III - A NOITE

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Já passara das 19:00 horas quando finalmente cheguei ao Guadalupe, é um hospital realmente bonito, com a entrada toda vidrada, uma pequena praça onde as pessoas podem relaxar e conversar enquanto esperam seus familiares, sem falar que me parecia oferecer todo tipo de atendimento, desde uma urgência a um tratamento rigoroso para câncer, identifiquei-me para os seguranças na entrada e caminhei direto ao pronto socorro, me sentia renovada e tão feliz por estar ali, assim que entrei uma jovem atendente me direcionou para qual consultório deveria ir, fiquei no consultório 3 de 19:30 até por volta das 21:40, se atendi 4 pacientes foi muita coisa, nada de tão grave, só uns resfriados e dores na cabeça, quando ouço alguém bater suavemente na porta.

- Pode entrar – Disse enquanto tentava achar Nayumi no Facebook pelo celular.
- Boa noite Dra. Helena, pensei que nem tinha chegado ainda.
Aquela voz, na mesma hora eu fiquei paralisada, Estava ciente de que precisava encara-la, mas estava tão nervosa, tomando coragem em um impulso olhei para ela sorri e disse.
- Boa noite Dra. Kimura, você está linda hoje. – Nossa eu precisava me controlar.

Ela estava tão linda com uma blusa com gola-laço branca, uma calça social feminina preta e um salto não muito alto, mas o suficiente para deixá-la com uma linda postura, aqueles lábios que eu queria tanto, seu cheiro tão doce, foi perceptível quando ela recebeu o elogio e suas bochechas começaram a rosar, acho que ficou um pouco envergonhada então eu tentei retomar o controle de mim mesma. 

- Obrigada, você também está bonita. – Disse ela um pouco sem jeito com a situação.
- Sua mãe me deixou passar anoite aqui para poder ter um pouco mais de experiência em pronto socorro, mas até agora eu só atendi classificações verdes. – Tentei desviar o assunto.
- Sim, Hoje está meio parado, você pode me chamar só pelo meu nome se quiser, não precisa ser tão formal. – Falou com a voz mais tranquila.
- Acho seu sobrenome bonito, se não se importar prefiro assim. – Argumentei.
- Como você preferir, vim aqui dizer a você que temos 30 minutos para comer alguma coisa, depois vão os outros dois médicos e já que você está aqui por causa da minha mãe quero que vá comer comigo, aproveito e te mostro o lugar, o que acha?. – perguntou ela.
- Claro, então vamos, eu nem lembro qual foi a última vez que eu comi mesmo. – Respondi sorridente e feliz por finalmente poder estar com ela.

Nós nos direcionávamos ao refeitório e eu reparava em cada gesto dela, como caminhava elegantemente, na maneira que falava e se empolgava contando algumas histórias de quando ainda estava na academia, quando sorria e meu coração acelerava de uma forma que era quase impossível disfarçar, enquanto comíamos decidi que não esperaria que algo acontecesse, que iria descobrir o gosto do beijo dela, afinal o não eu já tinha, não é mesmo?, agora precisava ir atrás do sim.
Como aparentemente haviam poucos pacientes e o plantão estava calmo revezavamos o descanso com os outros dois médicos, tendo como divisão de horários de 00:00 as 03:00 e de 03:00 as 06:00, como tínhamos que estar em outro hospital logo cedo decidimos ir no primeiro intervalo, fomos para o dormitório onde havia duas beliches, comecei a pensar como seria bom se ela descesse da cama de cima onde estava e começasse a me beijar, queria tanto tocar sua pele e ouvi-la suspirar, não tinha ninguém além de nós lá, tentei evitar imaginar mais cenas ao máximo que pude, nossa, dormi que nem uma pedra, quando o despertador tocou meu único pensamento era de ignora-lo, quando consegui levantar não vi Nayumi, corri para me higienizar e logo desci para o pronto socorro novamente, já que o dormitório ficava no andar de cima, ela já estava lá quando cheguei, parecia um pouco impaciente, sentada em uma das cadeiras do posto de enfermagem, afinal não havia paciente algum, tinha um olhar vago parecendo estar em qualquer outro lugar menos ali, logo me aproximei tentando chamar sua atenção.

- Dra. Kimura, me conte como você consegue ser tão pontual assim? Parece que não gosta de dormir. – perguntei tentando puxar assunto.
- Depois de um tempo você se acostuma, tenho esse comportamento desde pequena, aprendi com meus pais e vendo meu irmão fazer o mesmo. – respondeu ela ao meu comentário, educada como sempre.
- Interessante, deve ser bom ser filha de uma brilhante cirurgiã como é a sua mãe, deve ter sido mais fácil pra você se tornar médica já tendo uma base. – Argumentei tentando manter o interesse dela no diálogo.
- Bom na verdade eu não tive muita escolha, é um pouco complicado manter uma opinião contrária quando todos da sua família são cirurgiões e você precisa aprender a comandar um hospital. – Disse ela rindo bastante e meio sem graça.
- Como assim comandar um hospital? – perguntei a ela um pouco apreensiva.
- Este aqui! – respondeu ela suspirando logo após.
- Nossa então vocês são a família dona de todo esse império? – Perguntei um pouco abismada.
- Sim, mas me fala de você, estou curiosa, não sei nada ao seu respeito e você também não comenta. – comentou ela, logo após me olhou fixamente, deixando-me quase sem ar.
- Bom, eu não tenho um hospital. – Disse de uma forma descontraída fazendo com que ela risse, e assim continuei a conversa. – Eu tenho 23 anos, moro com minha avó meu pai e meus irmãos, consegui me formar na faculdade pública e agora que estou começando minha vida, eu só quero poder trabalhar e dar uma vida melhor pra minha família, esse é meu objetivo.
- Muito nobre o seu objetivo, eu admiro isso, mas é sua mãe? – Perguntou já mais interessada na conversa.
- Bom ela sumiu quando eu tinha 10 anos e nunca mais voltou! – respondi a ela, com pouca vontade.
- Nossa, me desculpe eu não quis... – ela argumentou tentando se desculpar porém logo a interrompi.
- Que nada, deixa disso, eu não me importo muito com esse assunto, já sua mãe hoje de manhã me falou do seu pretendente, acho que o nome é Victor não é? – A interrompi e logo aproveitei a sua vulnerabilidade para perguntar do suposto namorado.
- Ah eu o conheço desde o ensino médio, ele é um bom amigo pra mim, sempre foi, mas no momento eu não estou interessada em ninguém e mesmo se estivesse ele é como um irmão pra mim, não vejo ele dessa forma. – respondeu ela espontaneamente.
- Mas com toda essa beleza eu tenho certeza que devem ter vários como ele na fila de espera até você decidir namorar alguém. – insisti no assunto quando percebi suas bochechas rosarem novamente.
- Na verdade se eu for parar pra pensar, acho que nunca tive um namorado na vida. – respondeu ela desviando levemente o olhar para cima.
- Isso não pode ser verdade deve ter sim algum menino que tenha mexido com esse coraçãozinho ai. – brinquei ainda interessada no assunto.
- Não me lembro de ter me interessado por nenhum garoto a ponto de querer ter algo sério, eu não costumo pensar muito nisso, além do mais minha família é muito rigorosa com isso, tem várias questões envolvidas inclusive a nossa religião, aliás você poderia vir no domingo, vamos fazer uma missa do mês e vai haver algumas apresentações, acho que iria gostar. – Disse ela me fazendo um convite que pra mim seria irrecusável.
- Sim, claro, eu venho sim, eu posso dar meu número para você e acertamos direitinho os detalhes. – falei tentando parecer o mais simples possível.

Ela Salvou o meu número e logo nos demos conta de que já haviam pacientes a nossa espera, então fomos fazer o nosso trabalho, após o término do plantão, Nayumi veio até mim e perguntou se eu iria até a garagem, pediu para que eu a esperasse, quando logo lhe disse que não tinha carro.

- Então como pretendia me dar carona outro dia? – Perguntou ela rindo da situação.
- Existe um aplicativo que permite a você chamar um carro particular para usar de transporte, não sabia?   – Respondi a ela sarcasticamente.
Então um pouco surpresa ela riu e disse: - você é muito idiota sabia?
- Sabia! – afirmei rindo bastante.

Ela por sua vez sem pensar duas vezes me ofereceu uma carona, afinal íamos para o mesmo local.

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Deixem uma estrelinha se gostaram, beijos ;).

A conquista proibida (Romance Lésbico).Onde histórias criam vida. Descubra agora