T5

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Baekhyun dormia serenamente na minha cama, todo encolhidinho em posição fetal. Parecia um anjo, parecia tão inocente. Mas ele não era, sua inocência fora roubada há muito tempo. Enquanto eu o observava dormir, desejei saber o segredo de apagar mentes. Eu apagaria cada momento da vida dele que constituíram aquela pessoa que ele é hoje. Eu cataria todos os pedaços da sua inocência e a restauraria. Como deveria ser o Baekhyun de mente limpa? Com certeza uma pessoa diferente. Talvez uma pessoa que jamais me maltrataria como ele fazia antes.

Mas eu não sabia apagar memórias. Me restava ajudá-lo a superar as coisas ruins. Ele nunca mais seria a pessoa que um dia já foi, e eu tinha que aceitar isso. Eu estava me apaixonando com todas as forças. Me apaixonando de verdade. Talvez seja apenas porque ele foi o único que me tocou – mesmo que por algum motivo egoísta – e que tentou me enxergar além do meu físico. Seja lá o que fosse, era forte e crescia.

Ousei em deitar ao lado dele na cama para observar mais de perto. Assim que sentiu a minha presença ele abriu os olhos e tentou sorrir, mas gemeu de dor ao mexer as pernas. Pensei em perguntar como ele estava se sentindo, no entanto, uma abordagem melhor me ocorreu.

– Você é tão, mas tão bonito. – Eu admirava suas feições, assustado ao ver tão de perto. – Como podemos estar no mesmo lugar e contemplarmos imagens diferentes? Eu olho o paraíso enquanto você olha o inferno.

Droga, eu sempre parecia um vitimista. Mas eu era mesmo muito feio e tinha vergonha quando ele me olhava.

– Para, Chanyeol. Você deve ser a pessoa mais linda que conheci. Você possui a beleza mais preciosa de todas: a bondade. – Seus dedinhos finos tocaram o meu rosto. Ele não teve nojo de tocar a minha pele espinhenta. – Eu não quero ver um modelo na minha frente, quero ver um homem bom.

– Eu não sou nenhum santo, tenho um gênio ruim às vezes.

– Mas é bom para mim, isso já basta.

Tornamos a ficar em silêncio, um olhando para o outro. Minha mão procurou a sua em meio às cobertas e entrelacei meus dedos aos dele. Senti meu corpo inteiro formigar, e o meu corpo parecia flutuar em um ambiente sem gravidade. Em minha mente a música The Blower's Daughter começara a tocar, suave como um mantra.

I can't take my eyes off you

I can't take my eyes off you

Eu fantasiava aquele momento em minha mente. Podia imaginar pétalas de flores caindo sobre nós e um gramado verde e fofinho no lugar do meu colchão. Eu podia ver as asas douradas nas costas dele, e em seus olhos aquela pureza que um dia já tivera. Ele era o meu namorado, não existia mais Jongin ou Sehun, só ele e eu. Ninguém podia tocar nele, ninguém podia feri-lo. Éramos plenos.

A minha fantasia foi desfeita quando vi uma lágrima escorrer pelos olhos dele, pingando no meu travesseiro. Sua tristeza foi tudo o que eu consegui ver a partir de então.

– Não chore, anjo. – Usei um beijo para secar a lágrima, pois eu não queria soltar a mão dele. – Se continuar chorando, vou beijar todas as lágrimas que caírem.

Seus lábios deram uma leve tremida e ele chorou um pouco mais. Honrei minhas palavras beijando cada lágrima que escapava. Eu queria curá-lo com amor, mas acho que sua ferida era profunda demais para isso.

– Me desculpe... – disse ele depois de um tempo. Parou de chorar, mas era notável que se segurava. – Eu não devia ter pedido para que visse aquilo. Eu não sei o que deu em mim. Achei que talvez...

– Que talvez...?

– Que talvez você se excitasse.

Fiquei um pouco assustado, mas logo entendi onde ele queria chegar.

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