Floresta Negra

Capítulo 16 - O DUELO

O garoto estava extasiado diante de tanto brilho e fortuna. Era algo inimaginável, tamanha riqueza em um lugar tão sombrio e traiçoeiro. Foi tomado por pensamentos de cobiça e desejo por todo aquele ouro, e chegou à conclusão de que o Velho Jon não havia ficado louco à toa. Era muito dinheiro. Moedas e artefatos suficientes para sustentar as próximas dez gerações de uma família e muito mais.

Pensou em sua mãe doente e como, finalmente, teria dinheiro para pagar todo o tratamento particular, contratar enfermeiras e cuidadoras vinte e quatro horas por dia. Imaginou para quais países iria viajar em intercâmbio, sem precisar sujeitar-se mais àquele estágio escravocrata. Carros luxuosos, casarões com piscina... Porém, olhando para o precioso metal dourado em suas próprias mãos sujas, deu-se conta do óbvio: nem ele, nem o velho Jon eram donos daquela fortuna toda. O ouro pertencia ao monstro, e o monstro pertencia à floresta.

Um barulho de pedras rolando despertou Lucas de seus devaneios, e ele, por ato reflexo, esquivou-se entre as pilhas do tesouro, escondendo-se rapidamente. Seus batimentos e respiração estavam muito acelerados e tentou controlá-los para não fazer barulho.

Uma sombra humanoide projetou-se no fundo da caverna. Ela estava com um machado em uma das mãos.

- Vem, garoto! O jogo acabou! - disse a voz rouca e arrastada. - Apareça d'uma vez, eu sei que está aqui!

Lucas nem se mexeu. Sentia o coração bater tão forte, que parecia pulsar em seus próprios ouvidos.

- Aqui é o seu fim da linha! Apareça antes que eu vá até aí cortar a sua cabeça!

O Jovem estagiário precisava pensar rápido. Sobrevivera até ali, e seria estupidez morrer agora. Tinha que pensar num ideia para escapar daquela enrascada.

- Saia agora! Vou te dar a última chance!

Juntando coragem sabe-se lá de onde, Lucas levantou-se de trás da pilha de moedas, e viu uma lâmina dourada reluzindo a poucos metros de onde estava. Para distrair o robusto lenhador, começou a falar:

- Este ouro não é seu! O ouro é de Tiamat!

Velho Jon pareceu não gostar da afirmação. Franzindo o cenho com sua barba densa e grisalha, ele falou bastante furioso:

- O que sabe sobre o tesouro, garoto? É apenas mais um otário enfeitiçado pela riqueza do dragão!

Lucas olhou para o sabre de ouro, a poucos metros, e aproximou-se mais um pouco.

- Se sou um otário, você também é! Se sabe que a floresta é amaldiçoada, por que arriscar tanto pelo ouro maldito?

O jovem estagiário aproximou-se mais um pouco, ficando à distância de um braço para alcançar a lâmina mortal. O robusto lenhador rangeu os dentes, e falou indignado, segurando o machado com as duas mãos:

- Meu filho achou a caverna! Este tesouro me pertence!

Lucas sentiu que aquele era o ponto fraco do Velho Jon.

- Seu filho cobiçou o ouro de Tiamat, e pagou o preço com sangue! Por que continuar a sina?

O velho homem esfarrapado entristeceu o olhar, como se visualizasse as suas mais profundas memórias.

- Eu disse pra ele desistir! Ele não quis me ouvir... me trouxe até a caverna e me mostrou o tesouro maldito! Nós despertamos o monstro e agora eu vivo a maldição do desejo de possuí-lo só pra mim! Este ouro me pertence!

E, tomado de um súbito fôlego de energia, Velho Jon avançou sobre Lucas com o machado indo em direção ao seu rosto. Em um ato reflexo, o jovem estagiário conseguiu alcançar o sabre dourado, rebatendo a lâmina do machado a ponto de saltar uma faísca.

- Eu vou matá-lo, seu ladrão de merda! E vou alimentar a besta enquanto mato ela cortando suas asas e sua cabeça!

E desferiu mais um golpe, já cansado pelo tempo e pelo esforço. Lucas, exausto, conseguiu bloqueá-lo com o sabre, mas caiu sentado no chão, desajeitado. Com um sorriso louco e triunfal, Velho Jon proferiu suas últimas palavras com os olhos arregalados, levantando o machado no alto:

- Mande lembranças pra Tiamat!

E, no momento em que ia baixar a lâmina sobre o garoto, o dragão apareceu com um mergulho por trás do lenhador, e o abocanhou pela cabeça, sacudindo o seu corpo de um lado para o outro, dilacerando a carne e partindo seus ossos.

O jovem estagiário assistiu horrorizado o imenso réptil erguer a cabeça e engolir o corpo inteiro do Velho Jon como se fosse um peixe. Enquanto o dragão deglutia sua presa humana, Lucas deu-se conta de que aquela era a sua última chance de escapar.

Pegou a lâmina, junto com um punhado de moedas e pedras, e correu, esgueirando-se por trás da criatura, quase a ponto de cair do penhasco. Desceu deslizando entre as raízes e pedras que rolavam morro abaixo, esfolando as calças e as pernas. Correu desesperado pela mata sem saber para onde ia, com todo o seu corpo tomado pelo pavor.

Ele queria sobreviver. Ele tinha que sobreviver depois de tudo o que passou desde o início daquela amaldiçoada saída em campo.

Suas pernas doíam a ponto de nem sentir mais onde pisava. Galhos e folhas arranhavam seu rosto enquanto descia, e embrenhava-se cada vez mais profundamente na Floresta Negra. Correu como nunca antes o fizera em sua vida. Até que, depois de um tempo, chegou à beira do rio turbulento.

Com os músculos doloridos de exaustão e a garganta seca e ofegante, olhou para trás e para o alto a ponto de ver o imenso dragão saindo da caverna, mergulhando em sua direção. Sem tempo para pensar em mais nada, correu desesperadamente pela borda do rio, como uma lebre que foge de uma faminta ave de rapina. Toda a sua vida passou pela sua memória, como alguém que encara o próprio momento da morte. Sentia tanta dor nos membros inferiores, que nem sentia mais as próprias pernas. Era como se elas corressem sozinhas, dado o desespero do jovem.

Quando pensou ser o seu fim, avistou a borda da cachoeira. Era pular ou morrer.

Olhando uma última vez para trás, viu Tiamat voando próximo, em sua direção. Em insano desespero e terror, respirou fundo e atirou-se lá de cima, sobre a lâmina d'água a vários metros de altura. 

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Caros leitores! Estamos cada vez mais próximos do desfecho e acontecimentos importantes estão por vir.

O que acontecerá com Lucas em sua fuga desesperada do dragão Tiamat?

Será este o fim definitivo do estagiário que sobreviveu ao massacre e às privações da floresta?

Acompanhe os próximos capítulos e descubra mais sobre o destino dos que desbravam a Floresta Negra!

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