POV JC
Minha irmã chega de madrugada, e não responde às minhas perguntas pela manhã, mas está com um sorriso arrogante que me preocupa. Gostaria de conversar, mas sei que ela não irá me ouvir, e espero encontrar outra chance.
- Inês, você conversa mais com a Joana. Ela contou algo sobre a festa?
- Não falou nada, está toda misteriosa. Algo parece errado.
- Estou com esta impressão também.
- Ficarei de olho, se descobrir algo preocupante, te aviso – responde minha irmã, que é bem mais jovem, mas muito mais madura que a outra.
Nosso serviço na obra chega à fase de colocação de revestimentos e meu pai faz um trabalho primoroso. É a sua parte preferida, enquanto a minha é ver o edifício se erguendo e ganhando forma.
- Como o senhor é talentoso, pai. Deveria dar cursos de formação para novos profissionais.
- Deixa de ser abestaiado, menino. Não sei nem "falá" direito, imagina que vou bancá o "professô"? Conheço o meu lugar.
- Pai, não fala assim - Suspiro desanimado, nem sei por que insisto.
- Seu avô sempre dizia para não se meter a entendido, para não "quebrá" a cara e tinha razão.
Meu irmão balança a cabeça, me indicando para mudar de assunto. É triste não poder conversar com meu pai, estar sempre tomando cuidado com o que digo.
- JC, para te irritar o pai – Manoel me diz quando ele se afasta.
- Falei com boa intenção. Você não acha que ele trabalha tão bem que poderia ter aprendizes além de nós?
- Sei que sim, mas ele não acredita nele mesmo.
- Por que tanta dureza? Como se já não fosse o bastante o preconceito de estranhos...
- Sabe que ele é assim e não vai mudar – diz conformado.
- Queria tanto o apoio dele, mas só encontro desaprovação – confesso amargurado.
- Quem sabe um dia ele fica orgulhoso? – fala para me animar, mas também não acredita.
Minha mãe me espera com o jantar pronto. Seu carinho é minha força e sem ela não sei se conseguiria ir em frente.
- Sua avó chega esta semana. Está vindo de carona com uma família que visitará parentes aqui também.
- Já disse por quanto tempo ficará?
- Não tem prazo. Seu pai quer que seja definitivo, já que aqui podemos cuidar dela.
- Concordo, ela já tem certa idade, e como o tio viaja muito, ela fica sozinha.
Enquanto como, Toninho me mostra sua lição e Edmilson conta do campeonato de futebol da escola. Rimos de seu entusiasmo com os gols que fez. Dou um beijo em minha mãe e na Inês e corro para a aula.
Larissa já está sentada quando entro. Seus lindos olhos verdes me sorriem e sinto o cansaço do dia me deixar.
- Boa noite, JC. Guardei seu lugar, como sempre.
- Boa noite, e obrigado. Como foi com a psicoterapeuta?
- Há uma diversidade de diagnósticos possíveis, apenas conversando com minha mãe para definir. Chamei-a para sair comigo na sábado e pensei em aproveitar para sugerir falar com a profissional quando chegássemos em casa. Porém meu pai estava nos esperando e perdi a oportunidade.
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Sonhos e preconceitos - Livro 1 da Série Sonhos
RomanceUm rapaz filho de um migrante nordestino que luta pelo direito de perseguir seus sonhos, apesar da desaprovação em sua própria casa. Uma garota que não aceita as imposições de seu pai e quer vencer por suas próprias qualidades. Serão capazes de supe...