Carmilla's P.O.V:
Lá estava eu: Sendo recepcionada por estranhos, em um castelo estranho, em um lugar estranho. Estíria era um lugar peculiar. Madame Perrodon, que, agora eu sabia que era a governanta daquele belo castelo, havia me servido um chá, depois de ter me deixado tomar um banho e ter me emprestado uma velha camisola de Laura. Eu havia explicado o que havia acontecido para a Madame. Laura não havia dito uma palavra sequer e correu para trancar-se no quarto. A governanta me explicou que Laura estava preocupada com sua amiga desaparecida, mas que havia mandado homens atrás da jovem, o que me deixara preocupada, pois, a garota desaparecida tinha sido assassinada por uma força – minha força – sobrenatural. Disse à Madame que não me lembrava qual caminho tomei até o castelo pois estava em choque. Isso evitaria que encontrassem o cadáver de Bertha. Expliquei que tentei ajudar minha mãe depois que os ladrões fugiram e era por isso que eu me encontrava suja de sangue.
— Sinto muito por ter de passar por isso, Carmilla — disse a governanta. Eu não estava preocupada com a minha mãe. Eu estava preocupada com o que estava acontecendo de anormal comigo. Logo, encontrariam o corpo de minha mãe. Mas, eu não podia levar ninguém até lá ou também encontrariam o corpo de Bertha.
— Está tudo bem, Madame — abaixei o olhar e fitei a xícara e sua porcelana delicada, aquecida pela temperatura do chá — Onde está Laura? — perguntei, depois de um longo suspiro.
— Ela deve estar em seu quarto. Por que você não sobe até lá e tenta aproximar-se dela? Quem sabe possam conversar, até que o pai dela e o General retornem das buscas, para que possamos resolver como iremos ajudá-la.
Assenti com a cabeça e deixei a xícara sobre a enorme mesa de madeira, na cozinha do castelo. A governanta apontou para uma imensa escada rústica no salão ao lado, apontando que o quarto de Laura ficava no próximo andar. Era um castelo exótico. Inteiro acabado com detalhes de arquitetura gótica. Pisos em madeira o tornavam aquecido. Haviam quadros de antepassados dependurados pelas paredes de pedra. Lindos candelabros iluminavam o local. O corrimão da escadaria era de madeira. Havia um linda vidraça, acabada em um mosaico representando cenas cristãs. A luz passava pelo vidro e brilhava colorida. Subi lentamente as escadas.
— É a segunda porta — Madame Perrodon gritou lá de baixo. Eu continuei a subir as escadas. Me sentia um pouco desconfortável devido á camisola crua que vestia. Mamãe nunca me deixaria vagar pela nossa casa com uma roupa tão informal. Me aproximei da grande porta de madeira do quarto de Laura. Dei três leves batidas e aguardei. Não houve resposta. Dei mais três batidas, um pouco mais fortes, então, ouvi uma doce voz por trás do grande bloco de madeira:
— Um minuto — Em instantes, a porta entreabriu-se e fiquei novamente, tête-à-tête com Laura.
— Posso entrar? — Questionei.
— C...claro — Respondeu, enquanto abria um pouco mais a porta e dava passagem. Parei para olhar o ambiente. Um quarto enorme e bem decorado com os mesmos candelabros que havia visto lá embaixo. Cortinas de seda. Um tapete felpudo, provavelmente feito de peles. Uma penteadeira com espelho arredondado. Vidraças enormes e levemente entreabertas quais faziam com que as cortinas dançassem macabramente com a brisa do outono.
— Me perdoe, por ter vindo para cá e não ter falado com você. Mas, tem coisas muito estranhas acontecendo nos arredores deste lugar. Você me acharia louca. — Desabafou.
Me virei repentinamente para fitar Laura, que tentava esconder seu pânico, porém, era evidente que algo perturbava a garota. Esta, deslizou os dedos por algumas mechas de cabelos, os prendendo por detrás das orelhas, enquanto se sentava em sua cama. Havia se trocado, colocado uma camisola exatamente igual à minha e se acomodava debaixo das cobertas.
— Está tudo bem, Laura — Respondi, finalmente, enquanto me sentava em um dos lados de sua cama — Gostaria de pedir perdão pelo meu desespero ao chegar aqui, mas enfim, Madame Perrodon acalmou-me.
Sorri enquanto me aproximava da arisca adolescente. Ela me fitava com olhos preocupados, pupilas dilatadas. Seu semblante mudara de medo para desconfiança, mas também transmitia conforto. Apanhei uma de suas mãos e acariciei lentamente.
— Eu serei eternamente grata, cara Laura, por ter me ajudado em um momento tão conturbado. Você tem a minha lealdade.
Havia acabado de fazer uma jura para uma desconhecida. Ela mal sabe que sou uma assassina e, não a vítima de uma fatalidade. Ela mal sabe que a coisa estranha que está acontecendo nos arredores, sou eu.
Eu ainda não tinha um plano sobre como voltar para Burgenland. Mas, não faria nenhum sentido, já que eu não tinha mais a minha mãe.
" Realmente há coisas estranhas acontecendo ".
Sorri para Laura.
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Written In Blood.
VampirosA história de Carmilla começa no século XVIII, quando perde sua mãe por uma fatalidade - ou pensa que a perdeu - e ao mesmo tempo descobre que há algo extraordinário acontecendo consigo. Laura é uma adolescente de dezoito anos que, coincidentemente...