VIII - VERDADES

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Assim que Nayumi me fez tal revelação, o silêncio pairou por alguns instantes, então ela finalmente se pronunciou novamente:
- Precisamos voltar, já passamos muito tempo aqui, alguém pode desconfiar de algo.

Ela levantou-se a minha frente e voltamos ao salão. Chegando lá, Kazumi pediu que fossemos almoçar todos juntos, porém eu tinha outro compromisso, então em uma reação inesperada Nayumi disse que eu a havia convidado para ir comigo, nós realmente precisávamos de mais tempo pra conversar, fomos em seu carro até a minha casa em um silêncio perturbador, eu sabia que não haveria ninguém lá, pois todos estavam no aniversário do meu primo Marcos, nós entramos e fomos até meu "quase quarto".
Eu a olhava nos olhos, realmente não esperava aquilo, não por ser uma coisa ruim, mas porque no momento haviam várias perguntas em minha mente. Como ela ainda podia ser virgem? Será que queria casar virgem por causa da religião? Ou ela não tinha encontrado a pessoa certa? Talvez só não quisesse fazer nada. Não tinha a resposta para nem uma daquelas perguntas no momento, só o que sabia era que precisava dizer alguma coisa.

- Nossa... - suspirei com um tom de surpresa.
- Você está bem? - perguntou ela, notando minha face.
- Não... Quer dizer, estou sim, é só que eu não esperava por isso. - respondi a ela, na tentativa de retomar o controle da situação.
- Isso é um problema pra você? - perguntou ela analisando minha reação.
- Não, de forma alguma, isso não é um problema, eu só acho um pouco incomum, você é tão linda, elegante, inteligente, me custa acreditar que ninguém tenha tentado... - tentei me explicar já quase sem saber o que falar.

Eu realmente estava me perdendo ali, não por haver algum problema, mas sim por nunca ter passado por uma situação dessa antes, eu só queria dizer a ela "está tudo bem, isso não importa". Ela suspirou com as minhas tentativas falhas de melhorar a situação e disse:

- Tinha uma pessoa... Na minha faculdade, o nome dela era Laura, nós sempre fomos muito amigas desde o início do curso, eu sempre pensava em desistir porque achava que estava fazendo medicina por pressão dos meus pais, mas Laura me fez ver que as coisas não eram bem assim, ela me mostrou que poder salvar pessoas era uma coisa pra se orgulhar, curar dores era uma forma de se sentir sem dor também, vendo a dedicação e a paixão dela pelo que nós fazíamos eu pude me apaixonar também, mas pra minha surpresa não era só por medicina que meu coração batia e sim por ela também.

Nesse momento pude ver Nayumi esmorecer.

- Olha, não precisamos conversar sobre isso se você não quiser... - falei tentando fazê-la se sentir mais confortável, porém logo fui interrompida.
- Eu quero falar sobre isso com você, porque quero ser sincera, não quero começar isso errado, não quero começar com mentiras. -  disse ela na tentativa de me passar segurança.
- E o que aconteceu com essa tal Laura? Vocês ainda estão juntas? Eu sou só um passa tempo pra você? Porque pelo que me parece você ainda sente muita coisa por ela. - me expressei de uma maneira eufórica.
- Não Helena, não diga essas coisas, acalme-se, eu não posso mentir pra você e dizer que não sinto nada por ela, eu não quero sentir, eu estava me perdendo, sem chão, vivendo só em pró do meu trabalho e nada mais, não tinha ânimo até que... - a interrompi.
- Até que, o que Nayumi? - Perguntei a ela com um olhar de fúria.
- Até que eu te vi naquele vestiário Helena, você parecia ser tão diferente, extrovertida, sem medo de encarar as coisas, tão segura do que quer, do que tem que fazer, no início eu achei que era coisa da minha cabeça, até que na noite naquele plantão eu pude perceber que tinha sim alguma coisa e que eu precisava me permitir sentir algo por alguém novamente. - disse ela tentando me fazer entender.
- E onde está essa Laura? - perguntei ainda com um tom de raiva.
- Está em Portugal, casada com nosso professor de Anatomia, quando finalmente aceitei e tomei coragem para dizer o que sentia já tinham se passado 4 anos de curso, ela por sua vez retribuiu meu amor, eu vivi um conto de fadas por quase um ano, mas eu ainda era covarde demais para me permitir dormir com ela, eu fui criada em um mundo onde isso é um pecado mortal, covarde para poder assumir o que sentia por ela para meus pais, então um dia, Laura disse que precisava conversar comigo, disse que me amava e por isso precisava me deixar, eu não entendi nada, implorei a ela que não me deixasse, mas foi em vão, meses se passaram e a barriga dela começou a aparecer, ela estava grávida e assim que todos descobriram quem era o pai, foi um escândalo, e eles se mudaram para Portugal antes que ela pudesse terminar o curso e ele fosse processado.

A essa altura eu já não sabia mais como proceder, não sabia mais o que falar, si é que ainda tinha algo a ser dito. Nayumi me olhou firme nos olhos e voltou a se pronunciar:

- Helena eu vou entender se você quiser ir embora e não me dirigir mais a palavra, mas saiba que eu não vou desistir de você, eu não quero mais ser covarde Helena.
- Obrigada por ser sincera comigo... - agradeci a ela retribuindo o olhar e completei: - eu também tenho uma coisa pra falar, já que estamos sendo tão sinceras.
- Diga, eu quero ouvir você. - atentou-se ela a minha pronuncia.
- Sua mãe pediu pra eu me aproximar de você, para lhe vigiar e que reportasse todos os seus passos para ela. - revelei sem rodeios.
- O que? Helena o que está me dizendo? - perguntou ela, pasma com a situação em um tom alterado.
- Calma, antes que você diga qualquer coisa eu ainda não aceitei, nós conversamos na noite que você saiu correndo depois de me deixar naquele vestiário sem entender nada do que tinha acontecido, ela me levou pra jantar, disse que se eu fizesse o que me pediu me daria um emprego fixo no Guadalupe.
- Então você se aproximou de mim só por causa de um maldito emprego Helena? - perguntou ela já eufórica.
- Claro que não Nayumi, ela é minha supervisora, o que queria que eu fizesse? - alterei a voz tentando fazê-la entender.
- Não acredito que minha mãe tenha coragem de fazer algo que vá prejudicar você. - respondeu ela ainda sem aceitar a situação.
- Nayumi, ela deixou bem claro o que iria fazer e além disso se não for eu vai ser um detetive particular, eu só quero que entenda que eu jamais faria isso, mesmo que eu tenha que mudar de hospital. - tentei argumentar e completei: - Ela é sua mãe, com certeza tem os motivos dela pra fazer isso, acho um pouco de exagero, mas "mãe é mãe", pelo menos é isso que minha avó diz.
- Ela pode até ter motivos, mas não tem o direito de controlar a minha vida dessa maneira! - exclamou ainda furiosa.
- Nayumi não julgue a sua mãe, ela ama você, não disse isso pra te fazer ter raiva dela, só peço que tente entender. - tentei passar tranquilidade.
- Quando você tem que dar a resposta a ela? - perguntou.
- Acho que ainda hoje, por que? - respondi com outra pergunta, sem entender direito o que se passava.
- Eu quero que aceite. - respondeu ela firmemente.
- Nayumi você está louca? Se sua mãe descobre o que nós temos ela vai ficar furiosa e eu não desejo um relatório final de uma pessoa que está furiosa comigo. - tentei argumentar novamente.
- Ela não vai descobrir se você fizer tudo direitinho, ela acha que pode controlar minha vida, eu não quero isso, aceite o que ela pediu a você, você só precisa omitir algumas coisas. - falou olhando-me ardilosamente.
- E o que exatamente você quer que eu omita? - perguntei.
- Que está tento um caso com a filha dela por exemplo. - respondeu ela fazendo um leve carinho em meu rosto.
- Isso me parece muito perigoso, mas acho que posso ver como um feito por uma boa causa, afinal pelo que eu sei não estamos fazendo nada de errado! - Exclamei.
- Quero ficar com você Helena, não sei onde isso vai chegar, mas no momento eu só quero viver. - Ela me olhou e começou a me beijar levemente.

Nesse momento minha cabeça não sabia se embarcaria naquela loucura, porém cada vez mais ela ia me envolvendo naquele beijo, então em um impulso confirmei:
- Como você quiser Dra. Kimura.

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A conquista proibida (Romance Lésbico).Onde histórias criam vida. Descubra agora