IV

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Carmilla's P.O.V:

Abri lentamente os olhos, ao ouvir uma voz aguda e levemente irritante ecoar pelo bosque, que gritava: — Laura! Laura! Laura! Onde está você? — A outra voz, de longe, respondia em um tom mais doce: — Bertha? BERTHA!!! — Pareciam perdidas.

  — Moça? Você está bem? — Quando me dei conta, havia uma garota de estatura pequena á minha frente. Seus cabelos eram encaracolados e negros, usava um lindo vestido prateado, em cetim e um belo casaco, feitos com pelos de algum animal. Seus lábios eram carnudos. Era uma garota muito bonita. Aproximou-se bruscamente, tocando meu rosto com suas pequenas e delicadas mãos. — Oh, meu Deus! Você está congelando! — Retirou o seu grande casaco e colocou sobre mim, enquanto me retirava do chão, desajeitadamente. Eu ainda estava em choque pelo fato da última noite. Entreabri os meus lábios para tentar dizer algo á aquela garota: — M-minha m... Mãe está...

Pausei e derrubei algumas lágrimas, foi quando meu corpo pareceu entrar em um choque de adrenalina e, como na noite passada, meus ouvidos ficaram sensíveis, cada som passava a eriçar cada poro da minha pele. Meus olhos conseguiam ver cada mínimo detalhe. Foi quando vi que a garota se afastara bruscamente de mim, pálida, assustada. Meus tímpanos captaram novamente a voz que procurava por alguém: — BERTHA! DEUS, BERTHA! ONDE VOCÊ SE METEU? — A garota na minha frente, então, soltou um brado qual fez com que meus ouvidos espocassem por estarem sensíveis.

  —  CALE-SE! — Proferi, a ordenando, enraivecida, enquanto levava a palma das minhas mãos até meus ouvidos. Vi que a garota apavorou-se com a minha atitude e deu alguns passos para trás, na tentativa frustrada de fugir: O longo vestido da mesma enroscou-se em uma raiz salientada e fez com que a garota caísse, fragilizada á minha frente. Minhas mãos haviam se soltado do meus ouvidos e, quando me dei por conta, eu segurava a garota contra o chão umedecido pelo orvalho, que se debatia, implorando para que eu a soltasse: — Por favor! Me deixe ir embora! Eu nunca mais a incomodarei! — Balbuciava. Minha visão estava focada em seu pescoço, cuja pele era rosada, delicada como uma pétala. Senti algo como lascívia invadir-me. Eu estava fora de mim. Eu me sentia fraca, mesmo possuindo força o suficiente para dominar aquela garota. Abocanhei-a pelo pescoço e, isso fez com que a garota pedisse por socorro. Segurei seus lábios imediatamente com a minha mão direita para que impedisse que alguém nos encontrasse através do som e a segurei com mais firmeza contra o chão gélido do bosque. Ela se debatia e fazia com que as folhas fossem espalhadas. Saboreei o sangue ferroso adentrar meus lábios e toda minha língua e, uma sensação de prazer, completamente diferente do que eu já tinha experimentado em toda a minha vida me invadiu, o que fez com que eu fechasse meus olhos. 

Alguns minutos se passaram e a garota já não se debatia mais. Me levantei bruscamente, com uma sensação mista de confusão, pânico, adrenalina e satisfação. Quando me dei por conta, havia um cadáver perante mim. Eu era uma assassina. Eu havia me tornado uma assassina. Mas, por que? Quem eu era? Dei passos para trás, deixando a pobre garota que, tentara me ajudar, morta. " Morta. Mircalla, ela está morta! " 

  —  BERTHA! — Ouvi, novamente. Eu precisava fugir. Aparentemente não havia ninguém naquele bosque a não ser as garotas perdidas e eu, agora, ensanguentada, amedrontada. Serei procurada em Estíria e acusada de assassinato. 

" É melhor fugir ", concluí, cobrindo o corpo da pobre garota com seu próprio casaco. Parte do pescoço havia sido dilacerado devido ao meu ataque.

  —  Me perdoe, doce menina. — Sussurrei para o cadáver na minha frente, quando decidi sair correndo, novamente, sem rumo, pelo bosque. 

Written In Blood.Onde histórias criam vida. Descubra agora