A Filha do Presidente

[Eighty-five]

Já se tinham passado aproximadamente três semanas desde aquela noite e a verdade é que tenho tentando ao máximo distrair a minha mente com trabalho e mais trabalho, o que de certa forma me tem ajudado durante todo este processo.
Ultimamente tenho mantido contacto com o Charlie e devo dizer que parecendo que não, ele conseguia trazer o melhor de mim em todos os sentidos e talvez fosse exatamente disto que eu precisava neste momento.
Eram 7 da manhã e por incrível que pareça já estava de pé, com o pequeno-almoço tomado e pronta para mais um dia de trabalho. Tenho a sensação que o meu pai nunca esteve tão feliz em ver a sua herdeira a seguir os seus passos, mas para ser sincera sentia que não me enquadrava de todo nesta vida política, por isso como devem imaginar, não era exatamente a pessoa mais realizada deste mundo.
"Malia já viste as notícias?" Perguntou a Beh adentrando o meu escritório depois de umas 3 horas.
Sem pensar duas vezes liguei a televisão e não demorou muito até esboçar um grande sorriso e correr logo de seguida para a oval como uma criança de 5 anos.
"Malia, antes que digas alguma coisa, a resposta é não!" Atirou o meu pai furtivamente e só consegui revirar os olhos pela falta de compreensão.
"Não é como se eu tivesse vindo até aqui para te pedir permissão!" Disse no mesmo tom com que ele me falou.
"Malia isto está fora de discussão e eu pensei que já te tinhas conformado com a ideia!"
"Pai acabaram de prender o Rowan e desta vez ele ficará preso para o resto da vida a 500m de profundidade, que mal é que me poderá acontecer se eu voltar para a base?!"
"A questão é que ele possui uma vasta rede de seguidores! Não vou arriscar a tua vida, esquece."
"Uma vasta rede de seguidores que por sinal não opera sem ordens diretas do chefe! Pai eu já decidi e hoje mesmo irei preparar as minhas malas para voltar onde pertenço."
"Malia! Não é seguro para ti e tu sabes bem, por favor sê mais compreensiva."
"Pai, eu tenho 21 anos ou seja sei bem tomar conta de mim mesma e queiras ou não, um dia tens que me deixar abrir as asas e sair do ninho! Não é na política que encontro a minha felicidade e só te peço que compreendas isso e que me deixes realmente fazer o que gosto que neste caso é ser um soldado!" O meu pai passou as mão no seu cabelo em exasperação e eu tinha noção do quão complicado era esta situação para ele, mas também precisava que compreendesse o meu lado.
"Eu vou exigir segurança máxima em teu redor estejas onde estiveres e quero que me ligues todos os santos dias, ouviste bem?" Disse ele e eu não pude de evitar de correr para os seus braços.
"Amo-te muito!!" Disse entusiasmada.
"Eu também querida, agora vai lá preparar as tuas malas que eu vou falar com o Jake e logo à tarde o Taylor leva-te." Sorri e saí da oval mais feliz que nunca.
Não tarda estaria de volta onde pertencia e se pensam que isto só iria piorar a minha situação atual com o Jake, estão enganados porque agora estaria mais focada que nunca em cumprir com os minhas ordens e deveres.

Finalmente tinha chegado o momento de me despedir da minha casa e tão cedo não tencionava voltar, pelo menos enquanto não for um soldado oficial.
"Vou sentir saudades tuas!" Disse a Beh assim que fechei a última mala.
"Sabes que se pudesse levava-te comigo, aliás sempre te podes inscrever e quem sabe se não és admitida."
"Admiro a tua imaginação fértil, disso podes ter a certeza." Respondeu ela ás gargalhadas.
"Nunca digas nunca!"
"Malia eu não sou assim tão rija e definitivamente não fui feita para andar com uma arma carregada nas mãos."
"Bem tu é que perdes." Disse dando de ombros.
"Toma cuidado contigo e sempre que puderes vem-nos visitar, ouviste bem?!"
"Sim mãezinha, mais alguma coisa?"
"Sim, mantém-te longe do Jake, mas isso tu já sabes."
"Não te preocupes, as coisas estão oficialmente encerradas entre nós." Ela sorriu e logo a seguir abraçou-me maternalmente e posso dizer que me iria custar muito não tê-la comigo diariamente.
Aproveitei para me ir despedir do Chris que estava mais descontente com esta minha decisão do que propriamente o meu pai.
"Tu tens noção de onde é que te estás a meter?" Perguntou ele olhando-me seriamente.
"Tu falas como se eu já não tivesse lá estado..."
"Tu bem sabes que o teu treinamento está a terminar e não tarda já estarás apta para ires em missões."
"Por isso mesmo é que não te deves preocupar, tal como disseste, estarei apta." Ele apenas revirou os olhos.
"Amo-te imenso pirralha, apenas promete-me que vais ter cuidado e por favor hidrata-me esse cabelo!" E como devem imaginar não consegui segurar o riso.
"A sério que achaste que esta era a melhor altura para me dizeres isso?"
"Mas existe altura errada para te mandar hidratar isso?"
"Eu amo-te, Charlie!" Disse abraçando-o e já sentindo saudades por antecipação.
Mais tarde passei cerca de meia hora a ouvir o meu pai e o seu discurso em como não me devia armar em salvadora da pátria, não me pondo em perigo iminente como já era habitual e no final não consegui evitar de derramar umas lágrimas porque de facto ele era a pessoa mais importante da minha vida e eu devia-lhe tudo e mais alguma coisa.
O caminho até à base foi feito mais rápido que o habitual e enquanto me aproximava sentia uma crescente excitação a crescer no meu interior.
"Boa tarde, eu vinha..." Comecei assim que entrei na recepção mas fui rapidamente cortada por aquela arrogância habitual da recepcionista e devo dizer que até disto senti saudades.
"Sim sim, poupa-me o discurso e dirige-te ao escritório do comandante que quer ter uma conversa contigo."
Sabia que isto não passava de uma formalidade, mas não vou negar que ao ouvir aquilo o meu coração apertou, pois como é que era suposto olhar para a cara dele pela primeira vez, ao fim de quase um mês?
E foi exatamente naquele momento que soube que isto iria ser mais complicado do que imaginei...