capítulo 18

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Passava um pouco das três horas da manhã quando Liam ouviu um carro chegando. Ele chegara a dormir um pouco, mas tivera sonhos. Sonhos maus, onde se viu de volta em um daqueles cômodos fedorentos em que as paredes manchadas, mais finas do que papel e deixavam todos os sons passarem através delas.

Sons de sexo. Grunhidos, gemidos, camas rangendo e a gargalhada assustadora de sua mãe quando estava drogada. Reviver aquilo, ainda que apenas em sonhos, o deixou suado. Às vezes ela entrava no quarto dele quando precisava de conforto e dormia sobre o sofá bolorento. Se estivesse com bom astral, seria capaz de sorrir para ele e lhe dar alguns abraços apertados, acordando-o de um sono eternamente interrompido para trazê-lo de volta aos cheiros e sons do mundo para o qual ela o arrastara.

Se estivesse de mau humor, ela iria soltar palavrões e bater em seu rosto para depois, muitas vezes, acabar sentada no chão, chorando sem parar.

De qualquer jeito, aquilo representava para ele mais uma noite miserável.

O pior, porém, centenas de vezes pior, era quando um daqueles homens que ela levava para cama saía do quarto dela de mansinho, entrava no quarto entulhado em que ele dormia e tentava trocá-lo.

Não aconteceu com muita frequência, e quando ele acordava aos berros, dando socos para todo lado, aquilo os fazia desistir. Mas o medo morava dentro dele como um demônio vermelho. Ele aprendera a dormir no chão, atrás do sofá, quando ela trazia um homem para casa.

Daquela vez, porém, Liam não acordara do pesadelo para encarar algo pior. Tentou tirar a mente para fora do sonho que o deixou encharcado de suor e se viu sobre os lençóis limpos, com um cãozinho que dormia todo encolhido ao seu lado.

Chorou um pouco, porque se sentiu sozinho e não havia ninguém a quem procurar. Então se enroscou no cãozinho, sentindo-se mais calmo pelo suave e compassado respirar do cachorro e seu pêlo macio. O som do carro chegando o impediu de mergulhar novamente no sono.

Seu primeiro pensamento foi: É a polícia! Eles haviam chegado para levá-lo dali, carregá-lo para longe. Então disse a si mesmo, enquanto o coração pulava tanto, que parecia chegar à garganta, que ele estava raciocinando como um bebê. Mesmo assim, saiu da cama sem fazer barulho e foi, pé ante pé, até a janela para olhar.

Ele já havia preparado um esconderijo para o caso de precisar de um.

Era o Corvette. Liam disse a si mesmo que teria reconhecido o som do motor se não estivesse semi acordado. Viu Stiles saltar e ouviu assobiar baixinho, parecia satisfeito. Feliz.

Deve ter ido cutucar e transar com alguma mulher, decidiu Liam com um ar de escárnio. Os adultos eram tão previsíveis. Quando se lembrou, porém, de que Stiles havia saído para jantar com a assistente social, seus olhos se arregalaram e seu queixo caiu.

Caramba, puxa, cara!, Pensou ele. Stiles andava transando com a Srta. Martin! Aquilo era tão… esquisito. Tão esquisito que ele não sabia nem como se sentir a respeito. Uma coisa era certa, compreendeu ele enquanto Stiles continuava a caminhar em direção às porta: Stiles estava se sentindo muito bem e parecia todo prosa a respeito daquilo.

Ao ouvir a porta da frente se fechar, foi se esgueirando até a entrada do quarto. Queira dar uma espiada rápida, mas, quando ouviu o som de passos subindo a escada, mergulhou de volta na cama. Só para garantir.

O cãozinho ganiu baixinho, começou a se mexer e Liam fechou os olhos bem apertados enquanto a porta se abria.

Quando os passos se aproximaram lentamente na direção de sua cama, seu coração começou a martelar no peito. O que é que ele ia fazer?, Pensou, já sentindo um pânico doentio. Deus, o que ele ia fazer? Cãozinho começou a abanar o rabo com força sobre a cama, e Liam se encolheu ainda mais, à espera do pior.

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