Epílogo

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Estava frio e úmido. Seu corpo sentia-se dolorido e seus braços e pernas não obedeciam mais à sua própria vontade. Mesmo que se esforçasse, não conseguia mover um membro sequer. Ouvindo um urro assustador, abriu os olhos. Então, Lucas percebeu que estava deitado de barriga para cima, perdido no meio da Floresta Negra.

Quando deu-se conta de onde estava, sentiu o terror subir por suas vísceras, gelando todo o seu ser. Nem a voz saía mais, e sua respiração estava difícil e sufocante.

Um barulho de galhos quebrando, vindo da mata, chamou sua atenção. Do meio dos arbustos, Velho Jon apareceu, segurando o machado e dando uma gargalhada gutural e arrastada. O sorriso macabro mostrava seus dentes, quebrados e apodrecidos. Em meio à barba grisalha e emaranhada, sobressaía o seu rosto. Ele parou diante do estagiário, que estava completamente vulnerável e indefeso.

Lucas ficou apavorado e tentou se mexer, mas seus braços e pernas não respondiam. Tentou gemer, mas também não conseguiu. Ofegante e aterrorizado, ainda ouviu o rústico lenhador dizer enquanto erguia a arma brutal:

- Chegou o seu fim, garoto! Não há mais saída!

E baixou o machado direto sobre o rosto do rapaz.



Num salto, Lucas levantou seu tronco da cama, ao mesmo tempo em que soltava um grito aterrorizante. O suor lhe corria pela testa e seu corpo estava encharcado pelo estresse. Já fazia sete anos que ele fora resgatado como único sobrevivente da expedição de pesquisa na Floresta Negra. Certos horrores ainda permaneciam tatuados na sua memória e não o deixavam mais em paz.

Um braço feminino passou delicadamente sobre o seu peito, fazendo-o voltar ao presente.

- Luc, mais um sonho daqueles?

Ele sorriu. Afagou seus sedosos cabelos negros e lhe deu um beijo demorado. Estava em casa.

- Temos que nos arrumar! - ela disse. - Hoje é o seu grande dia!

Os dois saíram da cama e colocaram seus melhores trajes. Como acessório do vestido de seda oriental, ela vestia um magnífico colar com uma única gema de esmeralda sobre sua pele morena. Com delicadeza, ajeitou a gravata azul no colarinho do esposo, alcançando para ele o seu blazer preto, logo em seguida.

Eles seguiram com sua BMW até a Universidade, e o estacionamento estava lotado. Lucas sentia-se nervoso, pois não havia ainda se acostumado com a sua nova realidade. Apesar das marcas permanentes de seu passado, estava entusiasmado com a perspectiva do evento que se descortinava à sua frente.

Subiram as escadarias que levavam às amplas portas de vidro. Ao atravessarem a abertura automática, entraram no saguão do centro de eventos tomado por uma multidão de estudantes, pesquisadores e o pessoal da imprensa. Flashes de fotografias brilhavam sobre seu rosto, trazendo-lhe memórias das luzes que o salvaram. Sentiu as próprias mãos frias e suadas.

- Professor Lucas! - disse a mulher com um gravador nas mãos. - Pode nos contar mais sobre sua incrível descoberta?

Neste momento, um coordenador do evento atravessou-se na frente da repórter, impedindo que ela registrasse sua entrevista.

- As perguntas da imprensa serão respondidas somente no anfiteatro! - respondeu o homem de crachá com o logo da Universidade.

Lucas e sua esposa atravessaram o mar de gente até os bastidores do grande evento. Estava tudo organizado conforme programara. Muitos colegas de laboratório o abraçavam e apertavam suas mãos, parabenizando-o pelo grande feito. Quando chegou o momento, ele foi chamado para subir no palco do anfiteatro universitário, que encontrava-se lotado.

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