Apesar da bela noite de sono que tive, não tardei a acordar neste novo dia. No entanto, eu ainda estava preocupada com a situação das pessoas que moravam ali. Ter saneamento básico, água limpa, é direito de todo cidadão! E por que eles estavam enfrentando essa dificuldade por tanto tempo? Não consigo simplesmente ver essa situação e dar as costas. Estou determinada a entender melhor essa história, e consigo ser bem teimosa quando quero algo.
Devidamente arrumada, com uma roupa simples - apenas uma blusa xadrez vermelha, uma calça jeans e um par de sapatos escuros - me aproximei da cozinha. Avistei minha tia colocando nosso café da manhã: algumas torradas frescas com café preto. Respondi à gentileza dela com um leve sorriso e me sentei à mesa.
- Está toda linda e arrumada, vai aonde, filha? - indagou minha tia, enquanto terminava de colocar o líquido preto na caneca à minha frente.
- Obrigada, tia. Vou dar um pulo na prefeitura. Essa história da água estar vindo suja para vocês aqui há tanto tempo não é normal. É um absurdo isso! - exclamei, agradecendo à minha tia pelo café da manhã.
- Você tem toda a razão! - disse ela, sentando-se à mesa ao meu lado. - Já estamos até cansados de cobrar o prefeito, nem que seja por um pronunciamento. Mas não conseguimos nada... É sempre a mesma coisa: "Estamos resolvendo"...
- Bom, só sairei de lá hoje depois de ter uma outra resposta. A senhora me conhece, sabe como eu sou - disse, sorrindo de leve, arrancando uma risada da mais velha também.
Prosseguimos com nosso café da manhã tranquilamente, aproveitando para conversar mais um pouco. Perguntei sobre meu tio, e ela me disse que ele saiu cedo, outra vez, para fazer alguns bicos pelo sítio. Eu realmente o admiro, naquela idade, ainda correr atrás de trabalho, por menor que seja, para conseguir tirar algum sustento para ele e para minha tia.
Longos minutos se passaram, e terminamos o café da manhã. Tirei a mesa para auxiliar minha tia; em seguida, fui escovar os dentes para poder seguir com as minhas tarefas de hoje. Antes de passar pela porta de entrada, minha tia me chamou, dizendo que eu poderia levar a caminhonete deles. Ela correu para perto de mim e me entregou a chave do veículo. Eu prontamente agradeci, afinal, a prefeitura é um pouco longe de onde eles moram.
Felizmente, sei dirigir, independentemente do veículo. E não é a primeira vez que assumo uma caminhonete. Logo, assumi o volante, depois de dar uma olhada rápida no painel do carro, relembrando algumas coisas. Esbocei um sorriso alegre e liguei o carro. No café da manhã, minha tia me deu melhores detalhes sobre o endereço da prefeitura, e realmente não é difícil encontrá-la, apesar da distância.
Liguei o rádio e apenas desfrutei do caminho, deixando os ventos bagunçarem meus cabelos castanhos, que estavam presos em um coque. Um dos pontos favoráveis de se morar longe da cidade grande é ficar afastado do trânsito do dia a dia. Naquelas terras rurais, isso não existia, então sentir a brisa fresca enquanto dirigia era uma das melhores sensações que alguém poderia ter.
Eu estava tão animada com aquilo tudo que, quando percebi, já avistava a prefeitura ao longe. Os longos minutos da viagem se passaram, e eu nem reparei. Caramba. Encontrei um lugar para estacionar perto do local que eu iria, e assim desci do veículo. As ruas ali também eram calmas, com um povoado maior do que o do sítio de onde eu tinha vindo.
- Bom dia - falei, me aproximando da recepcionista daquele local. - Gostaria de falar com o prefeito, com certa urgência.
- Bom dia - respondeu a moça, sem muito ânimo. - Senhora, se falar com o prefeito fosse tão fácil assim, metade de nós não teria o emprego que tem hoje. - Ela coçou a garganta enquanto me olhava de cima a baixo. Fiquei chocada com a grosseria dela, mas já sei lidar com esse tipo de gente. - Mas posso tentar marcar um horário para você. Ele tem horário livre ainda este mês.
- Não tenho tempo para esperar! - falei, aumentando o tom da minha voz. Percebi que virei alvo de olhares, era exatamente o que eu queria. - Enquanto estamos aqui batendo boca, mais crianças e idosos estão adoecendo por causa da água suja que está chegando às casas delas!
Assim que toquei no assunto da água, a moça arregalou os olhos. Não apenas ela; olhei em volta e vi mais pessoas me fitando com olhares surpresos. Alguns cochichavam com o colega ao lado, claramente sobre mim e o que eu acabara de falar. Mas o que é isso? Falar da água é um assunto tabu por aqui? Parece que sim. Isso me deixou ainda mais instigada.
A recepcionista não disse mais nada, apenas engoliu em seco e fechou a janela na minha cara. Bati na janela, chamando-a de volta, mas de nada adiantou. Rondei aquele edifício; todas as janelas e entradas estavam bloqueadas. Olhei ao meu redor, e os olhares surpresos e receosos de todos ali em volta ainda pairavam sobre mim. Mas eu sou forte e não iria desistir. Fiquei na frente da prefeitura, gritando e chamando pelo prefeito. No entanto, longos minutos se passaram e nada...
- Droga... - bufei, depois de ver que fiquei mais de uma hora parada ali e não consegui nada. - Se eles não me dizem nada... - Olhei para as pessoas andando pelas ruas; algumas permaneciam me olhando. - Elas vão.
Com um sorriso malicioso, tive uma ideia. Eu só precisava encontrar o local certo para obter algumas informações valiosas. Então tratei de andar por aquele bairro. Fiz questão de conhecer canto por canto, cada estabelecimento, cada comércio, cada casa que havia ali. O lugar certo estava existia, só precisava continuar procurando.
Em meu passeio pelo bairro, acabei ficando de frente para um posto de saúde. No mesmo instante, murchei, tirei o sorriso dos lábios e fiquei triste. A fila para o atendimento estava enorme. E como eu imaginei, a maioria dos doentes ali eram idosos e crianças. Tinham a mesma expressão daqueles que também estavam doentes lá no sítio. Foi só eu fazer a ligação: aquela água suja estava deixando cada vez mais pessoas doentes. Até onde isso vai dar?
Apesar de eu ter ficado com o coração machucado depois de ver aquela cena, respirei fundo para seguir o meu caminho. Ver aquilo só me motivou ainda mais a ir atrás da verdade. Aquelas pessoas não mereciam aquilo, de jeito algum!
- Hah, acho que encontrei... - sussurrei, ao entrar numa viela e avistar um boteco com uma aparência horrível no final.
Não sei que tipo de gente estaria se escondendo ali, mas tenho certeza de que seria naquele local que eu obteria algumas informações. Andei até a entrada do bar e abri a porta, fazendo com que o sino sobre ela fizesse barulho, anunciando a minha chegada. No mesmo instante, todos ali me olharam.
"Quem é essa?", certamente foi isso que passou pela cabeça deles. O local, por si só, já era meio insalubre, com condições precárias. Afinal, que bar fica escondido no final de uma viela deserta e abandonada? Aproveitei para observar o público que frequentava o lugar. E como imaginei, a julgar pela aparência deles, não estavam nada sóbrios. Nem estou falando apenas de bebida.
O ambiente exalava odor de cigarro, álcool e drogas. Todos ali tinham aparências duvidosas, possivelmente uns até usavam aquele bar para se esconderem de alguma autoridade. Me surpreende que um lugar daquele esteja aberto e funcionando em plena luz do dia. Dos males, o menor, talvez...
- Você não é daqui, moça... - ouvi uma voz atrás de mim assim que dei alguns passos adentro do lugar. - Sou o dono desse bar. Posso ajudá-la em algo?
- E não sou. - Virei-me rapidamente, fitando aquele sujeito à minha frente. Dei alguns passos até ele e sussurrei: - Mas acho que falo uma língua que você vai entender... - De forma que ninguém mais conseguisse ver, coloquei uma nota de cinquenta dentro do bolso da camisa suja do velho. - Quero informações.
O velho sorriu e me pediu para segui-lo até uma sala mais ao fundo do bar. Apesar de receosa, não quis demonstrar, então apenas o segui. A tal sala conseguia ser mais insalubre que o próprio bar, mas o sujeito à minha frente até que foi educado e simpático. Claro, a cada pergunta que eu fazia, mais dinheiro eu precisava dar. Porém, ele foi me respondendo tudo o que eu queria saber. Por vezes, falou até demais; a julgar pelo odor de sua boca, já estava bêbado logo cedo.
O que importa é que eu consegui. Fiquei longos minutos dentro daquele bar, mas, quando saí, estava feliz com o resultado que obtive. Perdi, sim, algum dinheiro, mas foi por uma boa causa. Descobri informações valiosas. Por exemplo, naquela cidade existe uma mina, dita como abandonada, mas que na verdade é clandestina e é propriedade de um fazendeiro vizinho. Eu deveria ficar chocada que o coronelismo ainda exista, mesmo naquele fim de mundo...
Não só isso, o velho também me contou que inúmeras pessoas já passaram por ali, querendo "salvar os doentes" também. Denúncias já foram feitas contra o prefeito, pedidos de ajuda para ONGs e órgãos ambientais, tudo... Mas nada adiantava. É como se sempre voltasse à estaca zero. Confesso que, por alguns minutos, fiquei abalada. Uma sensação de "se todo mundo que tentou antes de mim falhou, por que eu conseguiria?"
Porém, é como dizem: "não sou todo mundo". Eu vou tentar!
Meu tempo na cidade vai ser curto, tenho que resolver isso logo. Está decidido! Vou dedicar essa semana a esse assunto. Nem que eu tenha que bater na porta de cada líder ambiental para denunciar, eu vou conseguir. Vou, sim, denunciar, utilizando todos os meios legais possíveis. Vai dar certo!
xXx
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AVENTUREIRA
AdventureHannah era uma garota pobre do interior, perdeu sua família logo cedo que aprendeu a se virar sozinha, uma traição a fez abandonar a sua cidade Natal uma reviravolta vezes fez virar uma herdeira com sede de vingança.