C16

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Parei em frente à casa de Kris. Eu estava tão nervoso que arranhei a lateral do meu carro em um hidrante e o estacionei todo torto. A casa tinha dois andares, mas era simples, com um portão de madeira e uma escadinha. Abri o portão com a chave que Luhan me deu, fiz o menos barulho possível. Ao subir os poucos degraus da escadinha, senti um cheiro muito gostoso de comida, e também o chiado de uma panela.

Ao fim da escada, cheguei a uma pequena varanda e a porta de entrada. Havia vários sapatos ali, inclusive sapatos de estudantes. Enfiei a chave na fechadura com a mão muito trêmula. Eu não podia imaginar o que estava acontecendo. Não pode ser que meus melhores amigos tenham me engando de tal maneira. Eles não.

Abri a porta sem fazer barulhos, e o cheiro de comida chinesa invadiu o meu nariz. Parecia frango xadrez ou algo com molho de ostra. Não havia ninguém na sala, que era o primeiro cômodo. Mas não deixei de notar duas mochilas azuis com a logo de uma escola não muito longe, e alguns livros de matemática e história espalhados pelo tapete. Kris não estudava. Então de quem eram aqueles materiais escolares?

Minha resposta veio a seguir, e eu nem precisei vasculhar o resto da casa. Um garoto vestindo calça social e blazer escolar entrou na sala, mas parou no meio do caminho quando me viu. Seus olhinhos pequenos se arregalaram de medo, e eu custei a reconhecer...

Era Jisung. Muito diferente da foto porque estava crescido. Na verdade, ele era muito alto.

Ele e eu ficamos um bom tempo em estado de choque, apenas encarando um ao outro. Até que Kris entrou em cena. Ele vestia um avental cor-de-rosa cheio de babados e estava com uma espátula de pegar macarrão nas mãos.

– É para lavar as mãos com sabo... – Kris parou de falar quando me viu. Ele deixou a espátula cair no chão, e por um momento nós três ficamos em choque apenas nos encarando.

Mas minha onda de revolta me despertou primeiro do que ele.

– Wu Yifan... que porra é essa? – Eu fui me aproximando, e ele dando passos para trás. – Por que esse garoto está na sua casa?

– P-p-p... Chan-cha-chan... – Kris só sabia gaguejar.

– Diz que é mentira. Você não o escondeu esse tempo todo...

Acho que Jisung ficou com medo de mim, pois se escondeu atrás de Kris.

– N-não é o que está pensando!

– Como não? – gritei. – Esse menino foi dado como desaparecido e está agora na sua casa! E você não me contou porra nenhuma!

Meus gritos fizeram Jisung se agarrar à cintura de Kris. Embora fosse grande, ele parecia um menino de 10 anos.

– Me desculpe, Chanyeol! – Kris estava tão nervoso que seus lábios tremiam. – Eu não podia te contar. Vou te explicar tudo, só fique calmo.

Kris me puxou pelo braço e me guiou até sua cozinha, onde havia mais um menino da idade de Jisung. Este eu nunca tinha visto na vida.

– Meu Deus, Kris! Você é um raptor de adolescentes?! – Eu estava desesperado.

– Não! – O idiota riu. – Este é Chenle, meu sobrinho. Ele mora comigo.

– Eu não sabia que seu sobrinho morava com você. – Ele tentou me fazer sentar à mesa, mas continuei de pé. – Achei que fôssemos amigos.

Kris tirou o avental, se aproximou de mim e apertou meu ombro.

– Me perdoe por esconder ele de você, mas havia algo em jogo. A vida dele estava em jogo. Eu não podia contar e arriscar tudo.

Eu estava com muita, muita raiva. Minha respiração estava pesada e eu me controlava para não dar um soco nele.

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