capítulo 3 - biblioteca

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Louis soube que sua mãe iria morrer uma semana antes de acontecer. Na época, ele era pequeno demais para entender que havia desenvolvido sua primeira habilidade como feiticeiro.

Ele passou a semana inteira entregando flores a ela, abraçando-a mais forte e por mais tempo. Ficou o dia inteiro com ela.

Mas quando ela se foi, Louis ainda sentiu como se não tivesse aproveitado seu tempo com ela.

A explosão destruiu sua casa e Louis foi morar com sua avó Emma, a qual se tornou sua outra mãe.

E Louis bloqueou sua habilidade de vidente.

🔮

— Você pode me dar uma carona?

Emma desvia o olhar da televisão e encara Louis de cima abaixo. Ele mexe na alça da mochila desconfortavelmente.

— Estou indo a biblioteca — continua ele —, preciso achar uma solução.

"Consertar a minha cagada" é o que Louis realmente quer dizer, mas ele está tentando ser mais adulto — pelo menos na frente de sua avó.

Sua avó o encara por mais alguns segundos antes de desviar o olhar.

— Pode levar o carro, lembrando que eu saberei se você não for a biblioteca — diz ela apontando para as chaves no aparador perto da porta —, passe no mercado na volta.

— Obrigado — diz Louis pegando a chave.

Ele praticamente corre porta afora, temendo que sua avó mude de ideia. Geralmente ela é muito gentil, a maneira como está tratando Louis é mais uma prova de como ele é basicamente um idiota.

Do lado de fora da casa o sol começa a se preparar para se pôr.

Louis nem viu as horas passarem, ficou deitado o dia inteiro, fingindo que tudo estava sob controle.

Mas não estava. Mesmo que ele quebrasse o feitiço e a Mais Alta Justiça não o prendesse, sua avó será muito mais cuidadosa se tratando de Louis e magia.

Tudo o que Louis tinha planejado aconteceu exatamente ao contrário.

E se ele enrolasse o suficiente na cama para não dar tempo de ir antes de fechar, sua avó arrancaria seus cabelos com uma pinça. Então bem, aqui está ele, sentindo muita pena de si mesmo.

Durante o caminho, Louis desliga o rádio e tenta bloquear sua mente de qualquer coisa, porque ele precisa manter a calma se quiser resolver alguma coisa.

Nesse breve momento, entre sua casa e a biblioteca, Louis pensa por alguns segundos de como seria bom ver o futuro apenas por um segundo, saber se tudo vai dar certo ou como se preparar para caso não dê.

Como não conseguiu prever as doze pessoas tomando a poção, Louis gostaria de prever o que pode acontecer agora.

Tem um motivo pelo qual Louis decidiu nunca mais espiar o futuro, e apesar de tudo, de todas as coisas que ele poderia evitar — ou se preparar para —, esse dom é sempre vinculado à memória de sua mãe.

Porque mesmo que ele tivesse tentado evitar, é impossível mudar tanto assim o futuro. Pequenas coisas por outro lado sim, mas do que adianta ver o futuro e não evitar a morte?

Louis aperta os olhos para afastar os pensamentos antes de entrar no estacionamento da biblioteca. Ele desliga o carro e pega sua mochila.

Tem apenas seu carro ali e, quando Louis entra, percebe que além da bibliotecária, ele é o único ali.

— Olá, Taylor — cumprimenta ele —, já destruiu o coração de algum pobre coitado hoje?

— Não, mas pelo menos não enfeiticei ninguém acidentalmente — provoca ela de volta.

Violet MistakeOnde histórias criam vida. Descubra agora