Carmilla's P.O.V:
— Mircalla, não se esqueça do seu compromisso desta noite — Informou minha mãe, com autoridade em sua voz. Assenti com o olhar e voltei a fitar o livro em minhas mãos, uma das obras de Jane Austen. A escrita da autora me agradava, era uma grande mulher, pela sua época, o que me trazia um sentimento de admiração. Eu não poderia ser uma grande mulher, mas seria uma grande lenda quando morresse e, o mundo deveria me conhecer. Já não conseguia me imaginar vivendo a vida de atrocidades em Estíria, afinal, logo descobririam que a minha ilustre e exótica família estava por trás dos crimes há séculos.
Bem, muito tinha mudado desde o século XVIII: Desde as vestimentas, até a tecnologia. Contávamos com a comodidade de energia elétrica; o entretenimento de fácil acesso, como o rádio. Os vestidos não eram mais conplicados e, vez ou outra, eu poderia usar calças. As calças me agradavam, afinal, não eram tão pesadas como os vestidos e me deixavam esguia. A moda era influenciada por Coco Chanel, uma grande estilista francesa. Paris, ah, doce Paris! Como eu queria conhecê-la!
Passei toda a tarde lendo os livros de Jane Austen. Eu já tinha mais de cento e cinquenta anos e eu me considerava jovem, que ironia!
O anoitecer começara a chegar. Me apressei, deixando o livro sobre uma mesa na biblioteca do castelo e fui me arrumar rapidamente. Não poderia me atrasar, aliás, eu não poderia ficar mais nenhum segundo ali. Hoje, eu me daria a minha carta de alforria.
Cerca de uma hora depois, chequei o relógio de bolso: Oito da noite.
Havia penteado meus cabelos em um charmoso coque. Devido ao frio em Estíria, decidi que iria trajar um terno e assim o fiz: Calças pretas e altas, sapatos oxford com detalhes em branco, cuidadosamente engraxados. Uma camisa vermelha contrasteava com o preto impecável do blazer do terno, estilo smoking. Tive o cuidado de dobrar um lenço da mesma cor que a camisa e colocá-lo na lapela do paletó. Também acompanhei a vestimenta com uma gravata borboleta preta, o meu fiel relógio de bolso preso ao terno e, o detalhe final: Uma cartola.
— You're a gentleman, Mircalla! — Ri de mim mesma, enquanto me olhava ao espelho.
Me despedi de mamãe, prometendo voltar na manhã seguinte.
Passei pelo hall de entrada do lugar, onde deixei com que meu instinto felino se apossasse do meu corpo e me transformasse na figura de pantera.
Passei a correr com liberdade pelos bosques, e com agilidade e destreza.
O tempo em que passei com a minha família me ajudou a entender quais eram meus poderes, ou seja lá o que fosse isto, bem, agora eu conseguia me manter racional em forma de animal e conseguia pensar, sentir, ver. Também conseguia controlar os instintos e, não atacava mais ninguém por puro impulso.
" A única coisa boa que me fizeram! "
Corri com mais rapidez pelo bosque gélido, até avistar as luzes de Estíria.
Iria pegar o primeiro trem pela manhã. O destino? O mundo.
" Laura! "
O pensamento me fizera recordar da jovem que conheci um século atrás: Provavelmente ela estaria morta e á mercê do mundo pela maldição de minha mãe. Ela poderia estar vivendo em Paris, ou na Inglaterra, ou até mesmo no Japão. Eu jamais iria ter a sorte de encontrá-la novamente e, mal pude conhecê-la.
" Enquanto eu conseguir a perseguir em seus sonhos, saberei que está viva. "
Apressei meus passos, seguindo as luzes da cidade.
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Written In Blood.
VampireA história de Carmilla começa no século XVIII, quando perde sua mãe por uma fatalidade - ou pensa que a perdeu - e ao mesmo tempo descobre que há algo extraordinário acontecendo consigo. Laura é uma adolescente de dezoito anos que, coincidentemente...