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Menty sentou ao meu lado assoprando xícara chá em suas mãos. Mordi meu lábio inferior querendo ter um pente para tentar desembaralhar a bagunça que estava o meu cabelo, ou, pelo menos, ter passado uma água no meu rosto redondo de sono. Estando com os olhos roxos menos inchado a olhei com mais atenção, percebi suas bochechas rosadas no rosto em formato de coração. Somado à expressão angelical, um sorriso gentil e os cachos negros que escorriam até um pouco acima dos ombros davam uma garota que conseguia me deixar sem reação.

—Dormiu bem a noite?— Assenti com a cabeça. Nunca estive com a coluna mais ferrada, entretanto o sorriso dela parecia anestesiar a minha lombar. —Depois vá até meu quarto para trocar os curativos.

— Ok. — concordei dando uma mordida no meu sanduíche, revirei a cozinha com o olhar procurando alguma coisa que eu pudesse puxar assunto com ela, parando por fim na xícara na mão dela. — Que chá você está tomando?

—Ah— Ela desviou seu olhar para o chá antes de me responder. — Chá verde.

Se ela dissesse que fosse sangue humano minha reação talvez fosse menos pior. Como ela conseguia tomar aquele negócio com tanta calma? Eu parecia uma criança tomando aquilo, uma careta a cada gole.

—Então, você vai ajudar Davi com os zumbis durante a madrugada. —

— Sim, —Assenti. — Eu fazia isso sozinha, então não vai ser grande problema, sabe? Zumbis, sangue... Agora eu apenas terei a companhia do

—É verdade que só saiu da casa duas vezes?

—Sim, —Assenti. E ela ficou calada me olhando com um aquele doce sorriso, então continuei falando. —Era assim que as coisas funcionava com o meu pai.

— E o que mudou? —Engoli seco com essas pergunta, eu sabia que não deveria ser cruel com Menty, ela não perguntava por mal. Seus olhos brilhavam com uma curiosidade veríssima.

—Ele se foi. —Desviei o olhar de Menty, eu teria aquela conversa com todos os morados gentis daquela casa. Veja bem, até naquela época eu me surpreenderia que falaria sobre morte e luto com Alice, por sorte minha, nunca tive essa conversa com Sofia.

Antes que pudesse voltar a minha completa atenção novamente á conversa, senti as mão de Menty sobre a minha. A pontas de seus dedos acariciavam a palma, seus olhos estavam fixos em mim com um misto de preocupação e de algo que eu não consegui identificar na hora. Uma confusão sem pretendentes atravessou o meu corpo, e de alguma forma era algo bom. O friozinho no estômago e uma eletricidade que parecia me percorrer por causa de seu toque.

—Ele está num lugar melhor. Todos nós perdemos alguém...  —Ela foi se aproximando cada vez mais, seus olhos estavam marejados, a pessoa que escreveu a dedicatória do livros, a família que ele pensava toda noite antes de dormir.

Haviam tantos segredos naqueles olhos castanhos. Eu quase não havia saído de casa nos últimos dois anos e havia cenas que eu preferiria esquecer, o que Menty deveria ter visto?

—Obrigada. —Forcei um sorriso e tirei a minha mão de baixo da dela, pela primeira vez na conversa seus olhos saíram do meu rosto e foi parar em minha mão que estava sobre a mesa antes. —O que vamos fazer hoje?

Ela deu os ombros e deu outro gole no chá dela. Desejava fazer uma careta apenas por pensar em beber aquilo.

—Eu tenho que ver se falta algo lá na enfermaria, remédio, primeiros socorros, esse tipo de coisa sabe? —Sua cabeça estava apoiada no seu braço esquerdo, ela falava sem olhar para um ponto certo.

—Se quiser que eu te ajude... —Seus olhos castanhos pousaram em mim com um brilho diferente e um pequeno sorriso.

—Você é um anjo. —

Combustão incompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora