POV JC
- Joana, minha neta, me diga se aquilo lá são horas de chegá em casa?
- Fui a uma festa vovó, saí bem antes de terminar.
- Não acho isso certo não. E outra coisa: essas suas roupas estão muito curtas, parecem de moça assanhada.
- Vovó, são assim as roupas bonitas daqui – responde minha irmã enquanto rola os olhos sem que minha avó veja.
- A Inês não se veste desse jeito indecente e não é malamanhada – insiste minha avó, que não é boba.
D. Severina chegou ontem, mas já percebeu que algo não está bem com minha irmã. O problema não são apenas as roupas, mas a atitude desafiadora e seu ar misterioso.
- Não quis acordar a senhora quando cheguei, me desculpa – Joana tenta acalmá-la, mas pela careta que faz por suas costas, sei que é apenas fingimento.
- Vovó, conta uma história – pede Toninho, sem saber salvando Joana de mais recriminações.
- Lá na minha terra, havia um trecho da estrada em que ninguém passava depois das 10h da noite. Todo mundo arrodeava, mas não ia por lá. Contavam-se histórias que o Tinhoso ficava de tocaia, esperando os desavisados. Um cabra novo na cidade, que era um cavalo-do-cão bancando o corajoso, resolveu infrentá o perigo, depois de estar mamado de tanto bebê. Mas o que o abiscoitado não sabia, é que estavam engabelando ele, o levando para outra parte da estrada, para lhe pregar uma peça. Os meninos traquinos se vestiram de preto e quando o metido a raçudo apareceu, lhe deram um susto tão grande, que ele torô um aço. Saiu correndo meio abilobado e nunca mais contô vantagem pra ninguém.
Rimos muito e a discussão ficou esquecida. Após o almoço, estudei por umas horas. Resolvo passar um tempo com minha irmã, tentar uma nova aproximação e falar do Pedro. Seria ótimo se eles se acertassem, ele gosta tanto dela. Joana me recebe já vestida para sair.
- Já está de saída? Queria conversar um pouco.
- Combinei um sorvete com umas amigas.
-Vejo que está com uma roupa mais comportada.
- Se não bastasse mamãe e você, agora tenho que ficar ouvindo falatório da vovó. Preciso ir senão me atraso, conversamos outra hora.
- Tudo bem, divirta-se.
Joana volta tarde, perto da meia-noite, e escuto quando entra, apesar de já estar deitado. Algo me diz que não era com amigas que estava até agora e me preocupo ainda mais com minha irmã, pois já não a reconheço. Demoro a dormir, lembrando-me do tempo em que ela era doce como Inês e dos sofrimentos que a transformaram.
- E aí, cara, tomou coragem para falar com a Larissa? - encontro Pedro à minha espera perto da minha sala.
- Não sei, vou esperar mais uns dias.
- Estou te achando estranho, tudo bem?
- É a Joana. Acho que tem mentido sobre onde anda e com quem.
- Algum namorado novo?
- Pode ser, mas não entendo porque esconder. Desculpa falar disso com você, sei que gosta dela.
- Somos amigos, pode desabafar sobre o que for. E também me preocupo com ela.
- Desde que foi humilhada por aquele idiota riquinho e sua namorada fútil, ela não é mais a mesma.
- Eu sei, o preconceito por ser pobre e simples a abalou muito. Desde então, só pensa em roupas caras, maquiagem, em parecer quem não é.
- Ela estava apaixonada pelo idiota. Descobrir que ele dava atenção a ela apenas para brincar com seus sentimentos foi demais – sinto meu sangue ferver ao lembrar-me de sua agonia ao descobrir que era a piada da escola.
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Sonhos e preconceitos - Livro 1 da Série Sonhos
RomanceUm rapaz filho de um migrante nordestino que luta pelo direito de perseguir seus sonhos, apesar da desaprovação em sua própria casa. Uma garota que não aceita as imposições de seu pai e quer vencer por suas próprias qualidades. Serão capazes de supe...