Eu passei a manhã inteira limpando a casa junto com Sofia, ela se manteve calada boa parte do tempo, a maior parte do tempo os únicos barulhos eram suas crises de tosses moribundas, preferi não perguntar nada, erro meu. O silêncio era um grande muro de gelo que se estendia entre nós duas e aquela parede entre nós havia sido construída por Sofia. Todos na casa pareciam fazer algo ou estar se preparando para tal tarefa. Davi, que cuidava da casa durante a madrugada, estava no décimo quinto sono.
Era desconfortável estar com Sofia, mas pelo menos eu não estava com Alice. Eu ajudei ela a contar os alimentos não perecíveis da casa. Enquanto eu contava quantos milho, macarrão, feijão, soja, arroz, café, sal, açúcar, farinha de trigo, farelo de trigo, leite em pó e óleo foi a única vez que conversamos durante todo aquele tempo. Eu falava, ela anotava e pedia para eu contar o próximo, Sofia me explicou que o pai da Martha conseguia peixe de alguns comerciantes que continuaram vendendo.Quando eu falava algum número errado, me corrigindo logo depois, ela apenas lançava um olhar rápido e estreito e suspirava.
— Não dá para ter certeza que são realmente bons. — Sofia comentou uma hora olhando pros peixes que deveriam ainda ser pescados e comercializados por ribeirinhos. — Mas é o que tem, é melhor do que comer soja todo dia.
Não vou entediar vocês com mais detalhes, mas era difícil me concentrar já que o meu pensamento constantemente desviava para o meu irmão.Nós fizemos o almoço, apenas trocamos comentários sobre comida de vez em quando.
— Lá fora continua cheio de zumbis. — Martha disse enquanto todas a s garotas estavam na mesa almoçando, Davi só costumava acordar apenas depois de uma tarde. — É uma missão suicida sair daqui. Como foi a manhã com a Fernanda?
— Boa. — Sofia respondeu sem tirar os olhos do prato. — O arroz está quase acabando.
— Cuidarei disso logo. — Martha respondeu
— Hoje recebi ajuda da Menty com os zumbis lá fora. —Alice disse. — Eles cercaram a casa. Acha que Davi consegue aguentar tudo sozinho durante a noite?
— Conversarei com ele.
— Se eu não consegui fazer o trabalho sozinha. — Alice negou com a cabeça dando uma risada sarcásticas. — Quanto tempo você acha que ele vai demorar para ele pedir ajuda? —
Eu fui a primeira a notar que Davi havia acordado. No retângulo, que era a mesa, eu e Sofia estávamos um do lado da outra, ambas de frente para o corredor e para Alice e Martha. Menty estava tomando do portão naquele horário. E Sofia estava concentrada demais na comida. O olhar de Davi bateu no meu enquanto ele andava passava atrás de Martha, não fazendo barulho algum.
— Falando de mim, Alice? — Davi pousou as mãos longas no ombro de Alice.No sorriso dele havia uma infantilidade falsa.Alice apenas deu um soco na barriga dele sem hesitar. O fazendo se curvar de dor, com a mão na barriga.
— Para que essa violência?
— A próxima é no saco. — Alice resmungou voltando a almoçar.
— Bem vinda à uma refeição normal nessa casa. — Davi disse para mim enquanto sentava do meu lado. — Olha, eu ter chegado enquanto vocês estavam falando de mim significa que eu não vou morrer tão cedo.
— Ou que você é o diabo. — Martha rebateu e Davi mandou a língua para ela.
Eu mordi o lábio para não rir, naquele dia aprendi que não importa o quão tenso ou rígido era um ambiente, Davi sempre parecia trazer leveza para ele. Mesmo com seu sorriso assustador — O que era potencializado enquanto ele matava zumbis, mas isso eu só fui descobrir isso depois.—
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Combustão incompleta
TerrorO que pode ser destruído? Num mundo dominado por caos e mortos vivos essa pergunta reina. O estado se foi, as leis são outras e a justiça é na base da força. Por dois anos, Fernanda ficou trancada com sua família numa casa em meio ao apocalipse zu...