I - O CAMINHO

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Era uma manhã de segunda quando ouvi o despertador tocar, marcando pontualmente 06:00 horas, lembro de pensar, por que estava fazendo aquilo mesmo? Já que as meninas da minha idade só queriam sair e se divertir, levantei e caminhei até o banheiro para fazer minha higiene matinal quando ouço uma voz no fim do corredor.

- Já ia acordar você, não pode se atrasar hoje doutora.
Sorri, olhei para trás e vi minha avó caminhando em minha direção.
- você que está atrasada velha, acordei primeiro - falei descontraída tentando fazê-la rir.
- Com certeza, por isso que você já fez o café não é mesmo? sua sem vergonha. Disse ela em resposta a brincadeira, completando - filha, velho é o mundo que não se sabe quantos anos tem.

Sorri e entrei no banheiro, tirei as roupas e já no chuveiro comecei a refletir sobre como cheguei até ali, uma moça de pele morena clara, com cabelos castanhos lisos e longos, 1,70 de altura, olhos castanhos claros e agora com 23 anos formada em medicina, era o dia do início da minha residência em cardiologia, só haviam duas vagas e uma delas era minha, não sabia o que me aguardava naquele hospital, mas estava demasiadamente feliz por ter conseguido chegar até ali diante de tanta dificuldade, meus pais haviam se separado quando tinha apenas 10 anos, minha mãe sumiu no mundo deixando 3 filhos para minha avó cuidar, meu pai ainda morava em casa mas era como ter um irmão, pois ele não chamava nenhum de nós de filho, morávamos em uma casa pequena com apenas 3 quartos, 1 era do meu pai e de qual quer mulher que ele resolvesse trazer pra casa, outro eu dividia com meus irmãos e minha avó dormia só, pois meu avô havia falecido a 09 anos.
Sai do banho e logo fui me vestir já que meus irmãos mais novos estavam tomando café para ir a escola, minhas roupas estavam sobre a cama, tinha as separado um dia antes para não perder tempo, minha avó fez o favor de passa-las para mim em quanto estava no banho, me vesti, caminhei até a cozinha e me juntei a todos na mesa.

- Helena você poderia ser gentil e passar a manteiga pra mim - Disse meu irmão do meio Arthur.
- O Fábio está mais perto - respondi com a cabeça escorada na mesa, quase dormindo novamente.
- Vocês são um bando de preguiçosos isso sim, Deus me livre depender de vocês para fazerem as coisas em casa, se não sou eu vocês dormem no meio do lixo e morrem de fome - Disse minha avó passando a manteiga para Arthur.

Tomei o café o mais rápido que consegui e corri para não perder o ônibus, lembro de pensar, será que todos os médicos que precisaram de faculdade pública ou que conseguiram bolsa em uma particular admitem que tinham que andar de ônibus? Ri dos meus pensamentos bobos quando me atentei que tinha esquecido meu estetoscópio, nossa que mancada logo no primeiro dia, mas não podia voltar para buscá-lo, então acabei indo assim mesmo.
Quando cheguei ao hospital logo me deparei com a cena de pessoas na fila de espera, era um hospital público, haviam muitas pessoas, todos a espera de um atendimento para encaminhamento de cirurgias, corri rapidamente para o centro cirúrgico pois já estava quase atrasada, assim que entrei no vestiário me surpreendi com a presença de uma mulher, nossa quem é essa? Tinha cabelos longos e negros, olhos puxados e escuros como os de uma japonesa, a pele pálida e límpida que nem a daquelas meninas ricas da minha faculdade que só entravam e saiam do carro, não pegavam sol algum, já estava vestida com as roupas privativas quando entrei, ela me olhou abriu um esplendido sorriso e logo disse.

- Bom dia!
- Bom... Bom dia! Eu disse ainda um pouco hipnotizada com tal beleza.
- Meu nome é Nayumi Kimura - Disse ela e sorriu novamente.
Seu sorriso é tão lindo - pensei.
- Meu nome é Helena, Helena Alcântara - Respondi tentando não parecer idiota.
- Bom, você deve ser a residente de Cárdio, parece que você está na minha equipe hoje, só faltava você chegar, vamos auxiliar em uma troca de válvula em um paciente de 63 anos então se prepare - Disse ela com a voz um pouco ansiosa porém firme.
- Ah desculpa mas eu esqueci meu estetoscópio pode me emprestar o seu se eu precisar, por favor? - perguntei na maior cara de pau.
- Você não vai precisar, hoje só vamos observar e depois ficar com toda a papelada - Respondeu ela com um tom baixo e logo depois saiu pela porta.

Troquei de roupa o mais rápido possível e fui me higienizar para só então entrar na sala de cirurgia.
Já com o paciente aberto na mesa, a cirurgiã que o operava me olhou e disse - Está atrasada senhorita Alcântara, espero que tenha estudado bem o procedimento, pois este atraso vai lhe custar pontos no relatório final.
Nossa, já cheguei levando bronca, olhei para o lado e vi aquela mulher linda com quem acabara de falar minutos antes no vestiário, estava junto ao anestesista, então é pra isso que é a sua bolsa - pensei.
A cirurgia durou quase 08:00 horas seguidas e enquanto isso a cirurgiã princital me bombardeava com perguntas e questionamentos, assim que o procedimento acabou sai da sala completamente exausta, Nayumi por outro lado me parecia tranquila e bastante acostumada com tudo aquilo.
Assim que saímos do centro cirúrgico, a mulher que me deu um "baile" tirou a máscara e assim eu pude ver que ela também tinha traços meio orientais, a mesma por sua vez veio caminhando em minha direção enquanto eu estava completamente paralisada pensando que havia dito alguma bobagem, ela parou a minha frente e disse.

- Olá, eu sou a doutora Kazumi Kimura, vou ser sua professora orientadora na sua residência, não me importo com o que você fizer na sua noite, mas preciso que esteja aqui no horário correto, eu não tolero atrasos e ao passar do tempo eu vou lhe repassando o que você deve fazer, assuma o prontuário do paciente e venha comigo dar a notícia a familia de que correu tudo bem no procedimento, assim que acabarmos você cuida da transferência dele com a enfermeira, depois pode ir pra casa descansar.
Kazumi Kimura, ela tem o mesmo sobrenome que a Nayumi, com certeza devem ser parentes! - refleti acompanhando Kazumi até a família do paciente que aguardava ansiosa na sala de espera.
Após darmos a notícia eles me pareceram muito alividos e felizes como esperado, tentei acabar a papelada antes das 18:00 horas, custava acreditar
que para transferir um paciente precisava matar tantas árvores.
Depois de todo aquele trabalho finalmente pode ir me trocar para ir para casa, tomei um banho no vestiário aproveitando que lá apesar de ser um hospital público tinha água quente, nossa que dia, só com uma cirurgia eu já estou assim, será que vou aguentar? Perguntei a mim mesma.
Na saída do hospital passei e vi Nayumi em pé perto do balcão da recepção, parecia esperar alguém, logo me aproximei.

- Quer uma carona doutora Kimura? - Perguntei com um tom sarcástico pois não tinha carro, aguardando o que ela iria dizer.
- Não obrigada, estou esperando minha mãe, já deve conhecê-la, pelo que eu vi, você que já estava quase precisando de uma cirurgia de tão nervosa naquela sala. - Riu enquanto olhava minha cara de surpresa e completou. - relaxa ela só faz isso pra assustar as pessoas, no fundo ela é boazinha você vai ver.
- Boazinha com você que é filha dela, acho que ela deve me odiar - sorri meio sem graça, esperando sua reação.
- Acho que não deveria te contar isso, mas entre os candidatos aprovados ela escolheu você, lembro de ela falando em casa de uma recem formada que teve as melhores notas na sua turma, que mesmo pela idade lhe parecia ser promissora, só não vá ficar se achando - Ela sorriu novamente, me presenteando com aquele sorriso lindo, que já fazia meu coração acelerar.

Me despedi com um boa noite e fui direto para a porta de saída, nossa que coisa, nunca penso em ficar com ninguém e quando me interesso por alguém ainda é a filha da minha preceptora, eu não tenho jeito mesmo. - refleti caminhando para a parada de ônibus.
Assim que cheguei em casa nem parei para contar como foi meu dia, passei direto para o quarto e pedi que ninguém me incomodasse até a hora de dormir, eu precisava estudar, ainda não me sentia totalmente segura quanto a alguns assuntos, sentei na mesa e comecei a tentar ler meus livros, porem só o que vinha a minha mente era a imagem dela, aquela linda mulher, eu precisava dela, eu queria ela pra mim.

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Deixem uma estrelinha se gostaram, beijos ;).

A conquista proibida (Romance Lésbico).Onde histórias criam vida. Descubra agora