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—Murilo era dessa organização,eu lhe fiz um grande favor. Então eu recebo em troca, pequenos e médios favores, por assim dizer.— Fernando disse.

—E isso significa que vamos ir até o Castanheira a pé?

—Sim.

—No final da cidade?

—Sim.

Naquele momento a raiva se mesclou com a frustração e a tristeza. Tudo terminava em raiva,crescendo, se espalhando dentro de mim. Quis agir como uma criança mimada, mas isso iria literalmente me matar.

—Você quer uma pausa?— Quando eu levantei o olhar pra ele, quase conseguir enxergar o meu pai.

Enxergando ou não, aquele momento terminou quando eu respondi que queria cinco minutos pra me sentar. Como um fantasma fui me arrastando pra o sofá. Ao respirar fundo, me fui inundada com o cheiro do meu irmão, ele havia passado bastante tempo ali…As piadas bobas que ele me contava, a minha companhia por tantos anos... Agora a casa estava vazia, revirada. Suspirou fundo e me levantei, na estante estava guardada a carteira do meu pai.

As vezes eu a roubava para ver fotos 3×4 da minha família, foi assim que meu pai descobriu que uma foto nossa todos juntos era o meu presente ideal de natal. Havia 4 minhas, 3 do Leo e duas minha mãe. As guardei na mochila.

Eu precisava encontrar o meu irmão. E eu ia mesmo atravessar Belém apenas pela possibilidade de o encontrar. De encontrar a minha família.…

Boa parte do meu corpo latejava em razão da dor, do cansaço. Eu bebi um pouco de água e fui até o meu guarda-roupa pra pegar, pelo menos, duas de roupa mudas pra me trocar. Claro que foi apenas pra me frustar com o móvel vazio.

Aquelas roupas ficariam folgadas em mim naquela hora mesmo. Eu não aguenta mais essa merda de vida…Meu estômago já começava a doer de fome, deveria ser a hora do almoço.

Esperava apenas que eu pudesse jantar.

—Estou pronta. — Falei indo até a sala. Fernando apenas assentiu e saiu da minha casa, sendo seguido por mim logo depois.
   
   

O mundo do lado de fora era silencioso, divergente de como eram aquelas ruas anos atrás. Fernando e eu dávamos passos leves, com armas na mão prontos pra qualquer ameaça.E eu sempre odiei todo esse processo. Seguimos a Alferes Costas sozinhos, todavia começamos a escutar o som de uma orda de zumbis.

—Fique perto de mim.—Fernando disse.—E tenha coragem dessa vez.

Eu tive, ou a menos,eu tentei. Matar zumbis com desespero, saudade, e cerra raiva pelo meu irmão que havia dentro de mim era o suficiente para eu parar de ver aqueles monstros como humanos. Todo o sangue, as tripas balançando, além do barulho. Enquanto eu escrevo, ainda consigo escutar ele ecoando pela minha cabeça, meu único objetivo agora é terminar essa história, pois,talves ela pare de ecoar na minha cabeça. Não sei há quanto estou acordada, não consigo dormir com tanto barulho. Deus, estou ficando louca ou existem zumbis há espreita?

Desculpa, me distraí. Apenas uma pequena observação, tal como naquele momento, invejei o prazer macabro de Davi, mas não me surpreenderia se eu tivesse um expressão parecida com ele naquele momento. Não senti euforia. Os sentimentos ruins apenas borbulhavam dentro de mim, como se a adrenalina fervesse todos os meus sentimentos.

Meu facão atravessava a cabeça de zumbis sem culpa nenhuma. Quando vinha um zumbi solitário, por um momento, senti que poderia curar meu mundo, trazer toda minha família de volta, caso eu o jogasse no chão e cravasse minha lâmina em seu corpo. Mas ele era um caído agora, não havia sentido algum, minha família continua morta.

Combustão incompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora