POV JC
- Boa noite, Joana. Ainda acordada?
- Agora que não preciso levantar mais tão cedo, estou aproveitando para assistir a um filme - responde por entre dois goles em seu chocolate quente.
- Conversei com uma colega de sala hoje e ela comentou que estão precisando de copeira na Construtora Menezes, aquele prédio verde perto do mercadão.
- Copeira? Não aguento mais este tipo de serviço – faz uma careta de desprezo, que me irrita.
- É uma empresa grande, pode haver vagas de secretária no futuro. E você pode, mesmo empregada, continuar procurando uma colocação que lhe agrade mais.
- Já que preciso trabalhar, que pelo menos ganhe alguma coisa. A mãe não me dá folga aqui em casa.
- Não fale assim, sabe como ela chega exausta todo dia – já respondo ríspido. Será que ela não percebe o quanto nossa mãe se esforça?
- Tá, não precisa começar com sermão. Vou amanhã ver esta vaga.
- Boa noite, vou descansar – termino a conversa antes que briguemos.
Deito-me, mas não durmo de imediato. Fico pensando em minha irmã e como parece amarga e descontente com a vida que temos. Não entendo seus sentimentos, pois apesar de querer evoluir, batalho para isso enquanto sou grato pelo esforço de meus pais. Espero que seja apenas coisa de moça, e que logo ela amadureça.
Minha irmã disputa a vaga com outras garotas, consegue o trabalho e começará após os exames médicos admissionais. Minha mãe está radiante, mas minha irmã não parece empolgada.
- Mãe, preciso jantar rápido, senão perco a primeira aula- falo entrando correndo na cozinha.
- Já está pronto, filho. Veja se come direito.
Faço meu prato e me sento à mesa. A comida de minha mãe é simples, mas deliciosa.
- JC, brinca comigo? – meu caçulinha se aproxima com a bola que lhe dei de aniversário de 9 anos.
- Não posso, Toninho, me desculpa. Tenho que ir para a universidade. Prometo jogar bola com você no sábado.
- Tá bom, mas você jura? – faz uma carinha de cachorrinho pidão que não resisto.
- Juro, amiguinho – bagunço seu cabelo e lhe dou um abraço, antes de continuar comendo.
Me dói não dar atenção ao meu irmãozinho, ele está crescendo e nem estou vendo passar. Este é um sacrifício que não gostaria de fazer, mas preciso. Há também o Edmilson, de 13 anos, que por enquanto só estuda, mas que já pede para ir ajudar na obra, apesar de tão novo. Realmente aproveito da convivência com eles apenas nas férias escolares e em alguns domingos, quando não tenho que estudar.
- Filho, seu tio Justino ligou da Paraíba hoje, pedindo para que sua avó Severina passe um tempo conosco. Ela sente muita saudade dos netos, e sabe que não conseguimos visitá-la com frequência.
- Que boa notícia, mãe. Vovó é muito engraçada, vou adorar.
- Porque não é você que vai ter que dormir no chão... – resmunga Joana.
- Deixa de ser mal educada, menina, que não foi assim que te criei. Ninguém morre por causa de uma coisa pequena destas! Sorte sua que seu pai não ouviu.
- Estou mentindo? Vou perder a pouca privacidade que tenho, nosso quarto já era pequeno, agora então...
- Você só reclama, Joana. Preciso ir, mãe, senão me atraso – saio indignado com minha irmã, a cada dia que passa se torna mais difícil de conviver com ela.
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Sonhos e preconceitos - Livro 1 da Série Sonhos
RomantikUm rapaz filho de um migrante nordestino que luta pelo direito de perseguir seus sonhos, apesar da desaprovação em sua própria casa. Uma garota que não aceita as imposições de seu pai e quer vencer por suas próprias qualidades. Serão capazes de supe...