III

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Laura's P.O.V: 

  — Bom dia, Laura! - Disse carinhosamente madame Perrodon, enquanto entreabria a porta do meu quarto.  — O General Spielsdorf e Bertha, já estão aguardando você e seu pai para o desjejum.

Bertha era a sobrinha do General Spielsdorf, um velho amigo de meu querido pai e, ambos haviam desembarcado em Estíria há alguns dias. Estavam hospedados no pitoresco castelo onde eu vivia. Há muitos anos eu me encontrava isolada da sociedade e, contato humano realmente fazia com que me sentisse muito só. 

  — Bom dia, madame Perrodon. — Murmurei, enquanto a mesma entreabria as cortinas das grandes vidraças do meu quarto e deixava um pouco da luz da manhã iluminar o ambiente.  Fazia frio naquele outono. Eu havia dormido confortavelmente com grandes cobertores de pele. Meu maior desafio naquele momento, era deixá-los para trás.  Madame Perrodon, era uma senhora alta, de cabelos brancos trançados e cuidadosamente arrumados. Era dona de um semblante sereno e uma cordialidade nata. Me acordava todos os dias com carinho. Acho que, madame Perrodon era a figura ideal de uma mulher de meia idade: Sempre bem vestida, sempre bem informada, dona de uma educação incrível e muito receptiva. Eu nunca havia conhecido uma pessoa tão inteligente. Sentia falta da infância, quando ela sentava-se comigo no jardim e lia contos de fadas. 

  — Vamos, Laura. Desperte. — Sussurrou, enquanto acariciava o meu rosto. Estava um pouco confusa pela sequência de sonhos bizarros que havia tido na última madrugada.

  —  Eu já desço, madame Perrodon. — Respondi, entreabrindo os olhos.  Ela se virou de costas para mim e caminhou em direção á porta do quarto, enquanto respondia que eu deveria comparecer para o desjejum em cerca de meia hora, que assentiu com a cabeça enquanto fechava a porta do quarto. Em seguida, me sentei sobre a cama, observando a paisagem lá fora: Era muito cedo e havia névoa em volta dos jardins do castelo, o que fazia com que eu me sentisse cada vez mais preguiça. Decidi obedecer madame Perrodon e me levantar. 

Já havia feito meu higiene pessoal. Me encontrava, agora, totalmente desperta e dispersa, sentada em frente á velha penteadeira que pertencera à minha mãe, escovando meus longos cabelos louros, fitando á mim mesma sem nenhuma expressão no olhar. Tentava encontrar uma interpretação e um sentido para meus sonhos. Os tivera quando criança e, depois, estes cessaram-se. Agora, prestes á completar meus dezoito anos, estes voltaram a me rondar, me deixando extremamente confusa, pois, é exatamente o mesmo sonho que tivera quando era apenas uma menina: Sonhava lucidamente que, estava deitada à minha cama e, acordava com o gélido vento do bosque ao lado do castelo invadindo o meu quarto. Quando me dava conta, as velas do local haviam sido completamente apagadas e eu me via no breu, sendo apenas observada por pares de olhos amarelados, como os de um enorme gato ou um felino selvagem, que, em seguida, saltava. O mesmo, me atacava, diferindo uma mordida dolorida à minha jugular. Então, em pânico e amedrontada, gritava pelo meu pai e o mesmo, entrava no quarto constatando que nada havia acontecido. 

Voltei á mim e constatei que havia perdido muitos minutos dispersa em pensamentos. Era hora de descer para ver Bertha, o general e meu pai. Madame Perrodon sugeriu que nós duas fôssemos passear pelo bosque depois do café da manhã, para que eu pudesse apresentar as redondezas e as belezas que cercavam o castelo para Bertha. Me levantei, deixando a escova de cabelos sobre a penteadeira. Me encarei através do espelho. Eu ainda tinha aqueles leves traços infantis como há anos atrás. Os meus cabelos estavam presos em um coque levemente desajeitado, com alguns fios que pendiam pelo meu pescoço. A minha pele era levemente rosada, algumas sardas sobre meu nariz me davam até um charme. Meus olhos eram grandes, esverdeados e a minha boca se moveu e, em um sorriso levemente desenhado quando me dei conta que, a Laura, aquela garotinha serelepe, não havia mudado tanto. Peguei rapidamente um par de luvas brancas, rendadas, que madame Perrodon havia deixado sobre a penteadeira para que combinassem com o vestido escolhido, qual já estava trajando: Branco, rendado, quase angelical. Rapidamente, saí do cômodo, fechando a porta por trás de mim e, num suspiro passei a descer as escadarias, pronta para um novo dia. 

Written In Blood.Onde histórias criam vida. Descubra agora