Capítulo 11 - A CAVERNA ESCURA

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Lucas correu através da cortina d'água, para dentro de uma caverna escura. Seu corpo todo doía e mal sentia a ponta dos dedos. Procurou dentro da mochila por algo que pudesse iluminar o interior da gruta onde encontrara abrigo momentâneo. Acendeu uma lanterna e viu que haviam enormes baratas, bem como outros insetos asquerosos no local. Aquilo era nojento e um tanto insalubre.

Averiguou o lugar e pensou estar relativamente seguro, apesar do cheiro desagradável. A boca da caverna era suficientemente pequena para que o monstro não pudesse entrar. Ali, poderia descansar e pensar numa maneira de sair da Floresta Negra com vida. Apesar de tantas mortes trágicas, de certa forma, a sorte parecia estar ao seu lado.

O problema era que ainda sofria com a fome e precisava de proteínas. Olhou em volta e não havia nada palatável que pudesse comer. Vasculhou a mochila novamente até encontrar uma última barra de cereal. Ficou pensando como seria se tivesse tido tempo de pegar aquele peixe.

O fato é que nem louco ele se arriscaria em sair lá fora tão cedo. Não com aquele monstro devorador de olhos. Era muito improvável que após a matança dos pesquisadores mais experientes ele ainda estivesse vivo. Justo ele, o estagiário novato.

Por um breve momento, sorriu em meio aos seus pensamentos. "Charles Darwin estava certo: nem sempre sobrevive o mais forte." Ainda estar vivo ia contra todas as probabilidades matemáticas.

Um clarão brilhou da abertura, seguido de um estrondo que estremeceu toda a caverna. Em pouco tempo, uma chuva impiedosa caiu do céu, numa longa sinfonia de raios e trovões. O som ensurdecedor retumbava pelas paredes sólidas de rocha maciça. Aquela seria uma espera longa e difícil.

- Que merda! - resmungou. Seu joelho estava sangrando.

Aquilo piorava as coisas. A criatura era carniceira e o cheiro de sangue só iria atrair o monstro em sua direção. Ficou se culpando de novo, mentalmente, por não ter escolhido o estágio no laboratório de Botânica.

Plantas eram seres inofensivos, jamais teriam arrancado os olhos e devorado as vísceras do seu chefe de pesquisa. Se bem que algumas gotas do látex de uma Euphorbiaceae poderiam deixar qualquer um cego. Talvez, microbiologia fosse mais seguro. Só que pessoas morriam de infecção pulmonar caso aspirassem um fungo Aspergillus.

"Acho que ser professor é mais seguro" pensou consigo mesmo. Desde que não se deparasse com um dragão mortal ou um velho assassino numa floresta sombria.

Precisava limpar a ferida e fazer um curativo. Havia um pequeno kit médico de emergência junto com o equipamento, e então percebeu que carregar parte daquele peso todo não fora em vão. Lavou o joelho com água oxigenada e cobriu com gaze e esparadrapo. Por enquanto, aquilo resolveria o problema do cheiro e alguma possível infecção.

Decidiu ir até a boca da cachoeira e beber um pouco de água doce. Pegou um caneco da mochila e se dirigiu para a abertura, por trás da cortina de água. Enquanto coletava um pouco do líquido precioso, percebeu uma movimentação do lado de fora. Não dava para enxergar direito por causa da chuva, mas a cada clarão de raio parecia ver um vulto de uma pessoa se deslocando furtivamente entre as árvores da mata ciliar.

Lembrou-se do Velho Jon.

"Aquele velho bastardo ainda está vivo, em algum lugar lá fora!" Pensou.

Lucas estava com tanto medo que a pressão alta do seu sangue era seu estado normal nas últimas 24 horas. As pupilas dilatadas denunciavam a adrenalina que corria nas veias e artérias, enquanto se recolhia na escuridão da gruta por trás da cachoeira. Mesmo com o corpo exausto e dolorido, estava com medo de dormir.

Com o tempo, a tempestade aumentou e o barulho da queda d'água parecia ensurdecedor. O fluxo da correnteza havia aumentado, então sentiu que poderia ser perigoso passar a noite ali dentro. Mas era apavorante pensar em sair e ser atacado por um velho louco ou, na pior das hipóteses, devorado por um monstro alado gigante. O jovem sobrevivente estava num dilema.

Cansado, recostou-se numa pedra inclinada e suspirou, sentindo seus músculos doerem como facas afiadas furando-o até o esqueleto. Os minutos pareciam horas naquele buraco cheio de insetos, aracnídeos e lacraias venenosas. Seus olhos pesavam, mas logo se arregalavam a cada barulho ou clarão que iluminava a gruta.

Muitas horas tinham se passado quando finalmente fechou os olhos e apagou. Entregou-se a um sono sem sonhos, rodeado de sensações nauseantes e febris. Às vezes, sentia frio e dor. Em outras, a sensação de desespero, fuga e medo.

Lucas não sabe quanto tempo dormiu. Quando abriu os olhos, num novo clarão, viu um homem grande em pé, bem na sua frente.

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Aqui, vemos todo o conflito emotivo e psicológico que o medo, a privação do sono e a fome podem provocar em uma pessoa.

Quem será o homem que Lucas viu na caverna, ao acordar?

Como nosso protagonista sobrevivente vai conseguir superar os desafios impostos pela floresta?

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