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Não sei como consegui pegar no sono depois daquele sonho de ontem... Mas, quando dei por mim, abri os olhos e já era dia. Ainda deitada, espreguicei-me e peguei meu celular sobre a mesa de canto ao lado da cama. Arregalei os olhos ao ver que já era quase meio-dia! Pulei da cama e fui logo tomar um banho. Afinal, eu tinha planos para o dia de hoje.
Depois de o colar ter aparecido magicamente no meu pescoço após aquele sonho, talvez tudo aquilo não seja tão doido assim. Vou seguir o que dizia na carta e encontrar a tal caverna por debaixo das águas.
Após o banho, escolhi uma roupa dentro do guarda-roupa: uma calça preta confortável e uma blusa regata vermelha, de tecido bem leve. Nos pés, um par de tênis cinza, também muito confortáveis. Parei na frente do espelho para dar os últimos retoques na minha aparência. Botei uma maquiagem bem leve e deixei meus cabelos castanhos presos em um coque.
- Eita, o colar! - disse, vendo o acessório pelo meu reflexo. - Titia pode me encher de perguntas sobre isso, é melhor guardá-lo por hora.
Retirei o colar do pescoço e coloquei-o em um dos bolsos da calça. Pronto, agora sim, devidamente arrumada. Saí do quarto e fui até a cozinha, já sentindo de longe o cheiro de comida boa. Titia sempre mandou muito bem na arte culinária, é algo de que realmente sinto falta na minha vida.
Eu a ajudei a colocar a mesa. Outra vez, meu tio não estava em casa. Durante o almoço, comentei com minha tia sobre minha ida aos rios de Igarapé. No mesmo instante, ela negou com a cabeça, dizendo que era uma má ideia. Ela me explicou que o rio fazia a divisão entre as duas fazendas: a deles e a do tal coronel. "Ele não vai gostar de vê-la por lá", disse ela, preocupada.
Mas eu insisti. Falei à minha tia que eu precisava relaxar e esfriar a cabeça depois dessa semana frenética, e que eu estava com saudades daqueles rios. A contragosto, ela aceitou, porém colocou uma condição: que um de seus melhores funcionários da fazenda me acompanhasse nesse passeio.
Eu aceitei, assim ela ficaria menos preocupada. E que mal teria alguém vindo junto? Ela ficou feliz por eu ter aceitado. Por fim, terminamos o almoço e eu voltei ao meu quarto para arrumar minha mochila e escovar os dentes. Na arrumação da mochila, tomei cuidado para não esquecer nada.
- Deixa eu ver se está tudo certo... - comentei para mim mesma, observando o conteúdo da enorme mochila preta. - Certo, está tudo bem! - Sorri.
É isso, mochila arrumada com sucesso. Tinha algumas frutas e uma garrafa, caso eu sentisse fome ou sede, e algumas ferramentas que poderiam ser úteis: fósforos, lanternas, isqueiros e uma faca afiada.
Olhei-me no espelho uma última vez antes de sair do quarto, completando meu visual com um boné vermelho também. Com um sorriso, saí do quarto com a mochila nas costas. Titia já me esperava na porta de casa, acompanhada de um rapaz. Por ela estar na frente, não consegui reparar direito na aparência dele, mas presumi que era ele a pessoa que me acompanharia hoje.
- Cheguei, tia. É ele que vai me acompanhar hoje? - indaguei, aproximando-me dela. Mas, assim que ela se virou e foi para o lado, percebi quem era o rapaz parado ali. Eu o conhecia... e muito bem.
- Sim, querida. É o filho do meu melhor e mais confiável funcionário, Miguel. Inclusive, vocês estavam juntos naquele dia em que choveu forte, não foi? - Eu e Miguel apenas rimos baixo. - Ah, fico feliz que vocês já se conheçam, então.
Óbvio, claro, tinha que ser o Miguel a me acompanhar hoje. Bom... Não acho que isso seja uma coisa ruim. Não quis pensar muito nisso, pois meu foco hoje é outro. Despedi-me de minha tia com um beijo na testa, e ela disse: "Tomem cuidado e não voltem tarde". Saí da casa e concordei com a cabeça. Miguel se despediu dela também, e juntos fomos até a caminhonete, que infelizmente estava estacionada mais longe.
Andamos até o veículo em silêncio. Fiquei sem graça de falar algo. No entanto, quando estávamos chegando à caminhonete, já a uma distância considerável da casa dos meus tios, Miguel simplesmente pegou em minha mão e me puxou para si, dando-me um forte abraço. Minha cabeça batia em seu peito.
Hum... Que homem cheiroso... E nem preciso falar sobre sua aparência. Miguel optou por vestir uma calça jeans azul, super apertada, destacando suas coxas grossas. Uma camisa de botões um pouco mais clara que a calça, aberta até a região do abdômen. Na cabeça, um chapéu preto de vaqueiro, finalizando com botas de cano longo nos pés. Realmente... Um espetáculo.
- Eu estava com saudades de você, pequena! - disse ele, ainda me abraçando.
Continuei sem reação, minhas bochechas ficaram vermelhas, e ele cessou o abraço. Apenas o fitei nos olhos e sorri. Miguel respondeu com um sorriso ainda maior, pegou em minha mão, e juntos chegamos à caminhonete dele.
Não fazia tantos dias desde que nos vimos... Tudo bem que, nas vezes em que nos esbarramos, mal deu para trocar um "oi, bom dia". Mas ele falou sério, sentiu mesmo saudades? Nessa intensidade toda? Realmente não está nos meus planos me apaixonar... Mas Miguel está dificultando as coisas. Um homem lindo, alto, cheiroso e forte como ele, gostando dessa forma de mim?
Já dentro da caminhonete, seguimos nosso caminho. Eu disse a ele aonde iríamos, e ele só concordou com a cabeça. Porém, sabíamos que o caminho seria um pouco longo. Ele foi puxando assunto comigo, me deixando cada vez mais à vontade. Não demorou muito para que passássemos a viagem toda conversando, batendo papo, jogando conversa fora. Miguel, além de tudo, é um rapaz engraçado, carismático, sabe conversar.
O que o futuro tem guardado para mim, hein?

AVENTUREIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora