas em mãos, mesmo ainda molhada ela vestiu-se e os dois voltaram a caminhar, ficaram assim por mais de três dias, Ailuj alimentou-se de frutas que encontravam, dormiam dentro de cavernas na companhia de uma fogueira para esquentá-los e folhas no chão para que ela não se deitasse no chão frio.

Quando ia se completar uma semana que estavam naquela miserável rotina encontraram algo estranho, era uma porta, ela dava entrada ao que parecia ser mais uma caverna, porém esta provavelmente era usada como casa por alguém. A porta se abriu e de lá saiu um velho, tinha cabelos brancos, suas roupas eram simples e usava um tipo de avental que por sinal encontrava-se sujo. Ailuj olhou para ela mesma e riu em pensamentos, olha quem esta falando sobre "estar limpo", ela parecia ter vindo da guerra!

-O que faz aqui criança? – perguntou o velho.

-Estava caminhando! – respondeu ela, como se aquilo fosse à coisa mais normal do mundo, até mesmo para ela não era!

-Eu não costumo ver muitas pessoas caminhando por aqui, especialmente crianças, onde estão seus pais? – ele parecia desconfiando, Ailuj esperava que ele estivesse tremendo de medo ao invés de estar conversando com ela tão tranquilamente. Era obvio que ela com sua aparência inocente não lhe causaria medo algum, mas será que ele não estava vendo Notyelc? Com esse pensamento ela olhou para ele e percebeu que algo estava diferente nele, não sabia explicar o que e percebendo o olhar dela ele lhe sussurrou no ouvido que o velho não podia vê-lo, a menos que ele quisesse ser visto.

-Eu não tenho pais... Senhor! – foi estranho para ela ser educada.

-Está sozinha nesta floresta?

-Sim senhor!

-Bem... Entre então, por favor, aposto que deve estar com fome, farei algo para você comer!

Ela aceitou o convite dele e quando passou pela porta percebeu que o velho poderia dar a ela muito mais que comida, poderia lhe dar conhecimento!


Olá amados leitores espero que estejam gostando da história!
O Capitulo de hoje saiu bem grandinho kkkkk tentarei encurtar da próxima vez!
O que será que nossa Ailuj encontrou na casa do velho estranho?
Próximo capítulo virá ainda essa semana! Prometo!!!

Não se esqueçam de comentar amores, a opinião de vocês é muuito importante para mim e seus comentários me incentivam a continuar escrevendo então, uma dica: quanto mais comentários mais chances de capítulos durante a semana hahaha!! 

beijinhos de luz :* 

😘❤️

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