II - A MÃE

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Acordei mais cedo naquela manhã de terça feira, na verdade eu mal consegui fechar os olhos tentando estudar, estava muito ansiosa para chegar ao hospital e poder ver Nayumi novamente, passei pela mesma rotina de sempre desde a higienização matinal a pegar o ônibus para o hospital, cheguei antes dos plantonistas da noite que ficam até as 07:00 irem embora, dei bom dia ao porteiro e me dirigi ao vestiário, ao chegar lá notei que Nayumi havia deixado seu jaleco em um dos cabides, fiquei observando-o lembrando de como ela fica elegante e sexy nele, só não entendi porque ele estava ali, será que ela havia esquecido? – pensei, após colocar as roupas privativas, corri até o quadro de mapa cirúrgico para ver em quais cirurgias ela estaria e para minha surpresa, em nem uma.
- Nossa não acredito que ela não vem hoje, será que aconteceu algo? – Falei em um tom baixo como se estivesse conversando comigo mesma, quando ouço uma voz familiar.
- Não precisava acordar antes do galo doutora Helena, só precisa chegar na hora. – Kazumi falou em um tom sarcástico enquanto assinava uns papéis no balcão do posto de enfermagem.
- Bom dia doutora Kazumi, eu não consegui dormir, me senti mal pelo atraso de ontem então decidi levantar mais cedo do que de costume.– sorri sem graça.
- Isso é ruim – Disse ela ainda lendo e assinando os tais papéis.
O que essa mulher quer afinal?, se eu chego tarde ela me arrasa, se eu chego cedo ela me arrasa do mesmo jeito.– pensei.
Ela colocou os papéis em uma gaveta se aproximou de onde eu estava, começou a encarar o quadro, suspirou e disse.

- Temos um dia cheio hoje, deve estar muito ansiosa mesmo para já chegar e vir direto olhar isso, primeira lição de hoje minha jovem, você precisa entender que cada minuto importa, seja dormindo, porque está exausta e esse minuto irá contar na hora que você estiver com um paciente naquela mesa, talvez ele precise desse minuto que você não dormiu para poder acordar, ou de um minuto que você deixou de comer para poder fazer outra coisa que não era mais urgente, por conta de ansiedade ou desleixo, o paciente precisa que você esteja bem para que ele possa ficar bem, cada minuto importa, entenda isso, venha tomar um café pra começarmos o dia direito.
Dito isso ela deu-me as costas, se dirigiu até a saída para ir ao refeitório presumi, porém antes que ela desse o terceiro paço, não me contive e perguntei sem nem pensar direito.

- Doutora Kazumi, por que o nome da doutora Nayumi não está no quadro? Ela desistiu da residência? – perguntei-lhe já esperando uma resposta não muito agradável, mas eu precisava saber, porque ela não poderia faltar.
- Claro que não, ela está no hospital Guadalupe, tivemos um pequeno imprevisto com um familiar de um anestesista, por conta disso ele não pode comparecer ao trabalho hoje, então pedi para o cirurgião responsável por ela que a liberasse daqui hoje, ela terá um relatório assinado para justificar a falta, mas por que todo esse interesse em relação a Nayumi? – Perguntou com um tom de desconfiança.
- Não... Nada é só que ela foi gentil comigo no outro dia, então eu gravei o nome dela e achei estranho não estar no quadro, só isso. – Sorri completamente sem graça e sem saber o que fazer.
- Bom, ela tem essa mania de ser gentil com as pessoas, dever ter herdado do pai, eu por outro lado acredito que isso seja inocência da parte dela, mas você está atrapalhando o meu café com essa conversa sem sentido sobre minha filha, venha comigo ou vai ficar sem o café. – Disse ela logo virando as costas novamente e caminhando até a porta.
Andamos aqueles longos corredores sem trocar uma palavra, porém algo vinha martelando em minha mente. Podia ser pior não é mesmo? Pelo menos ela não me disse “Não te interessa.”, esse hospital Guadalupe, tenho uma amiga que trabalha na farmácia de lá, já ouvi falar muito desse lugar, que é um hospital muito religioso e rígido, com as mais altas notas em acreditações e que agora recém reformado estava fazendo os outros hospitais perderem muitos contratos de planos de saúde, os donos eram rígidos e vinham de uma longa linhagem de cirurgiões, porém eu, só estava triste por não poder ver Nayumi hoje, agora sabendo que ela é gentil e meiga, só há vi um dia e já estou tão dependente do seu sorriso, o que está acontecendo comigo?
Assim que chegamos no refeitório, Kazumi e eu pedimos o café e logo fomos nos sentar em uma mesa, só ai então ela decidiu me dirigir a palavra novamente.

- Hoje você não ficará com Nayumi. – Disse ela tomando o primeiro gole de café.
Logo eu já com o líquido da boca acabei me afogando de leve com sua fala.
- Mas o que você quer dizer com isso? – perguntei-lhe um pouco aflita.
- Você acompanhará Victor que é outro anestesista residente, você está bem? – ela perguntou logo depois de perceber tinha me afogado com o café.
- Há sim, não tenho problema algum com isso, posso trabalhar com diferentes pessoas, se elas por sua vez conseguirem fazer o seu trabalho de forma adequada. – respondi firmemente.
- Bom estar ciente disso, pois ele é um excelente homem, do tipo que eu quero pra minha filha, porém ela não me parece muito interessada no momento, só pensa em terminar os estudos da residência e esquece que tem que me dar netos. -  Disse ela já acabando seu café.
- Ainda bem. - expressando um certo alívio acabei pensando alto, porém logo corrigi dizendo.
- Quer dizer, ela está certa por prezar se tornar uma profissional excelente em primeiro lugar.
- Talvez, mas vamos logo, já demoramos tempo demais aqui e eu não quero me atrasar como você! – respondeu ela já se levantando da cadeira.

Me levantei e a segui, passei o dia inteiro em cirurgias demoradas, com aquele cara chato, assim que Kazumi nos apresentou ele me pareceu simpático, porém logo depois pude perceber sua arrogância ao falar com os funcionários e seu olhar de desprezo para tais, como se ele fosse uma espécie de Deus.
Após o término da segunda cirurgia do dia que eu esperava que fosse a última, o celular de Kazumi tocou e logo pude perceber quem era, ela falava com Nayumi, como eu queria está recebendo aquela ligação, sua expressão não parecia ser muito boa quando ela desligou o telefone.
- Isso não está acontecendo! – Kazumi suspirou levantando seus dedos indicador e médio de ambas as mãos até suas fáscias temporais, fazendo um movimento leve de rotação, tentando dispersar alguma espécie de incômodo.
- Aconteceu algo de grave? – perguntei já preocupada com algo que poderia ter acontecido com a mulher por quem meu coração batia forte naquele momento.
- Nada demais, vou precisar ficar no Guadalupe hoje, parece que um dos plantonistas do pronto socorro, do noturno passou em um concurso para outro estado e precisa se apresentar amanhã, pegou o primeiro vôo logo depois de avisar que não ia trabalhar hoje. – Ela me respondeu murmurando com a voz muito cansada, respirou e completou. – Nayumi já está escalada lá algumas noites e meu marido está com meu filho fechando uns contratos com novas chefias, parece que eu mesma vou ter que cobrir esse ingrato.
Aproveitando que ela estava cansada eu meio sem pensar direito por também está exausta, lhe fiz a pergunta que poderia me dar a chance que eu precisava.
- Eu posso ir no seu lugar, estou vendo o quanto a senhora está exausta e além disso eu posso aprender mais coisas e não estive em um pronto socorro desde a minha formação na faculdade, vai ser um ótimo reforço pra mim, prometo que não vou fazer besteira, mas isso se a senhora concordar é claro. – Quando me dei conta já tinha falado tudo aquilo e nem sabia se tinha forças ainda.
- Não sei, você também me parece esgotada. – Falou com um tom de desconfiança quanto ao meu pedido.
- Você mesma disse que cada minuto importa, não é mesmo doutora? E você parece precisar disso. – Novamente falando sem pensar, a única coisa que me movia era a vontade de ver novamente o sorriso de Nayumi.
- Você é bem esperta, pode ir então, mas esteja aqui pontualmente, quero ver essa disposição toda amanhã às 07:00. – Com um tom sarcástico ela me respondeu e riu.
Liguei para casa e disse que teria que dar um plantão extra em outro Hospital, dei a desculpa de que precisava de experiência e isso seria uma excelente oportunidade, o que não era toda uma mentira, eu estava com um sorriso bobo é muito ansiosa para ver Nayumi, finalmente eu iria vê-la, mesmo que por pouco tempo, mas eu estaria lá, tomei um bom banho no vestiário troquei de roupa, passei quase o meu perfume inteiro e fui até o hospital Guadalupe.

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Deixem uma estrelinha se curtiram esse capítulo, beijos ;).

A conquista proibida (Romance Lésbico).Onde histórias criam vida. Descubra agora