II

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Carmilla's P.O.V:

Uma forte oscilação vinda da carruagem me despertou inesperadamente. Entreabri meus olhos e ainda me encontrava desconfortavelmente deitada sobre minha bolsa e no pequeno banco de couro. Minha mãe cochilava delicadamente inclinada apoiando-se no vidro da carruagem. Parei novamente para observar a paisagem do bosque, desta vez, já era noite.

A luz perolada da lua refletia meus olhos, fazendo toda a flora parecer estar em plena vida. As folhas quais despendiam-se das árvores caíam, deslizando lentamente pelo vento que soprava suave. Soltei um pequeno sorriso ao ver tal poesia vinda da natureza. Eu amava observar a delicadeza dos pequenos detalhes. Acho que herdei o bom gosto de minha mãe. Mamãe costumava ler muitas obras filosóficas e era apaixonada pelos nomes da literatura inglesa, entre eles, Shakespeare, Edgar Allan Poe, Mary Shelley.  " Talvez eu devesse experimentar escrever algo ", pensei comigo mesma, me perdendo ao me deliciar do silêncio no bosque. " Talvez, um dia ", concluí. 

  —  Pare! Pare já esta carruagem! Estou mandando! — Uma voz ordenou, de forma violenta, fazendo com que o cocheiro parasse bruscamente a carruagem. Minha mãe se despertou do sono, assustada. Eu me encolhi no banco assim que vi dois homens encapuzados apontando uma pistola de pederneira para o nosso cocheiro. 

  — Ande, seu velho insolente! Eu mandei descer!   — Um dos homens pulou até o banco do cocheiro e o jogou no chão. 

— Mircalla, fique quieta e não se mova!   — Minha mãe cochichou em pânico, enquanto também procurava se proteger. 

Os homens nocauteavam o cocheiro e eu podia ouvir de dentro da carruagem todo o som da violência, lá fora. Trouxe as mãos até a boca, para conter o choro, o pânico, o grito que poderia sair a qualquer momento. As lágrimas deslizavam silenciosamente pelo meu rosto e eu não sabia o que fazer, até que ouvi um estrondo, que cortou totalmente o silêncio do bosque, fazendo as aves acordarem. A pistola de pederneira havia sido disparada. 

Sem pensar duas vezes, abri bruscamente a porta da carruagem e saí correndo pelo escuro, totalmente sem rumo, deixando minha mãe e os pertences pra trás; Só pude pensar em me salvar naquele momento. As lágrimas me embaraçavam a visão. Eu estava confusa, não sabia o que fazer.

  — Mircalla! Mircalla! — Ouvi minha mãe proferir, enquanto me distanciava da cena do crime. 

Me escondi atrás de uma grande árvore que achei na rota de fuga. A adrenalina do momento fazia meu corpo estremecer-se até o último fio de cabelo. O que eu poderia fazer? Levei as mãos novamente até os lábios para conter quaisquer ruídos que o medo poderiam me tirar. Meus ouvidos estavam atentos. Naquele momento, tudo parecia estar sensível. Eu parecia estar mais atenta e meus olhos podiam enxergar além do simples breu e névoa que cobriam o bosque estiriano. Os meus ouvidos ouviam perfeitamente os sons da noite. Minha pele se eriçava por cada vibração sonora. Eu parecia estar ganhando super poderes naquele momento. 

  —  Por favor, não me mate! — Ouvi a voz da minha mãe suplicar. O pânico me tomou conta novamente. " Mircalla, faça algo! " pensei repetidas vezes comigo mesma. Um estalide. Estremeci e comecei a chorar como um bebê, contendo os soluços com a mão para que os ladrões assassinos não me encontrassem. Um novo estrondo. Os pássaros voaram em frenesi. O gatilho havia sido puxado. Cerrei os olhos, procurando confortar o coração. Eu era incapaz de raciocinar, de me levantar, de me mover. Estava em choque. O que me restaria agora? 

Written In Blood.Onde histórias criam vida. Descubra agora