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E quando ela chegou, eu estava na frente da entrada da casa com Davi.

-Pronta?— Ele se virou com um sorriso no rosto, como ele conseguia sorrir tanto? Eu parecia estar morta por dentro e estava começando a acreditar que alguma parte de mim havia mesmo morrido.Assenti observando o machado que estava na sua mão esquerda. A lâmina estava suja de sangue seco, assim como o cabo.

—Esse aqui é seu. — Ele me estendeu o facão que portava na outra mão. Era um pouco maior que o meu antebraço e ao contrário do machado, não parecia ter sido usado tão recentemente, o peguei pelo cabo com cuidado.

—Obrigada. — disse o ajeitando na minha mão tentando encontrar o melhor jeito de segurar a faca. — Quem usava antes mim?

—Por que pergunta isso?— Seu olhar parou no facão.

—Alguém já usou antes de mim, né?— Sua atenção saiu da lâmina em minha mão e foi para o corredor.

—Já. — Ele encarou um ponto solitário no corredor antes de voltar a me olhar. — Vamos lá!

Davi sorriu mais uma vez abrindo a porta. A lua cheia iluminava toda a noite com a luz roubada e refletida do sol. Engoli seco encarando os zumbis parados na frente do muro, eu não odiava tanto assim Alice para aceitar ficar a noite com Davi e mortos-vivos.

Ele sorria esperando eu sair primeiro ao lado da porta, os desci pisando na grama alta do jardim. Como Alice ainda não havia se irritado com aquilo coçando na sua canela?

—Quer ter a honra começar a noite?— Davi parou na frente da grades cheia de zumbis, braços apodrecidos tentavam agarrar ele sem sucesso.

Neguei com a cabeça, ele apenas deu os ombros e desceu o machado na cabeça de um dos zumbis, ainda havia um sorriso no seu rosto quando o líquido vermelho manchou o chão. Atingi um que estava pressionando contra as grades, logo outro substituiu esmagando o colega de orda caído.

A noite se resumiria á isso? Não era algo tão ruim, mesmo o sentimento de culpa me abraçando por trás e sussurrando em meu ouvido que aquilo era errado. Mas eu já fazia isso na casa da minha avó. A noite parecia destinada ás cigarras cantando e o som dos zumbis anunciando terem encontrado o jantar. Meus ouvidos já haviam se acostumados com aquele som, quase os considerando silêncio.

— Como é o seu irmão? — Davi falou quebrando o momento de paz, dei os ombros.

— Leo é um pouco infantil. — Respondi. — Com piadas idiotas e coisa do tipo. Mas eu o amo desse jeito. Não parece ter outra opção além dessa, né?

— Bem, eu amava a minha irmã mais nova mesmo quando a odiava. Acho que entendo.

—Mais nova?

— Não lembra da Nayara?

Espero que consiga me perdoar, meu caro leitor, mas achei essencial apenas apresentar Nayara, a caçula dos Marinhos, pois apenas naquele momento as lembranças delas relampejaram na minha cabeça. Ela tinha a minha idade, mas, quando criança, só brincava comigo se isso incluía correr e pelo menos uma pessoa deveria sair com os joelhos ralados. Assim que os traços da puberdade chegaram, nunca mais interagiu comigo.

—Pouco.

—Olha, não acho que vocês se dariam bem agora. Ela era a BFF da Alice, então não cairia de amores por você.

—Ah, não tenha dúvidas.Como as duas se conheceram? Pela Martha?

— Não sei, mas Alice conheceu Martha depois. — Ele deu os ombros tirando o machado do crânio de um morto vivo e atingindo outro logo depois. Ainda com um sorriso no rosto.

Combustão incompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora